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    Kati Critica: Os incomodados com Capitã Marvel que se mudem

    Who run the world? Girls!

    Katiúscia Vianna é uma redatora do AdoroCinema que acumulou mais de duas décadas de cultura inútil e decidiu transformar isso num emprego. Nessa jornada, ela tem a missão de representar os fandoms barulhentos e/ou esnobados do Twitter, falar das séries que a crítica ignora e celebrar as '"farofas" que trazem alegria para o povo. Ou seja, os guilty pleasures! Com um ponto de vista 'singular' (ou doido, depende de quem opina), surge a coluna Kati Critica — misturando açúcar, tempero e um pouco de haterismo zoeiro.

    Originalmente, a coluna desta semana teria Carnaval como tema. Sabe, aproveitar essa época do ano para falar como ser cinéfilo e/ou seriador, sem vida social, é mais legal do que morrer de calor, no meio da multidão de algum bloco por aí. (Uma opinião que ainda defendo!) Porém, tudo mudou quando saiu a notícia que 'trolls' estavam fazendo críticas negativas para Capitã Marvel, antes mesmo de sua estreia.

    Ok, pessoas são estranhas e já fizeram isso antes. Mas o que chama atenção é como tal "mobilização" só aconteceu pois Brie Larson incentivou a diversidade na turnê promocional do longa, afinal o mercado de críticos é dominado por homens brancos de 40 anos ou mais. O que não é mentira. Aí surgiram supostos fãs haters dizendo que se sentiram atacados, pois a atriz não queria vê-los no cinema. Faço minhas as palavras de Amy PoehlerSeth Meyers e Tina Fey:

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    Para começar, ficou claro como o mundo precisa investir em aulas de interpretação de texto. Os professores podiam botar entrevistas com famosos na prova, ao invés de questionarem o que determinado autor queria dizer ao rimar janela com canela... Olha, sou uma hater por natureza. Na infância, eu já zoava quando aquela Chiquitita vinha cantar "Não me diga mentirinhas, dói demais". Mas a regra básica do haterismo é ver para falar mal com propriedade. (Afinal, que outro motivo me faria assistir a trilogia Cinquenta Tons de Cinza?) Lendo esses comentários, dá para ver que eles não fazem parte desse universo zoeiro da internet. Nem é 'trollagem' bacana. É simplesmente masculinidade tóxica.

    Por que existe o medo de dividir espaço com os grupos mal representados na mídia? Nesse caso, já sabemos que heroínas funcionam nos cinemas... Mulher-Maravilha fez a gente superar os traumas de Mulher-Gato! E está (mais do que) na hora do Universo Cinematográfico Marvel seguir os passos da DC e valorizar suas personagens femininas. Basta lembrar que todo mundo vibrou com o Capitão América (Chris Evans) segurando o Thanos (Josh Brolin) no trailer de Vingadores: Guerra Infinita, mas foi Wanda (Elizabeth Olsen) que paralisou o vilão com uma mão, enquanto destruía uma pedra do infinito e matava seu amado com a outra. Quando essa garota deixar de ser pó, vai precisar de muita terapia...

    Além disso, as mulheres são heroínas na vida real! Poderia ser filosófica aqui e falar como elas conseguem carregar outro ser humano em seus ventres; ou como resistem às pressões ridículas sobre aparências. Porém serei mais prática: tenta ficar de salto alto durante horas, vai! Sem falar das pobres coitadas que tentam apelar para sapatilha, mas precisam usar quatro curativos em cada pé, para não se machucar... Nós demoramos séculos para ter o direito de usar calças de forma aceitável na sociedade, enquanto ainda existe a chance de perdermos um olho por conta desses curvadores de cílios. E aquela famosa figura de dona de casa típica de comerciais dos anos 50 não nos representa.

    Tendo dito isso, aquelas saias rodadas de bolinhas são super bonitinhas e podiam voltar a moda.

    Sinceramente, quem está incomodado com Capitã Marvel não é fã de cinema. Principalmente de ficção científica e fantasia! Todos os clássicos têm uma mulher poderosa no grupo de protagonistas... Ripley (Sigourney Weaver), Sarah Connor (Linda Hamilton), A Noiva (Uma Thurman), Furiosa (Charlize Theron) e, é claro, Princesa/General/Rainha das nossas vidas Leia Organa (Carrie Fisher). Sem falar que Harry Potter (Daniel Radcliffe) teria morrido uns 6 filmes antes, se não tivesse Hermione (Emma Watson) ao seu lado!

    E essa mensagem também vai para os seriadores que reclamam da Jodie Whittaker assumindo o protagonismo de Doctor Who! A TV nos cedeu personagens como Buffy (Sarah Michelle Gellar), Xena (Lucy Lawless), Sidney Bristow (Jennifer Garner), Mulher-Maravilha (Lynda Carter), As Panteras, Supergirl (Melissa Benoist) e Jessica Jones (Krysten Ritter) para você reclamar de uma mulher doutora? Estamos falando de uma série onde o pessoal viaja pelo espaço numa cabine telefônica e é isso que te incomoda? Os brasileiros nem sabem mais o que é Orelhão!

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    Caro amiguinho, ninguém está querendo tirar seu espaço. Vocês acham que a gente vai transformar o planeta numa espécie de Themyscira da vida real? Só queremos levantar a voz, como diria Legalmente Loira 2. Só achamos legal reunir várias personagens femininas, na mesma cena, sem ser SOMENTE para que elas virem donzelas indefesas ou fiquem falando de relacionamentos por 2 horas.

    Reparou no uso do maiúsculo? Ainda gostamos de romances. Só queremos ter o mesmo tipo de espaço em drama, comédia, terror, ação, espionagem, filme conceitual que você finge entender... Em todos os gêneros. Por exemplo, olha a diferença no número de falas entre mulheres (na cor roxa) e homens (azul) nos filmes vencedores do Oscar dos últimos anos. (E o recente Green Book - O Guia também entra facilmente nessa lista, viu?)

    Ainda acha exagero? Não entende como aquela cena com a Mulher-Maravilha de Gal Gadot atravessando o campo de guerra é capaz de arrancar lágrimas de emoção, assim como as reuniões das Spice Girls e da Rouge? Então, vamos dar um exemplo... A recente Liga da Justiça das telonas é formada por 4 homens e 1 mulher. Já os Vingadores originais são 5 homens e 1 mulher. Agora, imagine se fosse o contrário e os heróis fossem minoria. Pense como seria ter apenas esse tipo de representação durante a vida toda! Não é tão legal né? Hoje em dia, quando os homens são estereotipados, já reclamam. Mesmo que venham em críticas geniais como esse hino de Rachel Bloom em Crazy Ex-Girlfriend.

    Sim, eu só queria dar um jeito de inserir essa música no meio do texto. Sutileza não é meu forte...

    Podíamos ficar debatendo sobre representatividade durante páginas aqui e isso seria mais chato que os textões sobre política no Facebook. Então, simplesmente deixo aqui meu relato para tentar desenhar tal situação. Eu sempre fui meio doida. Se você lê esta coluna, já sabe disso. E não aceitava como os homens sempre tinham liberdade de ser mais engraçados, enquanto as mulheres precisavam ser delicadas...

    Então, ver Barbra Streisand falando rapido, de forma hilária e apenas usando seu talento para conquistar os sonhos — e se chamando de "gorgeous" mesmo fazendo piadas com seu nariz — em Funny Girl, mudou a minha vida. Da mesma forma que um garoto pula do sofá, usando um lençol como capa, pois quer ser o Batman. Só para constar, eu também sonho em ser o Homem-Morcego, mas para ter o dinheiro do Bruce Wayne, só que isso não vem ao caso. 

    Moral da história: Podem me chamar de 'feminazi' ou qualquer outro xingamento. Nunca existe uma forma de agradar a todos. Mas, se acha que isso tudo é puro 'mimimi', o que está fazendo para provar que todos são respeitados de forma igual? Apenas reclamar num perfil anônimo no conforto de seu sofá é muito fácil, não?

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