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    Kati Critica: O ano em que Power Rangers e A Barraca do Beijo pisaram na minha cara

    Nunca critiquei.

    Katiúscia Vianna é uma redatora do AdoroCinema que acumulou mais de duas décadas de cultura inútil e decidiu transformar isso num emprego. Nessa jornada, ela tem a missão de representar os fandoms barulhentos e/ou esnobados do Twitter, falar das séries que a crítica ignora e celebrar as '"farofas" que trazem alegria para o povo. Ou seja, os guilty pleasures! Com um ponto de vista 'singular' (ou doido, depende de quem opina), surge a coluna Kati Critica — misturando açúcar, tempero e um pouco de haterismo zoeiro.

    Gosto de pensar que tenho missões na vida. Nada muito drástico, como médicos têm a responsabilidade de salvar vidas, pois mal aguento bater o dedo na quina da estante. Mas o jornalismo cultural também tem suas aventuras... Como a apresentação da coluna já indica, gosto de representar os fandoms e espalhar a palavra dos musicais e/ou farofas. Além de, obviamente, explorar um dos assuntos mais tocados em meus textos aqui: o haterismo de qualidade, ou seja, aquela zoeira com propriedade.

    E outro passo fundamental do haterismo é saber quando você está errado. 2019 vem se apresentando como um ano cheio de surpresas, com o costume sacana de me fazer morder a língua. 

    Vou explicar de maneira mais direta: adoro criticar pessoas. Gosto ainda mais quando elas me provam errada. Neste ano, isso aconteceu com as estrelas de dois filmes que tenho prazer em falar mal a qualquer hora do dia. Estou falando das estrelas — e, pelo visto, novas apostas em Hollywood! — de Power Rangers e A Barraca do Beijo.

    Vamos começar com o fenômeno da Netflix, que tal? Olha, sou defensora de comédias românticas, mas tudo tem limite nessa vida. A Barraca do Beijo não é algo ofensivo como Sierra Burgess É uma Loser ou Deslize; mas tem muita coisa errada ali. Seja pelos clichês jogados sem sentido, ou pelas "vilãs" cópias inúteis de Meninas Malvadas; o clichê do 'bad boy' agressivo com coração bom; ou o amigo podre que não vai impedir a amiga bêbada de fazer besteira e por aí vai...

    Porém, ajudou a popularizar o gênero na Netflix e alavancou o nome da Joey King, que está procurando sua chance desde pequena, quando ainda fazia filme esquecível com Selena Gomez. Quero deixar claro que nunca a achei uma atriz ruim, mas quando você lança A Barraca do BeijoSlender Man ao mesmo tempo, o público acredita já ter uma noção do seu trabalho. Mas aí vem o momento "tapa na cara": The Act!

    *Insira aqui o tema de Paola Bracho em A Usurpadora*

    Trata-se da bizarra história real de Gypse Blanchard, que acreditou ser doente a vida inteira por causa da mãe controladora, Dee Dee (Patricia Arquette). A situação chega a ser tão psicótica que uma acaba planejando a morte da outra. Quando esse projeto foi anunciado, todo mundo sabia que Arquette ia trazer uma performance boa — afinal, BoyhoodEscape at Dannemora mandam beijos.

    Mas o que a Joey King faz? Além de uma transformação física impressionante, parece que ela encarnou o espírito da Gypse (que não está morta, é bom ressaltar), com um voz tão idêntica da moça original, capaz de arrepiar a espinha. Aliás, também é legal ver o trabalho de Calum Worthy nessa série, bem diferente do menino todo trouxinha que era no Austin & Ally da Disney!

    Quando Joey foi indicada ao Emmy, teve celebração aqui na redação do AdoroCinema e tudo. Inclusive, o vídeo dela emocionada nos representa nessa vida. Só que, no meu caso, fico assim celebrando o ship que deu certo na TV. Diferentes tipos de glamour, né?

    Mas até aí, tudo bem. Joey King é a melhor (talvez única boa?) coisa de A Barraca do Beijo, então não é tão surpreendente assim. Chocante mesmo foi ver o talento de Jacob Elordi! No filme da Netflix, ele é só o 'boy magia' sem camisa, cuja franja exagerada é mais expressiva que seu personagem. Mas em Euphoria? Seu papel na série da HBO é Nate, um garoto agressivo, preso na homofobia e masculinidade tóxica da vida que o cerca. Ele faz tanta coisa babaca que dá vontade de dar na cara desse homem. Ou fazer como a própria Rue (Zendaya) sonha na trama:

    Mas se o espectador cria asco desse garoto e torce para ele bater a cabeça no teto (sério, esse menino é muito gigante), ninguém pode falar mal da performance de Jacob. A diferença é surreal, com um peso dramático e meio psicopata, tornando um dos destaques do elenco. Talvez ele só perca para a maravilhosa interpretação de Zendaya, que é a protagonista, no final das contas (cuja campanha pela indicação ao Emmy eu apoio, viu?).

    No último episódio da temporada de Euphoria, Nate se bate tanto de nervoso, numa espécie de piripaque do Chaves elevado a milésima frequência, que dói a sua coluna! É o tipo de performance visceral vista em filme de terror bom, sabe? E Elordi até revelou que teve uma concussão depois de filmar tal cena. Isso que é dedicação, pois já acho ter que trabalhar com resfriado. Ou seja, provou que é mais do que um garoto bonito. Não que isso seja algo ruim, pelo contrário, aprecio bastante, mas é bom ver que tem mais conteúdo ali. 

    A situação ficou chata agora pro terceiro protagonista de A Barraca do Beijo, né? Joel Courtney tem que "se virar nos 30" agora para acompanhar os amiguinhos! Pois os trabalhos de King e Elordi são tão incríveis que dá até vontade de ver A Barraca do Beijo 2. Mentira, não dá. Mas quem estou enganando? Verei da mesma forma.

    Logo, quando decidi falar desse assunto no 'Kati Critica', usando o recente final de Euphoria como gancho, percebi que não podia parar aí. Se eu ia falar de Jacob Elordi e Joey King, também seria necessário falar de outras duas pessoinhas que repetiram tal feito em 2019. Sim, pode não parecer, mas esta coluna envolve algum tipo de planejamento! 

    Antes, um pouco de contexto sobre a minha pessoa: quando eu gosto de algo, fico obcecada com isso. Por um bom tempo. Tipo, muito tempo. Nível duração de "Faroeste Caboclo" ou número de temporadas de Grey's Anatomy... Se você falar mal de RBD perto de mim, provavelmente irá apanhar. Eu sei zoar Crepúsculo, mas ainda choro ao som de "A Thousand Years". Já a canção "Speechless" de Aladdin foi lançada em 23 de maio de 2019. E eu a escuto todo dia, desde então.

    Isso quer dizer que eu a escutei 62 vezes, se desse play uma vez por dia. Logicamente, eu botei no repeat eterno. E ainda ouvi em inglês, português, espanhol ou francês. (Oui oui, mon amour, je sais parler français! Depois nem vem dizer que só tenho cultura inútil...) 

    Me apaixonei completamente pela Jasmine interpretada por Naomi Scott — a quem zoei MUITO em Power Rangers. É o pior filme já feito na história da humanidade? Claro que não. Mas nem chega perto à qualidade trash adorável das séries de nossa infância. Os jovens protagonistas são superficiais, aqueles uniformes são toscos e Bryan Cranston só participou, pois é amigo da galera produtora (e, provavelmente, precisava do cachê para fazer a reforma da cozinha).

    Dentre os cinco jovens principais, a que eu menos gostava era a Ranger Rosa de Scott. Hoje, estou praticamente me candidatando a presidência do fã-clube brasileiro da menina. Não é fácil assumir o papel de uma princesa Disney, ainda mais numa versão mais politizada da personagem. Não acho o remake de Aladdin perfeito, mas ela e Mena Massoud o tornam realmente bom.

    Sem falar que gostei tanto da voz de Naomi que estou cogitando ver Lemonade Mouth — o que certas amigas descreveram como o "musical mais subestimado do Disney Channel". Talvez seja exagero, mas estou disposta a arriscar.

    E sabe quem era o quarto pior Power Ranger, na minha humilde opinião? O Vermelho, vivido por Dacre Montgomery. Afinal, os dois eram meninos populares que estavam reclamando (quase) de boca cheia, enquanto os outros três tinham vidas totalmente ferradas... O melhor mesmo era o Azul. Aliás, pausa só para pedir que alguém dê um emprego decente para o RJ Cyler! Ele teve que fazer Scream para pagar as contas, o pobrezinho merece coisa melhor!

    Aí, se meu 2019 já não fosse chocante o suficiente com Bohemian Rhapsody se tornando o filme mais premiado numa edição do Oscar, eu ainda descubro que Montgomery atua?

    Na segunda temporada de Stranger Things, seu Billy servia apenas para questionar o conceito de 'boy magia' com aquele penteado ridículo e para machucar meu amado Steve (Joe Keery). Neste ano, os irmãos Duffer colocaram o pivete no centro da trama, sendo a pessoa possuída pelo grande vilão Devorador de Mentes. E o moço manda muito bem!

    Era assustador, mas também dava pena. Tinha grandes momentos dramáticos, enquanto outras cenas o faziam gritar mais que fã do BTS. Sem falar nas cenas de confronto (tanto físico, como psicológico) contra Eleven (Millie Bobby Brown), que me faziam gritar diante da tela e assustar meu cachorro. E você tem que ser talentoso para se destacar perto desses jovens de Stranger Things, que são perfeitos num nível quase Rodrigo Hilbert.

    Sinceramente, sou uma pessoa que chora com série da CW, então não tenho emocional para lidar com essa montanha-russa de emoções nesta vida. O que esta coluna prova? Que eu sou uma pessoa amarga e preciso parar de julgar as pessoas? Óbvio, mas não vim aqui fazer terapia. Cada um dos casos citados acima, surge em contextos diferentes, então questões como roteiro e direção importam (muito) nessas transformações. Mas é legal perceber que o mundo não precisa ser dividido em caixas. O pessoal de farofa pode fazer drama, ou ficção científica, ou qualquer outro gênero.

    Longe de fazer comparações (já que apenas um dos exemplos acima lida com a questão da representatividade), mas isso me recorda o discurso de Viola Davis ao ganhar o Emmy por How to Get Away with Murder em 2015: ""A única coisa que separa mulheres negras é oportunidade. Você não pode ganhar Emmy por papéis que não existem!".  Basta criar  chances,afinal a vida é uma caixinha de surpresas, já dizia Joseph Climber.

    Moral da história: Abrace suas oportunidades de vida da mesma forma que Joey King se jogou em The Act.

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