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    Tempo
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Tempo

    Atual e ambicioso

    por Kalel Adolfo

    M. Night Shyamalan é um dos cineastas mais controversos de nossa geração. De O Sexto Sentido — que se tornou um clássico instantâneo — até fiascos como O Último Mestre do Ar, o diretor está sempre provocando debates intensos acerca de seus projetos. Porém, gostando ou reprovando, é impossível não ser capturado pelo espírito disruptivo do diretor. E em Tempo, ele entrega mais uma produção desafiadora que nos cativa de formas positivas — e muitas vezes negativas.

    Estrelado por Gael García Bernal (Amores Brutos), Vicky Krieps (Trama Fantasma), Rufus Sewell (Cidade das Sombras), Alex Wolff (Hereditário) e Abbey Lee (Demônio de Neon), Tempo é a síntese da carreira de Shyamalan. Em outras palavras, isso significa que a obra te levará a extremos de forma abrupta.

    Não saber para onde seremos levados é um dos trunfos da experiência. Contudo, cada arco novo gera expectativas para os próximos, e nem sempre a produção consegue entregar algo à altura do que tenta construir.

    Trama ambiciosa com alguns momentos pretensiosos

    Extremamente criativa, a trama acompanha uma família que está curtindo as férias de verão em uma ilha paradisíaca. Chegando ao local — que é completamente afastado de quaisquer indícios de civilização — algo macabro começa a acontecer: todos passam a envelhecer precocemente e anos inteiros são perdidos em questão de horas. Agora, eles devem correr para descobrir uma forma de escapar da praia antes que suas vidas cheguem a um inevitável e acelerado fim.

    O projeto lida com questões existenciais que estão mais atuais do que nunca. A forma em que desfrutamos a rotina, o quanto deixamos o passado interferir nos dias atuais e o escapismo destrutivo são temas recorrentes durante as quase duas horas de duração do longa.

    Há momentos em que esses assuntos são abordados com uma sensibilidade ímpar, algo incomum na maior parte dos trabalhos de Shyamalan. A cena em que Guy (Bernal) e Prisca (Krieps) percebem que determinados conflitos são irrelevantes quando pensamos na finitude da existência é belíssima.

    Porém, em outros instantes, o cineasta tenta instigar reflexões sociais de forma simplista e grosseira. Ao invés de focar nas mensagens centrais, o diretor erra ao tentar colocar o maior número de tópicos possíveis na trama. E claro, isso faz com que determinados objetivos sejam atingidos superficialmente.

    Ambientação potencializa a intensidade da história

    Assim como em Fragmentado, Tempo consegue aproveitar ao máximo sua ambientação “limitada”. E digo isso da melhor forma possível. O modo em que a ilha vai de paraíso para uma prisão amedrontadora é engenhoso. E apesar de contrastante, a transição é orgânica e fatalmente cativante.

    Tanto as cavernas quanto o oceano desempenham um papel importante na história, aumentando a sensação de sufocamento. É como se a natureza fosse a verdadeira protagonista do projeto, e os personagens fossem meros coadjuvantes.

    E claro, tudo isso contribui para que o público consiga digerir a mensagem de impotência diante de algo tão grandioso — como o espaço, tempo e a morte.

    Histeria exagerada acaba diminuindo a seriedade do projeto

    Filmes recentes como HereditárioMidsommar de Ari Aster são exemplos perfeitos de produções slow-burn. Traduzindo, são aquelas histórias que vão pegando ritmo de forma lenta, até chegarem a um ponto de extrema intensidade e amedrontamento. Tempo pode ser encaixado neste subgênero do terror.

    Porém, o erro de Shyamalan é não conseguir manter uma linha linear acerca dos desdobramentos. Há muitas sequências calmas, procedidas por momentos fúnebres. E isso acontece durante o filme inteiro. Portanto, ao invés de aumentar gradativamente o suspense, o cineasta opta por uma direção inconstante, que está sempre quebrando expectativas e atmosferas.

    Além disso, a histeria que se instala no segundo ato da produção beira ao cômico. O excesso de informações e as reações desproporcionais dos personagens reduzem a seriedade do projeto e quebram a ilusão acerca deste projeto ambicioso.

    Desfecho polêmico pode desagradar o público

    Em uma tentativa de entregar um plot twist memorável, o cineasta acaba deixando as reflexões provocativas de lado para entregar um desfecho convencional ao público. Talvez a maior vitória da obra seja o seu mistério. A gama de pensamentos incitados pelo desconhecido é fascinante. E quando as respostas são fornecidas de maneira ordinária, o lado sensível e emocional do filme é deixado de lado. Mesmo assim, as temáticas avassaladoras de Old irão permanecer nos seus pensamentos por dias, e apenas por isso, o título se torna uma parada obrigatória na polêmica filmografia de M. Night Shyamalan.

     

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    Comentários

    • Bruno [FM]
      Shyamalan sem plot-twist bombástico é o Shyamalan? Sim, claro que é ele rs. Ele mesmo!Dei um Google e vi que Tempo é baseado em uma outra obra (Sandcastle) e possui uma história intrigante, confrontadora e beeeem fantasiosa. O interessante no roteiro e direção do Shyamalan, é como ele conseguiu sustentar uma história mirabolante dessa me envolvendo aos poucos e me fazendo acreditar como uma criança inocente naquilo tudo, mesmo estando desde o início com um pé atrás rs (o trabalho foi duro). Aquela famosa expressão comprar a ideia sabe? Nisso, o filme consegue se manter com o mínimo de entretenimento, sem ser ruim, cheio de furos, ou se perder em sua própria narrativa.Mas a história de Old é tão profunda de forma humana e traz uma metáfora tão forte de vida, que foi uma pena ele ter escolhido seguir por caminhos tão mais simplistas. Claro que, não havia necessidade alguma de construir um abstratismo intelectual, fazendo um daqueles filmes diferentões. Mas a necessidade de focar em dados científicos (tendo que deixar tudo mastigadinho), e dos personagens ficarem explicando tudo ao pé da letra pro espectador durante o desenrolar da história, talvez tenha sido uma solução um tanto inadequada para conseguir driblar o lúdico e se sustentar. E nessa preocupação (em excesso) de passar credibilidade dentro de seu contexto, que Tempo acaba entrando em alguns deslizes e perdendo tempo. E o que ele tem de melhor como história, acaba ficando em segundo plano e sendo mal aproveitado.Os personagens estereotipados foi outro erro. Afinal, só a história de cada um ali seria o suficiente para se construir algo bacana. No início, a sensação é de que estamos vendo uma série, não um filme. (E talvez Old, se encaixaria melhor nesse outro formato inclusive). Apesar de uma paradisíaca praia como cenário, também senti falta de uma trilha sonora (característica muito presente no Shyamalan) que construísse melhor o mistério e o suspense. O trabalho de envelhecimento/casting dos personagens (principalmente o do personagem do Alex Wolff), ficou muito bom! E pra ser sincero, isso foi o que mais me impressionou no filme todo.No fim, é um bom passatempo. (Não, péra...essa expressão não caiu muito bem). A crítica social subliminar ali, nesse momento de pandemia, também é muito oportuna e sarcástica (só faltou encontrar um morcego morto). E o tom cômico do Shyamalan em alguns momentos retratando a fragilidade humana diverte, mas old que esse não vai entrar pra lista dos melhores filmes desse diretor que sou assumidamente fã.
    • Marcio Vaz Fernandes
      O clima de mistério e o ritmo da trama é envolvente. Super recomendo.
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