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    Kati Critica: A arte de não ligar para Game of Thrones

    O caos é uma escada? Caos é pegar ônibus lotado em dia de chuva.

    Katiúscia Vianna é uma redatora do AdoroCinema que acumulou mais de duas décadas de cultura inútil e decidiu transformar isso num emprego. Nessa jornada, ela tem a missão de representar os fandoms barulhentos e/ou esnobados do Twitter, falar das séries que a crítica ignora e celebrar as '"farofas" que trazem alegria para o povo. Ou seja, os guilty pleasures! Com um ponto de vista 'singular' (ou doido, depende de quem opina), surge a coluna Kati Critica — misturando açúcar, tempero e um pouco de haterismo zoeiro.

    Senhoras e senhores, ser hater é um trabalho complicado. Demanda tempo, criatividade e muitas emoções. Mas ignorar? Isso é arte.

    Pelas próximas semanas, todos as timelines de minhas redes sociais, todas as conversinhas na fila do café, e (quase) todas as teorias da internet irão girar em torno de uma coisa: Game of Thrones. Digo quase, pois Vingadores: Ultimato está vindo aí e não aguento mais ouvir sobre a teoria do Homem-Formiga (Paul Ruddentrando no bumbum do Thanos (Josh Brolin). Mas isso é outra história. O ponto é que, sinceramente, estou pouco me lixando para o retorno da série de Emilia Clarke e companhia.

    Isso não quer dizer que eu ache a série ruim, então aguentem um pouquinho antes de começarem a me xingar. Faço cobertura de premiações para o AdoroCinema, então sei como a trama é aclamada, como os efeitos são maravilhosos e como tem performances boas de Peter Dinklage e Lena Headey, por exemplo. Simplesmente só não embarquei nesse trem. E está tudo bem. Não seja aquela pessoa mala, que fica enchendo o saco, perguntando "Como você vive sem ver Game of Thrones?". Pois a resposta que merecerá é: "Da mesma forma que você, respirando oxigênio!"

    Estou aqui para defender quem ignora GoT. Pois a tentação é forte. Cara, como não amar dragões? Mas quem continua sem ver essa bagaça merece reconhecimento. Olha, tenho certeza que a maioria dos fãs adora se empolgar com a série e ficar ansioso por cada episódio. Afinal, quem não gostaria de acompanhar a trama criada por um homem que só quer trazer um sorriso contente no rosto do público?

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    Mas não ligar é tão mais bacana. Não existe a preocupação de levar um spoiler na cara, só porque tive a "audácia" de entrar nas redes sociais, aos domingos, sem estar vendo o episódio ao mesmo tempo. Inclusive, trago abaixo imagens exclusivas do que acontece quando abro meu Twitter nesse dia:

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    A próxima crítica já é algo associado com o gênero de aventuras de época, mas também vale aqui: Por que esses nomes tão esquisitos? Parecendo marca de iogurte, Daenerys em si só já é complicado (uma pesquisa ao Google foi necessária). Ai ela ainda me diz que é Khalessi, rainha de sei lá o que, mãe dos dragões e um bando de títulos dignos do sobrenome de Dom Pedro II — sim, aqui tem espaço para piadinha histórica. AdoroCinema também é cultura.

    E ainda temos os nomes dos reinos, que demandam viagens que vão passar por pontos "turísticos" com nomes também complicados. Já era difícil decorar os locais que aparecem em O Senhor dos Anéis. Aquele filme tem três horas, menos da metade da temporada final de GoT. Imagina decorar sete anos de série + trezentos livros de George R. R. Martin? Meu nome é Katiúscia, algo que aprendi a escrever aos 4 anos de idade. Literalmente, tenho uma lista de variações de coisas que as pessoas me chamaram errado, ao longo dos anos. Tenho direitos e sei do assunto.

    Sem falar que todos esses reinos estão brigando por um trono de ferro que parece ser extremamente desconfortável. 

    Obviamente, toda série ainda tem uns detalhes complicados que só os fãs conseguem entender. Nem consigo diferenciar os dragões, imagina fazer a relação sobre como as tranças de Dany refletem sua jornada de conquistas ao longo da trama? E basta lembrar daquele ano maldito, onde qualquer mudança no corte de cabelo de Kit Harington era o suficiente para começarem cinquenta especulações se Jon Snow estava morto ou vivo. Já não consigo aceitar viver num mundo onde Instagram é fonte de notícia, mas isso é exagero. Imagina chamar o cabelereiro Jazza como colunista do Jornal Nacional?

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    E eu nem vou comentar a questão de incesto. Justamente, por não ser fã, nem acredito que tenha autoridade suficiente para opinar no assunto. E porque tenho um certo medinho dos fãs de Game of Thrones.

    Se você ainda está lendo esse texto até tal ponto, acho que merece receber mais sinceridade. Particularmente, existe um motivo específico para eu não conferir GoT: É muita morte. Não me entenda errado, sou uma garota agressiva demais para os padrões machistas da sociedade. E considero como uma das cenas mais marcantes da TV é ver meu personagem favorito matando 12 híbridos, com uma espada jogando sangue para todo lado, ao som de uma música natalina. (Saudades Klaus Mikaelson!)

    Mas eu sou trouxa. E fã da CW, um universo onde 95% dos personagens voltam do mundo dos mortos (segundo o Datafolha da minha imaginação). Até em Jane the Virgin — que é uma comédia romântica sobre uma garota que engravida por inseminação aritificial — isso acontece. Então, tenho certeza que se, eu começar a ver a badalada série da HBO, ia gostar do primeiro personagem que morre. Ou seria fã dos Starks, sei lá. Se já considero sofrimento demais acompanhar as recentes temporadas de This Is Us, imagina colocar meu coração (que se apega demais a pessoas da ficção) em Westeros?

    Por fim, a tia Kati é uma pessoa (moderadamente) sensata, então é importante explicar que ignorar socialmente não significa desdenhar da importância de algo na cultura popular. Aqui, trata-se apenas de não ligar emocionalmente, porém ainda saber o necessário para não ficar de fora dos paranauês. Afinal, quem gosta de ficar perdido, quando todo mundo conversa animadamente sobre algum assunto? Então, a esperteza é conhecer o mínimo. Primeiro passo: saiba o nome de uns personagens ou conheça parte do elenco. Tipo Dany (Clarke), Jon Snow (Kit), Sansa (Sophie Turner), Arya (Maisie Williams) e Tyrion (Dinklage). 

    No caso de um fenômeno cultural, também é uma boa estratégia ter conhecimento das principais piadas sobre o assunto. Tipo relacionar "You know nothing, Jon Snow" com "Sabe de nada, inocente" do Compadre Washington! Pode parecer besteira, mas o conceito básico do humor diz que o receptor da mensagem precisa entender o contexto para poder aproveitá-la. Traduzindo, se você não souber algo sobre "O inverno está chegando", você vai perder (ou não usufruir completamente) diversas brincadeiras e referências sobre o universo pop.

    Ao mesmo tempo, não caia no estereótipo. Os fãs odeiam que definam GoT como "dragões e sexo", por exemplo. Basta saber que esse mundo de fantasia também tem espaço para profundas questões humanas e surgem como metáforas para os obstáculos que enfrentamos na vida. O que eu falei? Pura enrolação, algo que todo mundo já fez numa questão discursiva da prova. Você não precisa passar por horas de sofrimento Stark, se não for sua praia, mas ainda mostra respeito pela paixão do colega e te livra de brigas inúteis. Conhecimento é poder. E poupar horas de maratona pode te dar mais horas de sono.

    Não tem problema nenhum ser fã, hobbys são necessários para distrair nossas cabeças de uma sociedade que parece estar desmoronando as vezes. Mas ficar julgando quem não assiste? Tem nada melhor para fazer na vida? Até agora não entendi o ódio ao redor da participação do Ed Sheeran, mas nem me meti. Pois sei o meu lugar e não tenho conhecimento se tal presença foi ofensiva ou desnecessária para a trama. Então, fico ouvindo meu "Thinking Out Loud" de boas no canto...

    Sinceramente, o máximo de relacionamento que mantenho com esse drama é ver a Leslie Jones surtando e twittando enquanto GoT está rolando. Me sinto representada, pois faço a mesma coisa com minhas séries. Só que com menos graça e/ou seguidores.

    A questão aqui é que todo mundo deve ter liberdade para gostar e não gostar do que quiser. Desde que não machuque ou tire os direitos do amiguinho, está valendo. O que seria do azul sem amarelo? O que seria da Marvel sem DC? O que seria dos Starks sem os Lannisters? Essa última eu realmente não sei, confesso.

    Moral da história: Ame ou odeie Game of Thrones, tanto faz. Mas está liberado adorar os dragões.

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