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    O que Peaky Blinders pode nos ensinar sobre História?

    Série na Netflix estrelada por Cillian Murphy traz personagens reais e eventos marcantes do início do século 20. Hitler pode, inclusive, aparecer na próxima temporada.

    Uma das séries mais buscadas no Brasil em 2020, Peaky Blinders chegou às telinhas do Reino Unido há pouco mais de sete anos. Sucesso inesperado de público e de crítica, a produção original da BBC caminha agora para a sua 6ª e última temporada, com uma continuação em filme já confirmada pelo criador Steven Knight. A boa repercussão mundial se deve não apenas ao elenco afiado e à estética impecável, mas também ao roteiro envolvente de Knight, carregado de referências históricas.

    Protagonizada por Cillian Murphy, a trama acompanha o ex-soldado Thomas Shelby e sua família, que lideram uma perigosa gangue na cidade de Birmingham. Os Peaky Blinders realmente existiram e ganharam notoriedade na Inglaterra do final do século 19. A ficção, por sua vez, se passa no começo do século 20 e coloca o grupo à frente de um verdadeiro império, que se estende desde corridas de cavalo adulteradas até parcerias secretas com os russos.

    Apesar da liberdade criativa, o showrunner Steven Knight parece não abrir mão da História – aquela com H maiúsculo. Disponíveis no catálogo da Netflix, as cinco temporadas anteriores cobrem vários acontecimentos marcantes da década de 20, mostrando seu impacto sobre a vida e os negócios dos Shelby. Além de servirem como pano de fundo, as transformações políticas, econômicas e sociais da época inspiram algumas das reviravoltas enfrentadas pelos personagens.

    A nova leva de episódios, que pode trazer um conflito entre Tommy e Adolf Hitler, segue prevista para o fim de 2021 ou início de 2022. Enquanto isso, o AdoroCinema aproveita para reunir algumas lições históricas encontradas em Peaky Blinders. Confira a seguir.

    Peaky Blinders: Fotos e vídeos da sexta e última temporada da série estrelada por Cillian Murphy

    Thomas SHELBY É UM DOS MUITOS SOLDADOS QUE TIVERAM SEQUELAS DEPOIS DA PRIMEIRA GUERRA

    Peaky Blinders começa em 1919, um ano após o fim da Primeira Guerra Mundial. A Europa ainda não tinha se recuperado do conflito bélico que matou quase 20 milhões de pessoas, mobilizando cerca de 30 países. Mais de 65 milhões de homens se voluntariaram ou acabaram recrutados para lutar em exércitos de massa. Como consequência, boa parte deles ficou com sequelas físicas e psicológicas nos anos que se seguiram ao cessar-fogo.

    Na série, Tommy Shelby e seu irmão Arthur (Paul Anderson) fazem parte desses soldados que estiveram em combate e que, agora, sofrem de estresse pós-traumático. Atormentados por memórias do que testemunharam nas trincheiras da França, eles tentam esquecer as tragédias e os horrores usando entorpecentes como ópio e cocaína. Com a saúde mental debilitada, Tommy passa a ter alucinações e pesadelos com mortos. Já Arthur se torna um sujeito extremamente violento e descontrolado.

    PEAKY BLINDERS RETRATA O NASCIMENTO DE MOVIMENTOS SOCIAIS COMO O COMUNISMO

    Com o término da Primeira Guerra, a Europa viu seus governantes e suas ideologias caírem por terra. O povo questionava a decisão de lutar por uma causa que sequer lhe dizia respeito. Novas ideias políticas e sociais pipocaram por todo o continente, e novas lideranças surgiram para reivindicar os direitos dos trabalhadores – em especial dos operários, que enfrentavam condições precárias dentro e fora das fábricas.

    Nesse contexto aparecem dois personagens importantes: Freddie Thorne (Iddo Goldberg) e Jessie Eden (Charlie Murphy). Simpatizantes do Comunismo, eles sacodem Birmingham e a rotina dos Shelby. Logo na 1ª temporada, Freddie – que salvou a vida de Tommy no front – se torna um dos organizadores do sindicato comunista da cidade, incitando os funcionários da indústria de armas a entrarem em greve. "Qual é a recompensa que oferecem a você por seus sacrifícios feitos? Um maldito corte no seu salário", diz Freddie em um de seus discursos inflamados.

    Jessie, por sua vez, surge na 4ª temporada, que se desenrola entre 1925 e 1926. Com o fortalecimento dos movimentos sociais, a líder sindicalista estremece os negócios de Tommy ao questionar a desigualdade salarial entre seus trabalhadores de gêneros diferentes. "Você não tem banheiro feminino no segundo andar porque nenhuma mulher chega tão alto", ela explica ao mafioso, ameaçando instaurar uma paralisação caso isso não seja revisto. E, de fato, Jessie promove uma marcha ao lado das demais operárias de Birmingham, com o apoio de Polly (Helen McCrory) e Linda (Kate Phillips).

    Peaky Blinders: Personagem importante não vai retornar para a sexta e última temporada

    PEAKY BLINDERS NÃO ESQUECE DA IRLANDA E SUA REBELIÃO POR INDEPENDÊNCIA

    Embora não se aprofunde na história do Exército Republicano Irlandês (mais conhecido como IRA), a série traz alguns personagens que participaram do movimento separatista na Irlanda dos anos 20. O principal deles é a Capitã Swing (Charlene McKenna), integrante do movimento paramilitar que, por meio de atos terroristas, reivindicava o fim da interferência britânica e a unificação do território em um novo regime republicano.

    Swing parece ter bons contatos dentro do IRA e se aproxima de Tommy depois que ele se converte ao socialismo, na esperança de usá-lo a favor da organização. Mas essa não é a primeira vez que os agitadores irlandeses procuram se aliar aos Peaky Blinders. Na 1ª temporada, quando a gangue rouba um carregamento de armas em Birmingham, o feito chama a atenção do IRA local, que tenta se apropriar dos equipamentos para aumentar a força da chamada “República da Irlanda”.

    A QUEBRA DA BOLSA DE VALORES AFETA OS NEGÓCIOS DA GANGUE EM 1929

    A 5ª temporada de Peaky Blinders tem início com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. O crash de Wall Street entrou para a História como um dos eventos mais devastadores do mercado de ações americano, culminando em uma crise financeira que, durante 12 anos, acometeu a maior parte do mundo ocidental industrializado. E claro que a Grande Depressão pesou no bolso de Tommy.

    Na época, seu sobrinho Michael (Finn Cole) fora enviado aos EUA para expandir a império da família Shelby. Naquela fatídica quinta-feira, o rapaz tomava todas em Detroit quando descobre que a economia do país colapsou. Ele volta, então, para Birmingham com sua esposa Gina (Anya Taylor-Joy) e avisa ao líder da gangue que a empresa perdeu todo o seu dinheiro "legítimo" – isto é, que não vinha de atividades criminosas. No total, Tommy teve um prejuízo entre 50 e 75 mil libras esterlinas, o mesmo que o personagem de Winston Churchill (Neil Maskell).

    Quem Anya Taylor-Joy interpreta em Peaky Blinders? Relembre a personagem manipuladora na série

    O PODER DA FAMÍLIA SHELBY É AMEAÇADO PELO NAZIFASCISMO

    Após percorrer dez anos de História, Peaky Blinders enfim chega à década de 30, mostrando a origem das ditaduras totalitárias e sua rápida expansão pela Europa. Em 1922, Benito Mussolini já detinha o posto de duce do facismo italiano, ao passo que Adolf Hitler galgava os degraus para, em 1934, se tornar o führer do nazismo alemão. Nacionalistas, racistas, imperialistas e ultraviolentos: os porta-vozes da nova doutrina queriam reconduzir a Europa a sua antiga glória.

    Como exemplo disso está Oswald Mosley (Sam Claflin), um político de extrema direita que vira o principal inimigo de Thomas em Peaky Blinders. Baseado em um parlamentar britânico que realmente existiu, Mosley se aproveita de sua posição pública para semear o autoritarismo e defender a criação da União Britânica de Fascistas, a partir de argumentos supremacistas e classistas. Pela primeira vez, o líder da gangue se vê diante de um dilema moral e ideológico do qual também é alvo. Afinal, Tommy vem de uma família humilde e conseguiu ascender socialmente – ao contrário dos padrões pregados por Mosley.

    Com a ameaça nazifascista cada vez maior, o futuro de Thomas Shelby continua incerto, assim como o dos outros membros do clã. Enquanto seu suposto encontro com Hitler não acontece, só nos resta rever as cinco temporadas na Netflix – e esperar que, nessa história, o facismo não vença.

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