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    Detroit em Rebelião
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Detroit em Rebelião

    Tensão permanente

    por Lucas Salgado

    São poucos os diretores ou diretoras que conseguem construir e manter tensão como Kathryn Bigelow. Foi assim no quase independente Guerra ao Terror que superou o multibilionário Avatar na disputa pelo Oscar de Melhor Filme. E também em A Hora Mais Escura, ótimo longa estrelado por Jessica Chastain. Agora, cinco anos depois, a cineasta chega com Detroit em Rebelião, drama baseado em fatos reais que se passa durante os protestos da população negra por causa da violência polícial e abandono do Estado em 1967, em Detroit.

    Entre 23 e 27 de julho, de 1967, a cidade do estado de Michigan viu suas ruas serem palcos de protestos civis que resultaram em vários mortos e feridos, além de inúmeras prisões. A câmera de Bigelow desenvolve bem os momentos de tensão, mas falha um pouco ao apresentar a sensação de revolta que desencadeou nos distúrbios. É claro que ela não teria muito tempo para fazer uma contextualização maior, mas era necessário passar melhor o crescimento do sentimento de gerou aquele que foi o segundo maior protesto dos anos 60, só perdendo para o que seguiu o assassinato de Martin Luther King.

    Lembramos do documentário O.J.: Made in America, que para explicar como O.J. foi considerado inocente em seu julgamento faz uma grande retrospectiva dos casos de injustiças que atormentavam a população negra à época. Obviamente, Bigelow não tinha a duração de mais de 7h a seu dispor, como é o caso do premiado doc, mas fica a necessidade de apresentar uma faísca melhor.

    Após registrar a início do protesto após uma batida policial em uma festa, que resultou na prisão de todos os convidados, o filme foca mais sua históira e passa acompanhar alguns personagens específicos. Do lado da população, segue um cantor (Algee Smith) de uma banda que busca a primeira chance, mas que perde a oportunidade de fazer um show após as forças de segurança aconcelharem a casa de espetáculos a encerrar as atividades no dia. Ao mesmo tempo, apresenta um jovem e cuidadoso segurança (John Boyega) que cuida de proteger uma loja local. Ele tenta manter um bom contato com os policiais, mas aos poucos vai se deparando com absurdos cometidos pelos mesmos. Do lado dos policiais, o de maior destaque é Krauss (Will Poulter), um sujeito violento e instável, que quer mostrar serviço e demonstra muito pouca humanidade com a população local.

    O filme acompanha inúmeros outros personagens ao longo da história, mas passa a focar em um caso mais específico, que foi a batida em um hotel, seguida por violações de direitos e até mortes, num evidente caso de abuso de poder e preconceito.

    Se o início derrapa um pouco, a partir de sua metade, Detroit consegue de fato perturbar seu espectador diante de momentos brutais e violentos. A fotografia nervosa de Barry Ackroyd, dos inquietos Vôo United 93 e Capitão Phillips, ajuda a capturar a ação de forma quase documental e por vezes fria, o que pode incomodar algumas pessoas. Mas, ao mesmo tempo, quase que paradoxalmente, transmite para o público a mesma sensação de angústia vivida pelos personagens, que é difícil de aguentar.

    Retomando a parceria com o roteirista Mark Boal, Kathryn Bigelow ingressa num tema que é polêmica e atual até hoje, como vimos em casos recentes de violência policial nos EUA, como aconteceu em Ferguson, em 2014, e em vários outros após isso.

    Detroit está longe de ser o retrato final dos protestos de 1967. Provavelmente, um documentário trataria o que aconteceu de forma mais ampla e justa. Ainda assim, estamos diante de um bom recorte.

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    • joaomarcelo11@hotmail.com
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