Com certeza, a maior motivação que leva o homem a se aventurar no espaço, além, é claro, das pesquisas científicas visando desvendar um pouco da vastidão do universo; é, sem dúvida alguma, a curiosidade em torno da seguinte questão: existe alguma forma de vida nos planetas que rodeiam a Terra? Os créditos iniciais de “Gravidade”, filme dirigido e co-escrito por Alfonso Cuarón, respondem a essa pergunta quase que de imediato, uma vez que, devido à enorme variação de temperatura no espaço sideral, eles acreditam ser quase impossível levar qualquer forma de vida no espaço.
A Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock), o Tenente Matt Kowalsky (George Clooney) e Shariff (Phaldut Sharma) irão sentir isso, literalmente, na pele. Eles são os tripulantes de uma missão espacial enviada pelos Estados Unidos para uma operação de rotina que envolve o conserto de uma das estações espaciais que eles mantêm na órbita do planeta Terra. O que seria algo completamente trivial se transforma em um evento catastrófico quando os destroços de uma outra estação espacial comandada pelos russos viram uma arma letal que, não só destroi a nave espacial deles, como também deixa cada vez mais remotas as chances de todos eles retornarem com vida para casa.
Literalmente perdidos na vastidão do espaço, os personagens têm duas opções: ou se entregam a um sentimento de total impotência diante da situação em que estão ou enfrentam com coragem e força o desconhecido de forma a tentarem o milagre de voltar ao planeta Terra e, assim, serem resgatados. Acompanhar este dilema é somente um dos pontos mais interessantes do roteiro curto, de linguagem ágil e completamente direta escrito por Alfonso Cuarón e Jonás Cuarón. A dupla de roteiristas soube usar muito bem elementos que, em outros filmes, por exemplo, seriam fatais: como os silêncios e a restrição de situações narrativas que a premissa principal do longa ocasiona.
“Gravidade” é um filme que se aproveita muito bem dos aspectos técnicos – a construção do espaço e dos ambientes aos quais os personagens estão confinados é muito bem feita. A trilha sonora composta por Steven Price contribui muito também para a manutenção do clima tenso que permeia todo o filme. Entretanto, Alfonso Cuarón transforma “Gravidade” num belíssimo longa em dois aspectos fundamentais: na forma como a sua câmera consegue fazer poesia visual com o espaço e a maneira como ele confina os seus personagens a uma ótima direção dos atores. Enquanto George Clooney quebra o clima tenso do filme com seu verborrágico Matt Kowalsky, Sandra Bullock está soberba como Ryan Stone, representando muito bem, com gestos, com olhares e em monólogos, literalmente, solitários, o desespero de alguém que se vê jogada em algo que lhe é completamente desconhecido, mas que decide lutar até o fim.