“Les Misérables”, de Tom Hooper, é mais uma adaptação para o grande ecrã do eterno romance de Victor Hugo. Além de terem sido inúmeras as adaptações desta obra para o cinema, esperava-se algo de diferente e verdadeiramente original desta nova adaptação, já que ela teve como inspiração essencialmente o musical da Broadway e não a obra-prima de Victor Hugo. As primeiras imagens e trailers deixaram toda a gente com muita vontade de ver o filme e as oito indicações ao Óscar que o filme obteve veio deixar as expectativas ainda mais altas, tendo eu próprio ficado bastante curioso em ver esta obra cinematográfica. Os valores da produção eram surreais, o elenco era extraordinário e o material de base tinha tudo para originar sequências musicais excepcionais, mas Tom Hooper, uma vez mais, não nos encheu as medidas, sendo “Les Misérables”, na minha opinião, mais um filme bastante sobrevalorizado do realizador.
“Les Misérables” conta-nos a história de Jean Valjean (Hugh Jackman), um prisioneiro que consegue a liberdade condicional do seu guarda prisional, Javert (Russel Crowe), depois de cumprir uma pena de dezanove anos pelo roubo de um pão. Jean Valjean sabe que nunca deixará de ser visto como um criminoso aos olhos de Javert, mas mesmo assim decide tentar a sua sorte num novo mundo, totalmente modificado pelo passar dos anos. A tremenda miséria impele Valjean a cometer roubo numa igreja, sendo posteriormente apanhado por oficiais. Mas, ao contrário do que seria de esperar, o padre da igreja absolve-o de toda e qualquer culpa e oferece-lhe uma oportunidade de redenção. Esta oportunidade foi agarrada com toda a força por Valjean, que surge anos depois, com outra identidade, como uma figura respeitada e adorada pela população onde vive. Valjean volta a cruzar-se com Javert, reacendendo uma rivalidade antiga. Na sequência, Valjean causa o despedimento e a desgraça de uma funcionária da sua fábrica, Fantine (Anne Hathaway), e enfrenta outro caminho de redenção. Depois de ver todo o mal que proporcionou a Fantine, Valjean promete-lhe, antes desta morrer, que irá cuidar da sua filha, Cosette (Amanda Seyfried na versão adulta da personagem). Javert está cada vez mais próximo, sendo Valjean obrigado a fugir com Cosette ao seu cuidado e com uma revolução em Paris prestes a emergir.
Um dos principais pontos fracos do filme é mesmo a sua realização, deixando Tom Hooper, como já tinha referido, muito a desejar, tendo sido incapaz de filmar um musical desta envergadura com a imaginação e o sentido de grandiosidade que ele merecia. Os diálogos maioritariamente musicais, embora bem compostos e ensaiados, não deixam de causar a impressão de uma excessiva teatralizarão que não assenta completamente no grande ecrã. Os constantes diálogos musicais entre as personagens chegam a ser saturantes, sendo este mais um erro de Hooper, que deveria adicionar alguns intervalos para as necessárias apreensões e para o estabelecimento do elo emocional entre as personagens e o espectador.
Quanto aos actores, Hugh Jackman esteve muito bem, demonstrando que é um excelente actor e que consegue ser muito mais que um “bicho”. Em “Les Misérables”, a grande interpretação pertence a Anne Hathaway, que esteve absolutamente irrepreensível, sendo, na minha opinião, o melhor papel de sempre da jovem actriz. Russel Crowe teve um interpretação segura, como de resto já é habitual nele, deixando apenas um pouco a desejar enquanto cantor. Amanda Seyfried, foi uma das piores, talvez pelo facto de apresentar-se de forma irritantemente semelhante ao seu papel em “Mamma Mia!”. Eddie Redmayne foi competente, apresentando uma interpretação segura. Quanto à dupla Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, ambos conseguiram boas interpretações, mas estiveram longe de se inserirem com sucesso no enquadramento do filme, fazendo esta dupla parte da película com um único fim, o de arrancar algumas gargalhadas aos espectadores.
Esta nova obra de Tom Hooper não é um completo desastre, longe disso, mas com tanto dinheiro para a produção, com um leque de actores de luxo, com uma história de base fantástica, pedia-se a Hooper muito mais que aquilo que conseguiu.