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    A Pequena Sereia
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    A Pequena Sereia

    Ariel, solte sua voz!

    por Katiúscia Vianna

    Goste ou não, é inegável que os remakes live-action da Disney estão encantando uma nova geração, além de fisgar os corações nostálgicos dos adultos. Sim, às vezes, saem resultados esquecíveis como Mulan e Pinóquio; mas também surgem sucessos absolutos como Aladdin e A Bela e a Fera. Agora resta saber qual será a jornada de A Pequena Sereia, nova versão da clássica animação de 1989. Se depender da escolha da Ariel, o resultado será positivo.

    Infelizmente, The Little Mermaid (no original) está cercada por uma polêmica desnecessária, pois pessoas preconceituosas, que afirmam serem “fãs”, não conseguem aceitar que uma sereia (um ser mítico) possa ter pele negra. Caso não tenha ficado claro, a posição do AdoroCinema, e a minha, é contra o preconceito racial. Afinal, o importante é encontrar alguém que seja a escolha certa para Ariel. E ao escalar Halle Bailey, o diretor Rob Marshall não errou.

    Qual é a história de A Pequena Sereia?

    A Pequena Sereia traz algumas diferenças em relação à obra original, mas a premissa é a mesma, no geral: Ariel (Halle Bailey) é uma sereia que sonha em conhecer o mundo dos humanos, apesar de qualquer contato com eles ser proibido por seu pai, o rei Tritão (Javier Bardem). Quando ela se rebela e salva a vida do príncipe Eric (Jonah Hauer-King) durante um grande acidente de barco, as coisas só pioram entre pai e filha.

    Percebendo a chance de vingança, a vilã Úrsula (Melissa McCarthy) faz uma proposta para Ariel: transformá-la numa humana. Mas, para se tornar algo permanente, ela precisa de um beijo do amor verdadeiro em três dias, senão virará sua escrava. Para complicar ainda mais, Ariel precisará conquistar Eric sem a sua voz, contando com o apoio de seus amigos animais, como Sebastião (Daveed Diggs), Linguado (Jacob Tremblay) e Sabidão (Awkwafina).

    Halle Bailey é a Ariel perfeita

    Apesar de ter alguns trabalhos como atriz, Halle Bailey é mais conhecida pela dupla musical que forma com sua irmã, Chloe. Logo, nós sabemos que a moça tem um vozeirão e isso seria uma de suas grandes qualidades no filme - afinal, todo mundo já ouviu a nova (e incrível) versão de “Part of Your World” que usam nos conteúdos promocionais de A Pequena Sereia. E, realmente, o diretor Rob Marshall sabe apreciar isso, adicionando trechos para ela em “Under the Sea”, além de uma canção inédita: “For the First Time”.

    Porém, Halle Bailey impressiona mesmo ao elevar o patamar do filme, não apenas vocalmente, mas também carregando muito carisma para sua versão de Ariel. Ela consegue equilibrar o espírito aventureiro da sereia, com sua doçura e bondade. E, durante metade do filme, a atriz faz isso apenas com suas expressões faciais. Muita gente pode te ganhar na lábia, mas com a boca fechada? Isso é para poucos.

    Outro fator essencial para o sucesso é sua química com Eric. Apesar de Jonah Hauer-King não se destacar tanto no filme, é inegável que a parceria com Halle Bailey funciona. É até difícil imaginar que o papel do príncipe quase ficou com Harry Styles. Você sabe que o remake funcionou quando o espectador fica na ponta da cadeira do cinema, reforçando os pedidos de “Kiss the Girl” na cena clássica.

    Melissa McCarthy assume o difícil papel de Úrsula

    Sinceramente, sempre estive mais nervosa com a escalação de Melissa McCarthy como Úrsula. Não me entenda errado, ela é capaz de grandes performances, basta ver Poderia Me Perdoar?. Não é à toa que foi indicada duas vezes ao Oscar. Mas também precisamos confessar que sua filmografia também tem alguns erros feios. Então, o medo era ser uma Úrsula exagerada… Até eu perceber que Úrsula é exagerada. Pensando assim, Melissa McCarthy parece assumir bem a vilã e consegue entregar um trabalho divertido.

    Porém, além de Halle Bailey, outros destaques do filme nem mostram seus rostos na tela. Apesar da polêmica ao redor dos visuais realistas dos animais de A Pequena Sereia (e realmente, no início, é meio difícil, mas depois passa), Sebastião e Sabidão formam uma dupla sensacional - com pequenas participações de Linguado, que não pode fugir da água, tadinho. O AdoroCinema conferiu a versão original do filme, então as vozes foram de Daveed Diggs e Awkwafina, cujas trocas de farpas e brigas são bem divertidas, já que ambos têm um belo timing cômico. E quando eles se unem para mandar um rap inédito? Só melhora.

    A Pequena Sereia é um show cheio de cores e canções

    Visualmente, Rob Marshall tinha um grande desafio em criar o mundo aquático para Ariel, cheio de diferentes espécies de animais - que encantam os olhos, mas também não ficam distantes em relação à proposta mais realista. É verdade que os efeitos especiais dos corpos das sereias e outros seres humanizados tem seus momentos estranhos; mas, no geral, ele constrói um ambiente bonito e mágico, fazendo diversas referências à animação original.

    Inclusive, o cineasta cria alguns momentos icônicos, como a cena de Ariel refletida subindo ao mar. Em contraste, o mundo dos humanos até tem belos cenários e figurinos, porém parece mais pálido e sem graça. Assim, o visual do filme vai perdendo força ao longo da história, com uma batalha final muito escura. Por que Hollywood esquece de ter iluminação em seus filmes?

    Porém, é impossível falar de A Pequena Sereia sem citar suas icônicas canções. Os fãs podem ficar tranquilos, pois as músicas clássicas estão presentes na trama - inclusive “Under the Sea” consegue reprisar a colorida festa da animação com ritmo envolvente para dançar e pagar mico no cinema. “Part of Your World” ficou ainda mais ousada, enquanto “Kiss the Girl” e “Poor Unfortunate Souls” fazem jûs à trilha sonora original. Também vale a pena conferir a versão nacional das canções, lideradas por Laura Castro e um talentoso elenco.

    O interessante é que Alan Menken (responsável pelas melodias de A Pequena Sereia nos anos 80) fez uma parceria especial para inserir três novas músicas na história. Para isso, ele chamou Lin-Manuel Miranda, já queridinho da Disney pelos hits de Moana e Encanto; além de ser super fã de The Little Mermaid. (Sério, o nome do filho dele é Sebastian!). Nenhuma delas chega ao mesmo status das canções nostálgicas, mas “For the First Time” é uma canção bem legal para Ariel descobrindo o novo mundo, enquanto o divertido rap “The Scuttlebutt” é basicamente o selo “Lin-Manuel Miranda esteve aqui”. Só a música de Eric, “Wild Uncharted Waters”, acaba sendo bem genérica.

    Vale a pena ver A Pequena Sereia?

    É sempre difícil aceitar um remake, principalmente quando se trata de uma obra tão amada quanto A Pequena Sereia. Além disso, podemos ficar horas discutindo se os remakes live-action da Disney são realmente necessários. Normalmente, a resposta é não. E, por mais que A Pequena Sereia traga desenvolvimentos em relação a Eric e Ariel, ainda existe uma certa magia faltando no resultado final. Talvez a nostalgia seja a maior inimiga dos remakes, já que é difícil se comparar à emoção dela.

    Mas A Pequena Sereia não merece ficar no grupinho dos filmes esquecíveis. Existem muitas qualidades nela, além de apresentar uma perfeita princesa Disney. É legal apresentar essa versão de Ariel para uma nova geração que, esperançosamente, vai aprender com os erros do passado para um futuro mais brilhante. Então, seja que nem Ariel e embarque nas aventuras que o mundo te apresenta. Afinal, já dizia essa filósofa contemporânea: um mundo que apresenta coisas tão belas não pode ser tão mal.

     

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