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    Westworld: Lisa Joy revela que já sabe qual será a última cena da série e reflete sobre a Dolores da segunda temporada (Entrevista)

    Conversamos com a cocriadora da série sobre os rumos da inteligência artificial e a sua percepção do gênero de faroeste.

    Imagine assistir a um episódio de Westworld nas telonas, com a ilustre companhia dos criadores da série? Bem, o AdoroCinema teve esta oportunidade, e bateu um papo com Lisa Joy, a cocriadora, sobre a segunda temporada, a evolução da inteligência artificial e a evolução dos personagens ao longo dos mais recentes episódios da série.

    Produzida pela HBO e criada por Joy ao lado do marido, Jonathan Nolan, Westworld é um elaborado drama sobre a ascensão da inteligência artificial protagonizado por Evan Rachel Wood, Thandie NewtonJeffrey Wright e Ed Harris, para citar apenas alguns. A segunda temporada se encerra neste domingo, 24, e após o episódio o AdoroCinema trará a cobertura completa com análise e entrevista. Mas antes disso, um rápido mergulho na mente da roteirista, produtora executiva (e recentemente, diretora) da série.

    Vocês já sabem quantas temporadas a série terá?

    Seis e meia. Não, estou brincando! Nós não pensamos em termos de um número de temporadas. A série é um conto de prevenção contra o orgulho e eu acho que seria muito orgulhoso da minha parte em nomear um número de temporadas. São tantas coisas que podem dar errado sempre que você consegue botar algo no ar, para qualquer produção, que parece um pequeno milagre, pelo qual somos muito gratos, porque temos todos esses colaboradores incríveis. Então em vez de pensar “teremos tantas temporadas” o que eu fiz foi uma abordagem mais orgânica, e quando começamos a montar o piloto nós tínhamos quase que capítulos, que podiam ser expandidos ou diminuídos, pequenos marcos que nós queríamos alcançar. Nós sabíamos que a primeira temporada seria uma exploração da consciência e depois que passássemos disso iríamos discutir sobre imortalidade e conhecer mais sobre as intenções verdadeiras do parque. E depois disso temos mais algumas perguntas que queremos responder, mas o Jonathan [Nolan] não vai ficar feliz se eu revelar para vocês.

    Jesse Grant/Getty Images

    Então vocês já têm as respostas para tudo o que vai acontecer na série? Já sabem como será o final?

    Eu já tenho a última cena da série, é algo que sempre está no fundo da minha memória porque é algo bastante poético. Nós temos essas respostas, mas quero enfatizar que fazer uma série de TV é um esporte coletivo entre os escritores, os atores, os diretores e toda a equipe. Muitos momentos, surpresas e arcos crescem e se desenvolvem organicamente, onde você não quer apressar nada porque é parte da mágica da colaboração. Quando isso acontece nós tentamos incluir, e felizmente temos espaço para isso.

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    Como você se sentiu quando as acusações contra o Google e o Facebook surgiram? Porque elas parecem muito com o que a Delos está fazendo no parque.

    Nós agradecemos pelo marketing viral! É uma daquelas coisas que eu acho que pessoas que usam redes sociais estão cientes de estar acontecendo, que nossos dados estão lá e eles estão os usando. E eu não sei com vocês, mas há tantos cookies no meu computador que é como eles soubessem do que eu preciso antes de eu mesma saber, e estão me contando constantemente. Não é uma surpresa que eles estão pegando nossos dados. Isso só leva ao próximo nível e eu acho que traz perguntas para a nossa atenção que seriam muito fáceis deixar de lado. Porque pensamos, ‘o que é tão ruim no Google saber que eu preciso de lenços de papel?’ Mas quando você olha a fundo e entende como a informação, a desinformação e a informação parcial podem ser usadas para atingir pessoas baseadas em seu perfil e mudar o curso da história, como já começou a acontecer, você percebe que esse conhecimento de que eu eu preciso de lencinhos de papel tem implicações muito maiores.

    O que você pensa sobre o futuro da inteligência artificial?

    Acho que o futuro da inteligência artificial não é como o que temos (na série), eu não acho que teremos robôs humanoides tão maravilhosos e versáteis como Thandie Newton e Evan Rachel Wood. Mas eu acho que o que a Delos está fazendo, mineração de dados, pequenas fatias de IA, vai emergir rapidamente e crescerá exponencialmente. É engraçado porque as pessoas sempre falam sobre IA e dizem que o perigo dela não é muito real porque o seu desenvolvimento está longe de estar pronto. Isso é parcialmente verdade se você espera algo como Dolores aparecer subitamente na sua vida, o que não vai acontecer.

    Você não pode ter essa conversa sem entender que IA pode ser difícil de codificar, mas que nós somos mais fáceis de se decodificar do que parecemos ser. Todos nós gostamos de pensar que somos indivíduos profundos e complexos, mas se eu olhar para a minha própria vida, existem motivações fundamentais. Quando você entra em uma rotina, por exemplo, eu como, eu durmo, eu escrevo, eu vejo meus filhos... o meu loop é muito pequeno, o Google já o conhece inteiro. Então é necessário enxergar estes dois lados ao mesmo tempo para se entender como a inteligência artificial vai afetar nossas vidas de uma grande maneira.

    HBO/Divulgação

    É por isso que há tantos personagens homens? Eles são mais fáceis de se decodificar?

    Bem, o Jonah não está aqui para responder isso. Parte do apelo quando nós começamos a fazer a série foi poder olhar para esses gêneros do Faroeste e da Ficção Científica sob uma lente que normalmente não era explorada. Os clássicos do Faroeste, de que eu pessoalmente não sou uma grande fã, não falam comigo naquele nível mais visceral, eu não tenho tanto em comum com o tipo “pistoleiro solitário”. Mas eu estava curiosa sobre quem é “aquela garota no canto do saloon” e como é a vida dela, essa pobre mulher que ele fica deixando para trás para ir nessas viagens atirando em pessoas. Qual é a história dela? E eu não acho que necessariamente caí pelas linhas de gênero também, eu acho que a melhor coisa de qualquer obra de arte é que ela está nos ombros do que veio antes.

    Acho fascinante como a série critica o homem, ou o homem ocidental, como forças que destroem tudo o que não foge ou se submete. Isso é uma crítica à humanidade em geral ou a essa maneira ocidental de pensar?

    Entre o Jonah e eu, ele é um pouco mais misantrópico na sua visão de humanos, eu costumo deixar uma pequena janela de esperança. Mas acho que na história existem bons humanos e você os vê mais essa temporada, quando nós mudamos de pista e brincamos com a empatia da audiência. Lee Sizemore [personagem de Simon Quarterman] é um personagem que muitas pessoas diziam: “Nós o odiamos! Matem ele!” E na primeira temporada eu simplesmente pensava: “Só esperem, vocês vão acabar torcendo por ele”. A ideia é de que quando o jogo é real e começa a testá-lo, ele não necessariamente revela escuridão, mas um heroísmo. Então também existe redenção na história.

    Há algumas semanas, Evan Rachel Wood disse no Twitter que as pessoas julgam a Dolores e a odeiam rapidamente, mas não têm a mesma reação com personagens masculinos complexos, como o próprio Homem de Preto, ou Walter White de Breaking Bad. O que você pensa disso e como você entende a recepção de Dolores?

    Quando nós começamos essa temporada, sabíamos que seria um desafio para as audiências. Afinal, elas são como nós, roteiristas. Nos apegamos aos personagens de certas maneiras e não queremos que eles mudem. Mas parte da relação é entender as mudanças, mesmo que elas nós assustem no começo. Nós sabíamos que isso seria trabalhoso, pegamos uma pessoa com quem era muito fácil de se simpatizar, e agora ela não é só a vítima lutando diretamente contra a pessoa que a traumatizou. Agora ela é alguém com a história de tudo que ela se lembra e um vislumbre do que a natureza humana é, e isso é sombrio. Ela está tentando salvar seu povo, e qualquer líder, em qualquer posição, não pode ter muita transparência emocional e vulnerabilidade. Se você vai à guerra e seu general está chorando e dizendo como é difícil para ele, você não vai seguir aquela pessoa. É o jeito como essas coisas funcionam.

    HBO/Divulgação

    Agora, é mais difícil para as pessoas aceitarem mulheres em posições de poder que não são apologéticas sobre o poder que elas têm e as escolhas que elas fazem? Eu acho que esse é um argumento que pode ser feito. Você pode olhar para a América atualmente e fazer esse argumento. Eu acho que é difícil, parte do que essa série faz é pegar arquétipos e desconstruí-los, e o que eu espero é que no fim, mesmo que não concordemos com todas as escolhas dela, nós as entendamos. Ela mudou Teddy, certo? E isso era para ser um ponto baixo da personagem, ela basicamente fez a mesma coisa que era feita com eles, manipulou, alterou, contra a vontade. Mas eu pergunto: se você está em uma guerra com a pessoa que você mais ama na sua vida, e vocês vão para tal lugar em duas semanas, e você sabe que aquela pessoa literalmente não tem chances de sobreviver porque ela é muito inocente — e você pode dar para ela as ferramentas para sobreviver e depois voltá-las ao normal — você não o faria? Você deixaria ele morrer em vez de alterá-lo? É uma escolha muito difícil, mas quando os riscos do jogo são reais você vê que a moralidade não é tão simples quanto era, e não é simples para Dolores também. Pessoalmente, eu acho que teria feito a mesma escolha. E ela sofre por isso.

    O AdoroCinema viajou a Londres a convite da HBO.

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