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    Morbius
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Morbius

    Morbius é exatamente o que achamos que seria

    por Aline Pereira

    É difícil entender os motivos que fizeram Morbius chegar ao cinema ou ainda em que momento Sony e Marvel decidiram que este seria um bom personagem para apresentar ao público e que esta história contada seria o melhor caminho. Sem nenhuma pincelada prévia aos espectadores, o vilão interpretado por Jared Leto (e vamos falar sobre isso mais adiante) não parece ter muita razão de ser - não só como peça do universo cinematográfico que vem sendo desenvolvido ao redor do Homem-Aranha, nem como um entretenimento como Venom, que pode até ser questionável, mas é carismático.

    O filme acompanha a história de Michael Morbius (Jared Leto), um médico brilhante vítima de uma rara condição de saúde, que o torna dependente de transfusões de sangue contínuas e deixa seus movimento debilitados. Dedicado a encontrar uma cura para esta doença -que afeta também seu melhor amigo, Milo (Matt Smith)-, Morbius encontra solução em uma espécie de fusão entre o DNA humano e o de morcegos, o que resulta no surgimento de um monstro vampiresco e incontrolável (mas não muito), dentro dele. 

    O longa começa bem, apresentando uma premissa que é curiosa e inédita ao público mais casual, mas, depois, parece se esquecer de que pouquíssimas pessoas irão ao cinema já sabendo qualquer coisa sobre o personagem. Para que faça algum sentido -e ainda assim com muito esforço-, Morbius pede que seu espectador tenha alguma informação prévia. Não funciona, é claro, e o que temos é um filme tão confuso que pode perder a atenção e o envolvimento até da audiência mais disposta a curtir o momento.

    Que tipo de filme é Morbius?

    Quando as primeiras notícias da produção surgiram, tudo indicava que a Sony e a Marvel trariam um filme de terror ou, pelo menos, mais sombrio do que o habitual. Ao explorar a história de uma “criatura das trevas" interpretada pelo intenso Jared Leto, a pouca expectativa que havia diante do filme também girava em torno da curiosidade para ver esse peso à lá O Médico e o Monstro no tom da história. Entre os mais otimistas, se discutia até a possibilidade um novo caminho semelhane ao explorado pelas produções da DC. Nada disso aconteceu.

    Embora até rolem algumas piscadas discretas para Drácula, o longa pega uma estrada completamente diferente, com quase nada de sombrio. Nem o próprio protagonista quer isso. Michael Morbius se esforça para ser “do bem” o tempo todo e mesmo seus ímpetos vilanescos são breves demais - o que, aliás, deixa dúvidas sobre qual será o papel dele no futuro (se é que haverá), já que se trata de um antagonista de Peter Parker.

    Nesse sentido, a sensação principal é de que quase nada que acontece na história tem tanta importância assim. Isso depõe ainda mais contra o longa, por ser uma característica que a Marvel costuma dominar ao oferecer tramas com um grande senso de urgência e risco. Mesmo para quem já estava prevendo que o filme seria mais como uma ponte para a formação do universo do Homem-Aranha, falta um pouco de relevância, especialmente para quem está tendo contato com o personagem pela primeira vez.

    A origem e as motivações de Morbius já não parecem muito convincentes e o filme não ajuda a “temperar” o personagem, o que é um ponto crucial e mais do que possível. Basta lembrar que boa parte dos personagens que aparecem em Vingadores e em outros pontos do MCU também não fazia parte do time classe A nos quadrinhos - e, sabendo disso, o potencial pouco explorado é ainda mais frustrante.

    Em suma, Morbius é um filme em que falta investimento emocional, roterístico e financeiro - e este último nem seria um impeditivo para uma boa história, caso os outros dois fatores fossem trabalhados mais minuciosamente. Por exemplo: é possível que Morbius fosse mais atraente e cativante caso se esforçasse menos para ser sério ou se seus personagens fossem desenvolvidos com mais profundidade.

    Elenco de Morbius fica dividido entre o tom sinistro e a apatia 

    Quando o nome de Jared Leto está envolvido, é difícil saber o que esperar: vencedor do Oscar por Clube de Compras Dallas, o ator apareceu recentemente num papel caricato e esquisito em Casa Gucci, além de já ser conhecido pelos métodos intensos de preparação. Aqui, a surpresa é a sobriedade: Michael Morbius é um homem inexpressivo (o que poderia se justificar por sua história trágica), mas é difícil simpatizar com um personagem que parece tão distante. O mesmo acontece com Martine (Adria Arjona) - não há química entre o protagonista e seu interesse romântico.

    É irônico que, tendo em mãos um personagem que poderia abraçar o lado mais caótico e dramático de Jared Leto, nosso polêmico Coringa de Esquadrão Suicida tenha colocado tanto o pé no freio - tanto pela própria história quanto por ser uma figura que poucas pessoas já conhecem. A impressão é de que o trabalho de Jared foi limitado pelo roteiro. 

    Nesse balaio, Matt Smith é quem se destaca por ir pelo caminho oposto: conhecido por The Crown e Doctor Who, o ator traz a personalidade excêntrica e o lado caótico da produção. Milo é o personagem mais interessante da obra e, ainda assim, a sensação é de que havia muito mais para saber sobre ele do que o filme nos mostrou e que permitiriam um envolvimento muito maior. O passado de Milo e Michael passa rapidamente na tela e, com isso, o senso de importância desta relação também fica apagado.  

    Conexão entre Morbius e o Universo Cinematográfico da Marvel

    Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa presenteou os fãs com uma surpresa nas cenas pós-créditos e que colocou o universo do herói na Sony mais próximo ao MCU, oferecendo uma perspectiva de futuro interessante e que, certamente, tem todo o potencial para trazer próximas histórias atraentes. Morbius, ao contrário, veio com a promessa de surpreender o público com conexões e participações especiais - e nada disso veio.

    A ligação existe (veja detalhes com spoilers aqui), mas, novamente, é confusa e desencontrada, especialmente para quem não acompanhou a linha do tempo da Marvel nos últimos anos. Aliás, pensando no conjunto da obra, é até um alívio que a conexão entre esses mundos não tenha sido tão bem estabelecida e menos ainda com um caminho definitivo - quem sabe ainda há tempo para redimir Morbius.

     

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