Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Pânico (2022)

Em Pânico 5, a piada somos nós. E a gente ri.

por Aline Pereira

Dez anos após a estreia de Pânico 4, a franquia que mudou o gênero de terror slasher no cinema e apresentou personagens inesquecíveis como Sidney Prescott (Neve Campbell) e Billy Loomis (Skeet Ulrich) volta para um quinto filme que quer falar diretamente com você, que está assistindo. Repleto de boas piadas (muitas mesmo) do início ao fim, Pânico (2022) “sai dos trilhos”, em suas próprias palavras, para apresentar uma história sobre si e abraçar seu lado mais sem noção. Na falta de novidades para um gênero difícil de emplacar atualmente, a aposta é contar como o verdadeiro horror é mexer com um clássico. E isso é ótimo. 

O filme nos leva de volta a Woodsboro, que volta a ser assombrada pelo clássico "fantasma". Desta vez, a vítima-estrela é a jovem Tara (Jenna Ortega), que quase morre em um ataque do assassino e isso faz com que sua irmã mais velha, Sam (Melissa Barrera), volte à cidade. As duas ficaram sem contato por anos e a primeira boa surpresa é quando o filme revela por quê (mas não vamos dar esse spoiler, claro). Sam, seu namorado e os amigos de Tara, então, entram na batalha para para descobrir quem está por trás do Ghostface.

Pânico 5 também é um filme de comédia e o terror é o fã

Assinado por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, dupla responsável pelo ótimo Casamento Sangrento, o novo filme não economiza nas “auto piadas” que incluem, entre outros temas, “sequências feitas só para ganhar dinheiro”, “obrigação de trazer personagens e histórias antigos”, “repetição de fórmulas”, entre outras. A vantagem aqui é que todas elas são incluídas com esperteza e muito timing, o que torna Pânico 5 um filme surpreendentemente engraçado e cativante à sua maneira. 

Mas o que mais me chama atenção são as piadas com o público: os personagens falam, em muitos momentos, sobre como comunidades de fãs têm se tornado cada vez mais tóxicas, com exigências inalcançáveis demais e tolerância de menos. O terror dos diretores parecem ser os fãs: em outro trecho, uma das personagens cita a chuva pesada de críticas aos novos Star Wars - não há como negar que eles têm um bom ponto e a agressividade das “opiniões” está em qualquer página de comentários na internet. 

Ao tirar sarro de si mesmo incontáveis vezes (sério, são muitas mesmo), é como se Pânico 5 se adiantasse às críticas, rebatendo argumentos de que o filme não tem profundidade o bastante, de que é repetitivo, de que faltam camadas aos personagens. Argumentos estes que já foram usados em praticamente todos os outros filmes da franquia. Mas fazer piadas “admitindo as próprias falhas" e dizer que o público é que é tóxico demais funciona como uma história em si?

Bem, sim, funciona. A prova é que as duas horas de duração da sessão passam voando, não tem como ficar entediado e, mesmo que o tom do humor não te pegue completamente, vai te entreter - exatamente o que se espera de uma produção do gênero. Em uma de suas várias autorreferências, o filme diz que não é um terror "inteligente" e aclamado como HereditárioO Babadook ou as produções de Jordan Peele citadas por seus personagens. E está tudo bem, já diria a sabedoria popular moderna.

Tenso e violento, Pânico 5 homenageia o legado do terror

Brincadeiras e ironias à parte, não falta banho de sangue, distribuição totalmente gratuita de facadas e corpos explodindo em uma tensão constante. A trama não falha em nos dar uma sensação de perigo iminente de verdade e a imprevisibilidade torna a história toda mais envolvente - ainda que nem todos os personagens sejam tão marcantes. O Ghostface está presente quase o tempo todo e para quem gosta de ficar tentando adivinhar quem é o assassino (o que é inevitável, sejamos sinceros), melhor ainda: todo o grupo é muito suspeito e, provavelmente, os palpites mais certeiros vão vir só quando o longa estiver se encaminhando para o ato final.

É nesta violência explícita, na construção da tensão e no clima de desconfiança que Pânico faz sua homenagem ao legado de uma franquia tão histórica e um dos grandes sucessos do cinema dos anos 90. Alguns sustos podem até ser batidos atualmente, mas se ficamos apreensivos até hoje com uma porta se fechando ou um personagem olhando para o espelho é graças a filmes como esse. Nesse sentido, a nova produção mostra que alguns clichês não se perdem e continuam nos entretendo muito bem, obrigada.

Sim, os personagens originais de Pânico estão de volta

Como não existe Pânico sem Sidney Prescott, aqui está nossa inesquecível “final girl” mais uma vez atormentada pela volta do serial killer. Outros personagens originais do primeiro filme também aparecem, como Gale (Courteney Cox) e Dewey (David Arquette), sendo este último um grande destaque, com uma participação cheia de ótimos momentos. O antigo elenco se mistura bem ao time de atores que chegaram agora, que inclui o ator de The Boys Jack Quaid e o astro de 13 Reasons Why Dylan Minnette

O novo grupo reflete a relação que a geração atual tem com os filmes de terror e, seguindo o curso natural da vida, nem todas as fórmulas que faziam sucesso antigamente vão funcionar ou se tornar atrativas hoje em dia. Assim, os personagens novatos mostram uma forma diferente de lidar com o massacre que estão vivenciando ou das soluções para caçar as próprias pistas. Mas a sacada aqui é que mesmo assim, com todas as infomações nas mãos, eles continuam caindo nas mesmas ciladas - tendo total consciência delas.

Pânico 5 é melhor do que os outros filmes da franquia?

Neste tópico, não vamos considerar o primeiro filme de 1996, que tem seu lugar de pioneirismo e honra. Em relação aos outros, fica difícil colocá-los lado a lado para comparar porque há uma mudança na linguagem que distancia Pânico 5 dos outros. Mas a meta-linguagem e as quebras na história para falar sobre si, desta forma específica como vimos agora, sem dúvidas colocam o filme em destaque entre seus irmãos e vale a pena dar uma chance - sendo fã da franquia ou chegando agora. 

A fórmula e o resultado são exatamente os mesmos (sem deméritos, a gente gosta e já espera por eles), mas este nível e revisitação da autoconsciência mudam levemente a equação de uma forma que, no fim, é surpreendente, absurda e, principalmente, divertida como se propôs a ser.