A cena mais importante de Moonlight: Sob a Luz do Luar, filme dirigido e escrito por Barry Jenkins, é justamente aquela que explica o título do longa, na qual Juan (Mahershala Ali, numa performance vencedora do Oscar 2017 de Melhor Ator Coadjuvante) explica para Little (Alex R. Hibbert) o momento em que ele decidiu a pessoa que ele iria ser. Little ainda não conseguirá entender a mensagem de Juan, devido à sua pouca idade, mas o que ele quis dizer é que nunca devemos nos deixar levar pelo olhar que os outros possuem sobre nós, e sim nós que devemos decidir a maneira pela qual os outros devem nos enxergar.
Essa cena diz muito também sobre a trama de Moonlight: Sob a Luz do Luar. Por meio dela, acompanhamos a jornada de crescimento de Little/Chiron (Ashton Sanders)/Black (Trevante Rhodes) nas três fases mais importantes – digamos assim – da sua vida: a infância, a adolescência e a vida adulta. É interessante perceber que as três fases da existência de Chiron possuem elementos bastante comuns, com os quais ele terá que lidar recorrentemente, como a falta de um ambiente familiar sólido; a mãe (Naomie Harris, em atuação indicada ao Oscar 2017 de Melhor Atriz Coadjuvante) viciada em drogas; a tentação do mundo da criminalidade; o bullying na vida escolar e a repressão da sua sexualidade e de sentimentos básicos como a raiva, a dor, a tristeza.
Todo esse background será fundamental para o homem no qual Chiron se transformou e que se apresenta a nós no terceiro capítulo de Moonlight: Sob a Luz do Luar. Ao emular a grande figura masculina que teve em sua vida (Juan) e ao modificar seu físico por completo, Black pode ter resolvido boa parte de seus problemas; entretanto, para ele se tornar alguém de verdade, ele tem muitas coisas no seu lado íntimo para trabalhar. Por isso mesmo, o final aberto do filme nos deixa com a sensação de que, talvez, Black esteja pronto para enfrentar os seus medos mais íntimos, se enxergando de verdade, como a pessoa que ele verdadeiramente é.
Vencedor do Oscar 2017 de Melhor Filme, Moonlight: Sob a Luz do Luar é um filme que representa muito bem a sua personagem principal, com a opção de uma narrativa repleta de silêncios e de lacunas que deverão ser preenchidas por nós (plateia). Por falar no roteiro, este é o elemento mais irregular do filme, especialmente pela maneira como não desenvolve a contento as personagens (com exceção de Chiron) e nos deixa por fora de muitos acontecimentos que seriam importantes para o desenrolar desta história. Fica a sensação de que este é um filme que promete mais do que cumpre.