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    O Assassinato de Daniella Perez: "O que ficou foram fofocas e mentiras", condena diretora do documentário (Entrevista Exclusiva)
    Lucas Leone
    Lucas Leone
    -Redator | Crítico
    Lucas só continua nesta dimensão porque Hogwarts ainda não aceita alunos brasileiros. Ele até tentou ir para Westeros ou o Condado, mas perdeu a hora do Expresso do Oriente. Hoje, pode ser visto escrevendo no Central Perk mais próximo.

    Série da HBO Max mostra como a morte da filha de Gloria Perez virou um circo midiático, com ficção e realidade se confundindo em revistas e jornais.

    Pacto Brutal - O Assassinato de Daniella Perez chegou ao catálogo da HBO Max na última quinta-feira (21). Dirigida por Tatiana Issa e Guto Barra, a série documental revisita o crime que chocou o Brasil três décadas atrás, quando a jovem atriz e bailarina de 22 anos, filha da autora de novelas Gloria Perez, foi cruelmente morta por seu colega de elenco Guilherme de Pádua e sua agora ex-esposa, Paula Thomaz.

    Na virada de 1992 para 1993, Daniella estava experimentando o início da fama graças ao seu papel em De Corpo e Alma, trama do horário nobre da Globo assinada por sua mãe. Mas o intérprete de seu par romântico também queria o mesmo sucesso e planejou, com sua então companheira grávida, uma forma de "se vingar" das supostas recusas de Daniella às suas investidas. Na noite de 28 de dezembro, os dois a emboscaram e a apunhalaram.

    A partida prematura da garota deu origem a um circo midiático, com ficção e realidade se confundindo em capas de revistas e manchetes de jornais. Guilherme e Paula foram presos imediatamente após o crime, mas só em 1997 o primeiro foi condenado a 19 anos e a segunda, 18 anos e seis meses. Ambos foram liberados em 1999, tendo cumprido um terço da pena (menos de sete anos).

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    "No documentário, a gente critica justamente a exploração do caso pela imprensa da época. Por mais duro que seja, é preciso entender o quão horrível, frio, monstruoso foi esse crime", defende a diretora em entrevista exclusiva ao AdoroCinema. "As pessoas esquecem com o tempo. O que ficou foram mentiras e fofocas. Versões errôneas que foram perpetuadas durante mais de 30 anos", condena Tatiana.

    É por isso que Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez não hesita em expor as imagens do cadáver de Daniella, com 18 estocadas que atingiram o pulmão, o coração e o pescoço. Registros que desconcertam tanto aqueles que já conheciam a tragédia quanto os que estão descobrindo-a agora.

    "No início, a gente não sabia se a Gloria estaria disposta a mostrar tudo isso novamente", lembra Guto. "Mas ela mesma nos falou que queria que as fotos circulassem para as pessoas entenderem a gravidade do crime."

    "Para ela, o pior são as imagens que a imprensa usou na época", continua o diretor. "Da Dani com o Guilherme em cenas da novela, dando a entender que eram um casal na vida real. Isso causou muito mais dor a Gloria que as imagens da filha morta."

    ATÉ ONDE SE PODE IR NO TRUE CRIME?

    A série da HBO Max estreou não apenas 30 anos depois do assassinato de Daniella Perez, como em um momento de bastante popularidade do gênero true crime. O podcast "A Mulher da Casa Abandonada", apresentado pelo jornalista Chico Felitti, e séries como Only Murders in the Building não nos deixam mentir. Mas até onde se pode ir quando se trata de um crime real?

    "O true crime é um universo com o qual a gente tem que ter muito cuidado, porque você está falando de vidas, de pessoas", avalia Guto. "Essas obras podem ter um impacto pessoal e também na trajetória dos crimes. Não é o caso do nosso documentário, porque a gente está falando de um crime já encerrado. Mas, em geral, existem investigações que acabam sendo afetadas por séries e filmes."

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    "Se fazer true crime requer extrema responsabilidade, a história da Daniella exige uma cautela ainda maior e mais extrema, um embasamento em pesquisas", explica Tatiana. "Toda atenção é pouca para não passar nenhuma informação errada. E obviamente, como a gente tem muita empatia e somos seres humanos, a gente sofre, né?"

    A cineasta e também atriz conta que era amiga próxima do então marido de Daniella, o ator Raul Gazolla, e da prima dela, Bárbara Ferrante. Ela recorda que, no fatídico dia, estava gravando com Raul nos Estúdios Globo, na zona oeste do Rio, e que saíram para jantar depois.

    "Para mim, foi muito difícil gravar a série, porque, além do meu vínculo com os envolvidos, existe ali uma mãe com a qual eu me identifico. Eu sou mãe também. Tenho uma filha adolescente", desabafa Tatiana. "Então pensar no que essa mulher passou é de uma dor incalculável e de uma admiração profunda."

    "É UMA DECLARAÇÃO DE AMOR A GLORIA PEREZ, À MÃE QUE ELA É", DIZ DIRETORA

    A atuação de Gloria Perez foi fundamental para a resolução do caso, pois localizou testemunhas, rastreou evidências e ajudou a expor os erros da investigação. Além disso, deixou um legado ao conseguir mudar a legislação brasileira para que incluísse homicídio qualificado dentro dos crimes hediondos.

    "A gente costuma dizer que a série é uma declaração de amor a Gloria, à mãe que ela é, porque é uma mãe que nunca desistiu, ao longo desses 30 anos, de lutar por justiça, pela filha e correr atrás de respostas", declara Tatiana.

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    "É impossível ser mulher e tratar dessa história sem um olhar feminista", prossegue a diretora. "A discussão sobre feminicídio está presente o tempo todo no documentário, principalmente na crítica à cobertura da imprensa e à maneira como as pessoas colocaram em dúvida a integridade da Dani. 'Será que ela foi lá porque quis? Será que ela tinha alguma coisa com o Guilherme?', as pessoas se perguntavam."

    "Isso tudo é parte da construção do feminicídio, que inclui culpar a vítima, arrumar subterfúgios e histórias para que a mulher tenha sempre culpa. Na época, a gente não falava palavras como feminicídio porque não existia esse entendimento. Mas é importante que fique claro que é preciso parar. O documentário é uma resposta a isso, já que, pela primeira vez, a gente está dando voz a quem não teve: a Dani", finaliza Tatiana.

    Pacto Brutal - O Assassinato de Daniella Perez
    Pacto Brutal - O Assassinato de Daniella Perez
    Data de lançamento 2022-07-21
    Séries : Pacto Brutal - O Assassinato de Daniella Perez
    Com Glória Perez, Raul Gazolla, Fábio Assunção
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