Minha conta
    Westworld S02E09: Revelações em rota de colisão

    Nossa análise do episódio "Vanishing Point".

    ATENÇÃO! Contém spoilers do episódio 9 da segunda temporada de Westworld.

    Após a exibição do surpreendente "Kiksuya", não apenas pela ternura demonstrada ao narrar a história de Akecheta mas também por abdicar (momentaneamente) das várias linhas temporais, Westworld retorna ao seu habitat ao entregar um episódio onde seus núcleos principais não só colidem, como apresentam transformações relevantes - fazendo jus ao título do episódio, "Vanishing Point" (ou Ponto de Fuga, traduzindo).

    Dando continuidade ao episódio anterior, o temido encontro entre a Nação Fantasma e a trupe liderada pelo Ceifador - também conhecida como Dolores, a impiedosa (Evan Rachel Wood) - resulta em um verdadeiro massacre, como Akecheta (Zahn McClarnon) havia previsto. A rapidez do confronto mais uma vez ressalta o lado brutal e sangrento imposto pelos showrunners Nolan & Joy, como já ocorrera tanto quando Dolores encara a equipe de segurança da Delos (episódio três) quanto quando Ford obriga Bernard a acompanhar uma verdadeira carnificina em plena Mesa Hub (episódio sete). A violência, mais uma vez, surge como marca registrada de Westworld, por ser intrínseca ao ser humano.

    Violência esta que também surge em outros dois momentos distintos deste episódio, protagonizados pelo Homem de Preto (Ed Harris) e por Teddy (James Marsden). Comecemos pelo último, pela desconstrução do que se imaginava desde o primeiro episódio desta temporada, quando vimos Teddy, morto, boiando junto a dezenas de anfitriões. Aqui, ele dá fim à própria vida após, mais uma vez, declarar seu amor por Dolores.

    Mais do que a quebra de expectativa, tal ato tem imensa força pelo que representa: Dolores o transformara num monstro e, mesmo ainda a amando, Teddy não conseguia conviver com o que se tornara. Dolores, que tanto acusou os humanos por moldar os anfitriões a seu bel prazer, aqui sofre o preço a ser pago por repetir tal procedimento, ao tornar o amado "capaz de superar as adversidades que estão por vir". Brincar de Deus não é nem um pouco fácil, e tal percepção ganha ainda mais relevância graças à bela e contida expressão de sofrimento de Evan Rachel Wood. Dolores sabe que é responsável pelo que acabara de acontecer, e sua intérprete captou com exatidão tal sensação de dor e culpa.

    Passemos então ao Homem de Preto. Se coube à primeira temporada apresentar o processo de transformação de William no personagem de chapéu negro dentro do parque, aqui vemos em detalhes seu processo de deterioração no mundo real. Em um processo de comiseração interna que faz com que tome atitudes "dignas de um marxista" no mundo real, mas de um extremista radical em Westworld, temos a chance de ver um pouco da vida de William fora do parque, desatando os nós ainda existentes em relação à sua estrutura familiar. O suicídio da esposa atrelado à conexão com a filha não apenas explica o passado, mas justifica a paranoia do presente, especialmente em seu ataque desmedido a todos que tentam impedi-lo - inclusive sua própria filha, confundida com uma anfitriã graças ao seu perfil paranóico.

    Assim como Dolores, William sente culpa - e chega a cogitar o mesmo suicídio executado por Teddy. Em "Vanishing Point", os personagens são colocados diante de seus próprios erros, precisando escolher entre encará-los de frente ou simplesmente sucumbir.

    Mas, como Arnold bem descobriu lá no início do parque, apenas a dor pode moldar a personalidade. É isto que também acontece com Maeve (Thandie Newton), presa a uma mesa de reparos. Sem poder se mexer, mas explorando ao máximo sua habilidade de contatar (e comandar) outros anfitriões, ela se contenta em garantir a sobrevivência da filha, com a ajuda de Akecheta (episódio oito). Até receber uma inusitada visita: seu "pai", Robert Ford (Anthony Hopkins).

    Em um inusitado discurso afetuoso, Ford revela não apenas sua predileção por Maeve como que sua fuga do parque, no desfecho da primeira temporada, havia sido planejada por ele - lembram que Bernard comenta que tais atos haviam sido previstos pela conta de Arnold? O retorno para encontrar a filha fora algo inesperado, um dos insights implementados pelo livre-arbítrio dos anfitriões, assim como - aparentemente - o controle mental de seus pares. "Eu apenas abri a porta. Você foi tão longe e há tanto da sua história ainda a contar. É uma vergonha deixar que eles encerrem aqui. Não deixe [que façam isto]", diz Ford.

    O caminho para o desfecho da segunda temporada está pavimentado: todos os personagens trilham rumo à Porta, cada um à sua maneira. Já sabemos que Bernard (Jeffrey Wright) sobrevive, bem como dezenas de anfitriões estão mortos em um mar que surge do nada, Teddy entre eles. Resta saber quais serão as surpresas agendadas por Ford em sua derradeira narrativa que, pelo que insinua a William neste episódio, foi desenvolvida como resposta à invasão da Delos ao terreno criativo do eterno (e manipulador) mágico de Westworld.

    Episódio: 2.09 - Vanishing Point

    Escrito por: Gina Atwater e Roberto Patino

    Dirigido por: Stephen Williams

    Exibido originalmente em: 17/06/2018

    facebook Tweet
    Links relacionados
    Comentários
    Back to Top