ATENÇÃO: contém spoilers do episódio 2 da segunda temporada!
A primeira temporada de Westworld fez lá seu número de exibição ao construir um elaborado quebra-cabeças que os fãs se determinaram a desvendar — e, aliás, conseguiram. A segunda temporada, para seu próprio bem, é muito menos complicada e vai direto ao ponto em vários aspectos. O segundo episódio é grande prova disso, tendo revelado as respostas para perguntas que nem sequer sabíamos ter.
“Reunion” passou por vários períodos distintos de tempo, e por isso este texto vai destrinchá-lo na ordem cronológica.
Existe no mínimo um padrão que repete em relação ao episódio anterior: ambos abrem com uma cena entre Arnold (Jeffrey Wright) e Dolores (Evan Rachel Wood). Aqui, além da diferença óbvia de eles estarem no mundo real, é possível notar que a troca se passa muito antes de ela ter começado a adquirir consciência, quando Arnold e Ford (Anthony Hopkins) ainda estavam procurando investidores para o Parque. O marcador temporal aí é óbvio: a menção a Charlie, filho de Arnold que havia morrido quando ele passou a dedicar cada vez mais atenção a Dolores.
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Mesmo assim, é possível notar uma preferência de Arnold pelos anfitriões, até mesmo quando ele diz a Dolores que não tem certeza se os humanos merecem “este mundo”. A comparação que ele faz entre os pontos de vista de Dolores e de Charlie também é outro indicativo do apreço que já estava desenvolvendo por ela, especificamente.
A ideia de levá-la ao mundo real era a gênesis de Westworld. Quando Arnold se recusa a deixar Dolores ir à apresentação, quem é escolhida é Angela (Talulah Riley), que é apresentada a ninguém menos que Logan Delos (Ben Barnes). Impressionado pelo realismo das criações de Arnold e Robert, ele provavelmente decide naquela mesma noite investir o dinheiro da companhia de seu pai em Westworld. Impulsionado, talvez, pela pequena orgia da qual participou com Angela e outras anfitriãs.
Reencontro, parte 1
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Logo depois disso, na linha do tempo do episódio, conhecemos enfim o próprio James Delos (Peter Mullan), pai de Logan e sogro de William (Jimmi Simpson). Ele e William passeiam por Sweetwater num momento que claramente acontece depois da visita do mais novo ao parque — ele já conhecia Dolores, afinal.
Mas este momento não serviu apenas para apresentar o patriarca, e sim para iluminar os verdadeiros objetivos da Delos ao investir no parque. Em um diálogo que muito faz lembrar o recente escândalo da Cambridge Analytica envolvendo o Facebook, William comenta com o sogro que esta é a perfeita oportunidade para que a Delos possa obter dados confidenciais (e potencialmente escandalosos, dignos de serem usados em chantagens) de basicamente qualquer pessoa rica e influente que pusesse os pés em Westworld.
Esta peça de informação casa perfeitamente com uma cena entre Bernard (Jeffrey Wright) e Charlotte Hale (Tessa Thompson) exibida no episódio anterior. Nos momentos logo após o massacre de Dolores, Hale diz a Bernard que a Delos só enviará o resgate após ela conseguir reencontrar uma peça importante de informação. O que ela precisa encontrar é ninguém menos que Peter Abernathy (Louis Herthum), o pai de Dolores — quem ela está usando como ‘um grande hard drive’, guardando 35 anos de informações sobre vários visitantes do parque. Ou seja, a ideia de William foi levada à frente, sobretudo quando ele assumiu o controle total da Delos. E falando nisso…
Reencontro, parte 2
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O próximo momento na linha do tempo é a festa de aposentadoria de James Delos. Ele está claramente desabilitado por alguma doença, e a festa faz Dolores e William se reencontrarem mais uma vez. Agora, alguns anos depois de sua primeira visita ao parque, como a própria existência de Emily, sua filha, deixa claro. Aqui, o mais curioso e importante de se ter em mente está no pequeno diálogo que Dolores tem com Logan.
Cronologicamente, esta é a primeira vez que Logan reaparece depois do último episódio da primeira temporada. Rendido às drogas, ele está decepcionado com a aposentadoria do pai e com o papel que William vai assumir na companhia. Um papel que, a seu ver, deveria ser dele próprio.
Mas as palavras que ele diz a Dolores são realmente curiosas: “Quer saber o que estão comemorando de verdade ali? Esse é o som dos tolos brincando enquanto toda a espécie começa a queimar. A parte mais engraçada é que eles acenderam o fósforo. À vocês, bundões! Que o ‘para sempre’ de vocês seja bem curto.”
Este discurso pode parecer uma divagação aleatória de uma pessoa fora de si, mas sabendo que o plano de William começa com a coleta de dados sobre os visitantes do parque, Logan parece achar que a ideia vai muito além disso, e é certamente perigosa. E se Logan, o personagem mais desajuizado entre os humanos, está preocupado. Bem… coisa boa não pode vir daí.
Reencontro, parte 3
William está muito mais sinistro aqui, dizendo palavras duras a uma Dolores em modo de análise. Outra nova característica aqui é que ele aparece vestido totalmente de preto pela primeira vez, e joga todas as suas frustrações em Dolores dizendo que ela não é nem mesmo “uma coisa”, e não passa de um reflexo da humanidade.
Mas o interessante aqui é menos a masculinidade fragilizada de William e mais o que ele mostra a Dolores. Ele a leva a uma locação do parque e mostra algo em construção. Não fica exatamente claro do que se trata — uma extensão, uma arma, um local de armazenamento de dados? Mas mantenha esta peça de informação em mente, pois ela está fadada a ser muito importante.
Enquanto isso, depois do Massacre…
De volta à noite em que Dolores matou Ford, a anfitriã continua o seu plano por vingança. Ela captura um dos técnicos de manutenção do parque, e é neste momento que fica claro que Dolores realmente tem todo um plano em ação para alcançar o seu objetivo e destruir a humanidade. O seu primeiro passo é recrutar um exército, algo que ela faz com a ajuda de todos os poderes aos quais tem acesso — ou seja, as informações de cada um dos demais anfitriões e a capacidade de fazê-los voltar à vida instantaneamente, graças ao técnico que está levando consigo.
The Valley Beyond
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Foram apenas dois episódios, mas as palavras “The Valley Beyond”, ou “O Além do Vale” já foram ditas incontáveis vezes. Neste episódio, “Glory” e “Os Portões Perolados” foram adicionados à mistura. Mas ao invés de fazer todo o público enlouquecer tentando desvendar o significado disso tudo, Westworld sabiamente esclareceu através de Teddy (James Marsden) que todas essas palavras significam a mesma coisa, o mesmo lugar. Dolores vai além e diz que “O Além do Vale” não é um lugar, é uma arma que um velho amigo uma vez foi tolo o suficiente para mostrar a ela. E que ela vai usar a arma para destruir os humanos.
Importante notar que esta cena, na narrativa intercalada do episódio, vem logo após a cena em que William mostra a tal nova construção a Dolores. Que, curiosamente, está em um vale. Esta montagem certamente não é desproposital, pois ao longo de todo o episódio as cenas de flashbacks vão sendo inseridas nos momentos em que Dolores menciona algum fato do passado. Portanto, é muito provável que o “velho amigo” a quem ela se referiu seja o próprio William. E a arma certamente não é uma arma de fogo literal. Mas teremos que seguir acompanhando para termos certeza.
William de Preto e o Jogo que Começa Onde Termina
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Por fim, na narrativa presente, temos William (Ed Harris) procurando pelo Jogo que Ford armou para ele. Ele procura pela ajuda do sempre disposto Lawrence (Clifton Collins Jr.), como havia feito na primeira temporada, e os dois retornam à cidade de Pariah, e encontram um novo andróide interpretando o papel de El Lazo — convidado especial surpresa, Giancarlo Esposito. Mas antes de William conseguir convencê-lo a ‘dar uma mãozinha’ no jogo, ele recebe outra mensagem de Ford: “Este jogo foi feito para você, William, mas você deve jogá-lo sozinho. Te vejo no Além do Vale.”
Portanto, William e Dolores estão novamente no mesmo caminho, já que o Jogo de Ford aparentemente quer levá-lo ao mesmo lugar (ou à mesma coisa) que Dolores quer alcançar. Mas a questão agora é menos sobre o como chegar até lá e mais sobre os reais objetivos tanto da Delos ao investir em Westworld e de Ford ao colocar seus anfitriões no caminho para impedir o que quer que a companhia tenha planejado.
Outras Considerações
Como observado por Joanna Robinson, da Vanity Fair, existe um forte subtexto bíblico nestes dois primeiros episódios da nova temporada de Westworld. Seja pela postura e objetivos messiânicos de Dolores, ou pela própria conversa de William com Lawrence sobre Deus, há também a questão da salvação de uma espécie (robôs ou humanos) em detrimento de outra, a coroa de espinhos que Angela está usando e a própria rota de colisão na qual Dolores e Maeve (Thandie Newton) se encontram, com os mesmos objetivos e métodos diferentes. Dolores tem sido muito mais impiedosa — matando os próprios anfitriões —, enquanto Maeve até salvou Lee Sizemore (Simon Quarterman) e demonstrou empatia por uma outra anfitriã prestes a morrer. Um anjo da vida e um anjo da morte, talvez?
Além disso, e talvez o mais importante, ainda não está totalmente claro qual era o objetivo da Delos com todos estes dados e peças de tecnologia adquiridos com Westworld. Pode ser ‘apenas’ controle de informações, mas com os recursos aos quais eles têm acesso estamos apostando em algo muito mais elaborado. O que exatamente? Bem… veremos.
Episódio: 2.02 - Reunion
Escrito por: Gina Atwater, Carly Wray, Jonathan Nolan
Dirigido por:Vincenzo Natali
Exibido originalmente em: 29/04/2018
Westworld é exibida aos domingos no canal HBO, às 22h. O AdoroCinema irá publicar críticas semanais, de todos os episódios da segunda temporada. Fique ligado!