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    A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas foi injustiçado? 6 motivos por que filme merecia ganhar Oscar de Melhor Animação
    Diego Souza Carlos
    Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

    Animação da Sony Pictures concorreu ao Oscar no último domingo (27). Longa está disponível na Netflix.

    A noite de domingo (26) foi marcada por uma intensa cerimônia do Oscar, pautada por importantes vitórias para a história da premiação, algumas polêmicas e discussões sobre os rumos da indústria cinematográfica.

    Para além do desentendimento entre Will Smith e Chris Rock, o evento também foi palco de uma controvérsia envolvendo filmes animados. Antes de apresentarem os indicados da 94ª edição da honraria, as atrizes Halle BaileyLily JamesNaomi Scott sugeriram que animações são destinadas apenas ao público infantil. "Tantas crianças assistem esses filmes muitas, muitas, muitas vezes. Vemos que alguns pais sabem exatamente do que estamos falando," disseram as atrizes. O mesmo foi feito no monólogo de Amy Schumer.

    Em resposta ao comentário, Phil Lord, produtor de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, postou um tweet criticando a fala das artistas: "É super legal posicionar a animação como algo que as crianças assistem e os adultos têm que aguentar”.

    A declaração do cineasta vem de encontro à provocação inicial deste texto: A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas também merecia uma estatueta de ouro? 

    Animações para todos os públicos

    Datada, a premissa de que animações podem ser feitas apenas para crianças e adolescentes vai na contramão ao frutífero número de produções lançadas ao longo dos últimos anos, que conseguem explorar os mais variados temas - do drama de uma família refugiada, como em Flee, à narrativa lúdica sobre questões psicológicas, como em Divertida Mente.

    Mesmo que possam, eventualmente, apresentar temas costumeiramente envolvidos na jornada deste público infanto-juvenil, projetos animados ainda conseguem utilizar recursos infinitos de linguagem, algo que pode ser potencialmente produtivo para o cinema. O vencedor do Oscar de Melhor Animação deste ano, Encanto, é um exemplo dessa premissa: por mais que tenha a fantasia e a magia como condutores, mostra um drama musical recheado de diversidade e questões sociais.

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    Para além das telonas, a TV e o streaming também são ótimas plataformas para se entender que a animação pode, e deve, ser feita e direcionada a todos. Ao longo dos últimos anos, Rick and Morty, Big Mouth, Steven UniversoHora de Aventura e muitas outras atrações mostraram que é possível debater assuntos que atinjam todas as faixas etárias de forma relevante, a partir de diferentes abordagens.

    A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas estabelece uma jornada de amadurecimento, algo que se desdobra nos receios da juventude, o relacionamento entre pais e filhos e o limbo que a tecnologia pode criar entre os laços familiares.

    A história de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

    Em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, a jovem Katie Mitchell é aceita na faculdade de cinema dos seus sonhos e seu pai orgulhoso decide aproveitar essa conquista para realizar uma viagem em família, levando-a até à universidade e curtindo os momentos juntos em comemoração, antes da jovem sair de casa. Porém, os planos dos Mitchells são interrompidos quando os dispositivos eletrônicos do mundo repentinamente ganham vida e consciência, e se organizam para uma revolução robótica. O destino da humanidade por acaso acaba parando nas mãos desta família improvável, e agora Katie, seu irmão mais novo e até seu cachorro, são os únicos capazes de reverter a situação de caos global. Com a ajuda de dois robôs amigáveis, todos os membros dessa família singular deverão trabalhar juntos para salvar um ao outro – e ao planeta – dessa revolta tecnológica, evitando um apocalipse robô, tentando lidar com seus próprios conflitos familiares.

    Gravity Falls, Homem-Aranha no Aranhaverso, Phil Lord e Chris Miller

    Com mais de 600 profissionais envolvidos, o filme tem direção de Michael Rianda e Jeff Rowe, roteiristas de Gravity Falls: Um Verão de Mistérios. Na produção estão dois dos grandes produtores de animações dos últimos anos: Phil Lord e Chris Miller, dupla responsável por conduzir a visão inovadora de Homem-Aranha no Aranhaverso.

    A união destes profissionais dá vazão a um filme que contempla elementos das principais produções em que trabalharam anteriormente. Katie e toda a família Mitchell são fruto de uma união bem sucedida de grandes profissionais da atualidade.

    Pioneirismo queer em uma animação de grande estúdio

    Katie é a primeira personagem abertamente LGBTQIA+ em uma animação produzida por um grande estúdio. A sexualidade da jovem cineasta não estava no primeiro esboço do roteiro, mas aos poucos os profissionais envolvidos no projeto começaram a se questionar se ela seria queer. “Enquanto estávamos desenvolvendo o personagem, mais e mais pessoas continuavam perguntando: 'Katie parece gay. Ela é gay? Tornou-se algo que sentimos que precisávamos abordar”, disse Rianda.

    Apesar de terem diversos indícios sobre a sexualidade de Katie ao longo da história, um dos momentos do epílogo mostra a mãe da personagem a questionando sobre uma possível namorada. Quando bateram o martelo, decidiram ao máximo “[mostrar] a uma criança queer nos cinemas que eles mereciam ser protagonistas de suas próprias histórias”.

    Enxurrada de referências de cultura pop

    Tendo uma protagonista apaixonada por cinema e produtora de conteúdos audiovisuais, a enxurrada de referências à cultura pop é outro traço cativante da história.

    Ao longo do filme, cenas, falas, ações, cartazes e easter-eggs oferecem a abertura para falar sobre filmes como O Exterminador do Futuro 2, Lady Bird - A Hora de Voar2001: Uma Odisseia no EspaçoAdoráveis Mulheres, O Iluminado, O Despertar dos Mortos, Kill Bill, Os Caça-Fantasmas, entre outros.

    A inovação no ramo de animações

    Para além da história autêntica, que mistura comédia, ação e um festival de referências à linguagem das redes sociais, um dos pontos que mais chama atenção no projeto da Sony Pictures é a sua inovação estética. A escolha dos produtores e diretores faz jus à temática do filme, que apresenta a jornada de uma jovem apaixonada pelo cinema. A exploração dos recursos de animação é conduzida com o máximo de experimentações, que utilizam elementos 2D e 3D alinhados a traços live-action.

    Chris Miller abordou essa questão em entrevista à Variety. “A tecnologia finalmente alcançou os limites da nossa imaginação. E, portanto, não há desculpa para fazer um filme de animação que se parece com todos os outros. É um meio que está implorando para ter um toque personalizado quando tudo é possível.”

    A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas: Quais são as referências de cultura pop na animação da Netflix?

    Ao AdoroCinema, Richard "Roh", artista e desenvolvedor de jogos, também defende a premiação do longa animado por sua inovação técnica: “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas não só possui uma história sólida e apresenta comédia bem feita, como também foi um dos indicados que melhor explora a própria mídia, sem medo de ser uma animação, e sem tentar competir com filmes não-animados pelas regras deles, mas sim utilizando das melhores qualidades desse tipo de filme, que são as liberdades visuais e as possibilidades estéticas guiando e expandindo a narrativa”, afirma o ilustrador.

    “O filme é tão confortável no que faz, pois permite que ele se desprenda do básico e apresente algo novo e original, sendo o fruto direto e polido das experimentações primorosas do Homem-Aranha no Aranhaverso”, explica.

    O grande vencedor do Annie Awards, o “Oscar da Animação”

    A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas foi adquirido pela Netflix e está na plataforma desde abril do ano passado. Apesar de não ter vencido o prêmio de Melhor Animação do Oscar 2022, o longa foi um dos grandes destaques do Annie Awards, honraria que celebra produções audiovisuais animadas.

    Foram oito vitórias: Melhor Filme, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Design de Personagem, Melhor Direção, Melhor Design de Produção, Melhor Editorial, Melhor Dublagem e Melhor Roteiro em Filme.

    A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
    A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
    Data de lançamento 30 de abril de 2021 | 1h 54min
    Criador(es): Michael Rianda, Jeff Rowe
    Com Abbi Jacobson, Danny McBride, Maya Rudolph
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