Um Príncipe em Nova York 2 é uma reunião de velhos amigos com crítica a Hollywood
Diferente dos filmes de comédia desbocados e sexistas que fazem sucesso por aí, Um Príncipe em Nova York 2, que chega à Amazon Prime Video no dia 5 de março, aposta em um humor inofensivo e repleto de representatividade. Tal escolha toca na nostalgia e nos leva diretamente para os longas-metragens clássicos dos anos 80 e 90 — que tinham histórias simples porém marcantes. O "politicamente incorreto correto" de ícones como Eddie Murphy, Steve Martin e até mesmo Leslie Nielsen. Até mesmo nas terríveis (e desnecessárias) piadas sobre roubar algo de um leão e ter que ser circuncidado (!) para virar príncipe.
O enredo é relativamente simples (e previsível). Akeem é coroado rei de Zamunda, e seu pai (James Earl Jones) revela que um homem deve assumir o trono a seguir. Apesar de ter três filhas — uma delas super preparada para a tarefa — ele vai buscar seu filho perdido no Queens, em Nova York. Descendente este que ele nem sabia que tinha (nem que tinha ficado com outra mulher antes de Lisa!). A construção dessa explicação (sem spoilers!) é bem feita, e inclusive insere imagens do filme original, com uma ajuda da tecnologia de rejuvenescimento usada também na Marvel.
O twist desta vez é que Lavelle Junson (Fowler), filho de Akeem, é quem "cai de paraquedas" em Zamunda, quase uma releitura do personagem de Murphy chegando em Nova York dos anos 80 sem lenço e sem documento.
Amazon Prime Video
Embora o desenvolvimento e o final sejam calculáveis, o modo como o roteiro de Murphy, Kenya Barris (Black-ish) e David Sheffield (Um Príncipe em Nova York) é representado parece uma grande festa, uma reunião de velhos amigos, literalmente. Trata-se de um ode ao cinema do século passado e uma crítica forte aos lançamentos atuais. Usando e abusando da metalinguagem, o filme fala de Wakanda, questiona o cinema norte-americano e suas produções super-heróis, reboots e sequências de filmes que ninguém pediu, como o próprio. É um modo de sair da mesmice — pela tangente.
Franquia de Eddie Murphy aposta em representatividade, tal como Pantera Negra
Não há como negar as comparações com Pantera Negra: ambos os filmes são em nações fictícias na África, mostram uma realeza negra, tem enredos parelelos feministas e são sobre histórias de evolução pessoal e representatividade. Segundo o ator, a produção da Marvel seguiu os passos do longa de Akeem.
Não é spoiler dizer que a produção tem participações de grande parte dos atores e diretores negros de destaque no cinema atualmente. A equipe, nos bastidores, também é majoritariamente de não-brancos e traz muitos profissionais que também trabalharam em Pantera Negra. É o caso de Ruth E. Carter, figurinista ganhadora do Oscar por seu trabalho no filme da Marvel — a primeira mulher negra a ser indicada e vencer na categoria. Ela é responsável por visuais lindíssimos em tela. Outro destaque é a cena de luta, entre Akeem e sua filha, que também foi coreografada pela equipe de Black Panther (no original).
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É claro que ter elementos como figurino, música, dança e representatividade não necessariamente seguram uma produção. No entanto, Um Príncipe em Nova York 2 marca todas essas caixinhas como "verificadas" e ainda consegue entregar um bom roteiro, com uma dinâmica interessante entre os atores, que apostam no improviso. Jermaine Fowler, Leslie Jones e Eddie Murphy têm uma química que transparece para as telas. Não seria nenhuma surpresa se o personagem de Fowler ganhasse sua própria sequência/remake.
Quem era fã do filme original vai se deliciar com as referências e participações especiais. Já os novos espectadores talvez não consigam acompanhar o enorme hall de personagens que aparece em cena (alguns que não tiveram desenvolvimento o suficiente) e os easter-eggs, mas certamente vão se divertir com o tom alto astral do elenco comandado pelos clássicos da comédia Eddie Murphy e Arsenio Hall.
Apesar de ser um filme protagonizado por homens, a produção da Amazon Prime Video provoca questionamentos. A sequência de um filme de 1988 traz, sim, uma trama antiga e clichê (vide o personagem de Wesley Snipes!), mas revela uma reviravolta moderna, com direito a empoderamento feminino — muito bem-vindo no século XXI.
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