Lindo filme. Trata de uma tragédia de forma delicada e sensível. A técnica de mangá aplicada ao cinema
não deixa de enternecer e comover profundamente a plateia. Uma verdadeira obra de arte. Diante de uma tragédia que se abate sobre o destino de duas crianças os autores elaboram uma poesia audiovisual que envolve a plateia com o intenso amor de dois irmãos. Subitamente órfãos, rejeitados pela família e perdidos por uma sociedade que está se decompondo ao final de uma guerra suicida seus últimos dias de vida são cheios de aventuras, cuidados e carinho mútuos. Os flashbacks e flash forwards dão ao assistente uma visão privilegiada de atemporalidade, mas que deixa um sabor de impotência por não poder proteger estes dois seres indefesos que caminham inexoravelmente para um fim trágico. Os fantasmas do passado são sempre revistos brevemente, dando ao menos um conforto compensatório de que afinal houve momentos e lampejos de felicidade ao longo das vidas destas duas crianças. Brilhantes são as imagens das brincadeiras da menina de 4 anos em seus momentos de espera solitária pelo irmão.
Vale a pena rever, ressentir e repensar. Esta obra prima do Estudio Ghibli elaborada por Isao Takahata tem um estilo próprio, uma personalidade tão forte que tem dificultado o surgimento de seguidores. Mesmo assim é tão marcante, que vários cineastas estão fazendo releituras ricas e.g. Justin Leach, mamoru Hosoda, Makoto Shinkai, Hiromasa Yonebayashi, Keiichi Hara que prometem dar sequencia a uma interessante tradição em animação. Um mangá animado que explora a violência de uma maneira diferente e não trivial. O uso de imagens fantasmagóricas de ambos os protagonistas ao longo da película são de uma beleza plástica que eleva o espírito e aguça a sensibilidade e consegue emocionar 100% do público. Verdades nuas e cruas como a que foi enunciada pela tia de Setsuko e Seita marcam a dureza e insensibilidade que os homens podem exibir de maneira banal e descuidada: "Os soldados não são os únicos que sofrem". Em contraponto , os sentimentos simples que fazem nossa humanidade, fraternidade e solidariedade são apresentados sutilmente mas com força impressionante. O dia a dia de crianças em sua luta pela sobrevivência nos desperta o desejo de defendê-los. Um ponto de grande criatividade narrativa é o fechamento em que se retorna ao início do filme e que nos alerta para a monótona repetição dos grandes males inevitáveis da vida: o sofrimento, a doença, a pobreza e a morte. Esta identificação estreita com os personagens em sua fragilidade e desproteção provoca uma profunda reflexão sobre o sentido da vida. Triste? Sem dúvida, mas também realista, como os milhões de outros casos ao longo de toda a história humana de de que nem tomamos conhecimento