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    Festival de Cannes 2016: Pedro Almodóvar brilha em retorno ao universo feminino em Julieta

    O diretor espanhol revelou na coletiva que chegou a pensar em rodar o filme em Nova York, e em língua inglesa.

    Copyright BORDE-MOREAU / BESTIMAGE

    Pela quinta vez, Pedro Almodóvar veio ao Festival de Cannes apresentar seu novo filme, Julieta, pelo qual recebeu entusiasmados aplausos após a sessão para a imprensa (o AdoroCinema estava entre eles, confira nossa crítica!).

    Logo em seguida, o diretor espanhol marcou presença na coletiva de imprensa sobre o longa-metragem. E logo de início explicou o porquê de seguir competindo pela Palma de Ouro, ao invés de adotar a mesma postura de Woody Allen e Steven Spielberg, que preferem se abster de disputas. "Não tenho o talento de Woody Allen ou Steven Spielberg. Respeito a postura dos dois, mas já que estou em Cannes prefiro vir em competição mesmo, creio que seja mais excitante. Creio que não seja nenhuma 'vaca sagrada' para a mídia, então não preciso levar meus filmes para o nível de fora de competição."

    Como de hábito, o roteiro de Julieta foi escrito pelo próprio diretor. Só que, desta vez, ele teve uma inspiração externa. "A origem deste filme foi a partir de três histórias curtas de autoria da escritora canadense Alice Munro", explicou. "Quando as li fiquei fascinado por elas, especialmente por uma delas. Tentei unificá-las, em torno de uma personagem principal chamada Julieta. O que foi um grande problema, pois tinha três histórias independentes."

    Almodóvar disse que, a princípio, pensou em fazer deste seu primeiro filme em língua inglesa. "A primeira versão do roteiro era situada em Nova York, porque eu era mais familiar à cidade do que ao Canadá. Encontrei várias atrizes americanas com quem adoraria trabalhar, mas não me senti muito seguro quando olhei o material em inglês, e aí decidi não fazê-lo."

    Diante desta decisão, Julieta ficou parado por algum tempo. Até que surgiu a ideia de adaptar a história para a cultura espanhola. "Uma família espanhola é muito diferente de uma novaiorquina ou canadense. Na América as mães sabem que quando suas filhas chegam à adolescência elas vão para a universidade e, a partir de então, as verão muito pouco. Na Espanha nunca quebramos estes laços. Foi quando definimos que faríamos a adaptação para a Espanha e que teríamos duas atrizes interpretando Julieta."

    O diretor também revelou que, curiosamente, foi um antigo fascinio que o incentivou a adaptar as histórias de Alice Munro. "Queria fazer um filme em um trem, estava fascinado com isto. O que seria bem complicado, porque havia pouco espaço para filmar, mas queria de qualquer jeito. Uma das melhores histórias de Alice Munro acontecia exatamente dentro de um trem, em uma citação a Pacto Sinistro, de Alfred Hitchcock. Este acabou sendo o impulso que precisava."

    O retorno ao universo feminino, ausente de sua filmografia desde Abraços Partidos (2009), também foi lembrado. "Quando resolvi que seria melhor rodar o filme na Espanha, adaptando-o para a cultura e geografia espanholas, neste momento passei a esquecer Alice Munro, por mais que ela de alguma forma sempre estivesse presente. Comecei a pensar nos personagens, aonde eles me levariam, e isto me levou de volta ao universo feminino. Mas esta mulher, Julieta, comparada às outras dos meus filmes, é mais vulnerável e frágil, com menos capacidade de lutar."

    Outra marca registrada do diretor que também está em Julieta é o uso de cores fortes, especialmente o vermelho. "Sou um filho do Technicolor, os primeiros filmes que assisti eram neste formato. Lá as cores dos filmes eram muito vivas e contrastantes, então quando comecei a fazer filmes busquei o mesmo tom de cor que tinha visto no Technicolor, mas isto era impossível por uma questão química!"

    Citado como inspiração maior para o melodrama brasileiro, Pedro Almodóvar surpreendeu com uma declaração que lhe foi dita por um velho amigo, Caetano Veloso. "Em relação ao melodrama, uma vez Caetano Veloso me disse que eu era um diretor brasileiro. Fiquei encantado com isso e é claro que concordei", comentou. "Mas a inspiração maior para os meus melodramas é o escritor espanhol Vicente Molina, que há algum tempo definiu o termo 'almodrama' (risos) Meus melodramas sempre têm muitas canções, cores exageradas, os personagens têm personalidade forte... Não existe pudor em mim, como escritor, ao desenvolver personagens."

    Vale lembrar que Julieta chegará aos cinemas brasileiros em 23 de junho.

     

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