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    O Mundo Sombrio de Sabrina: Crítica da 4ª temporada

    Série da Netflix estrelada por Kiernan Shipka chegou à sua última temporada com um final chocante.

    Nota: 3,5 / 5,0

    O Mundo Sombrio de Sabrina chegou ao fim com sua quarta e última temporada na Netflix. A série estrelada por Kiernan Shipka saiu de cena em seu auge, com um início arrastado, um meio interessante e um encerramento chocante.

    Finalizada pelo serviço de streaming antes que pudesse ter sua Parte 5 e um crossover com Riverdale a produção original Netflix sempre apostou em diversas ramificações. Afinal, Sabrina Spellman é meio bruxa, meio mortal, fato que justifica que a trama divida as atenções entre esses dois universos e seus respectivos personagens. No entanto, desde a 2ª temporada, quando a moça descobriu que era filha de Lúcifer (Luke Cook), o arco ambientado no Inferno foi adicionado, assim como o fato de que ela se tornou Rainha e deixou outra versão de si mesma para governar lá. Além disso, a série encontrou tempo para focar nas artimanhas teatrais de Padre Blackwood (Richard Coyle) e na "sofrência" tanto de Lilith quanto da Srta. Wardwell (interpretadas por Michelle Gomez, cujo talento é desperdiçado em uma trama desnecessária e irrelevante).

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    Basta dizer que o roteiro de Roberto Aguirre-Sacasa teve tanto pano para manga que gerou uma peça de vestuário que sobra de um lado e falta de outro. A produção não conseguiu amarrar todas as pontas soltas das temporadas anteriores, nem tampouco desenvolver o arco de cada personagem coadjuvante como mereciam.

    Por outro lado, Chilling Adventures of Sabrina (no original) conseguiu trazer o que se propôs: um enredo sombrio, sangrento e sobrenatural (beirando o terror), pautado em mitologias, com pitadas de romance adolescente, referências a cultura pop, rapazes desnecessariamente sem camisa e um bônus de cenas musicais empolgantes — com Ross Lynch, que é cantor na vida real, finalmente soltando a voz na série. Foi uma mistura de Alien, A Noviça Rebelde, The Good Place, Charmed e, é claro, Riverdale, outra série criada pelo showrunner e quadrinista Roberto Aguirre-Sacasa. E ainda teve Kiernan Shipka em dose dupla como Sabrina, no melhor estilo Operação Cupido.

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    Não dá para negar que a série tem uma assinatura artística, que se destaca em meio a tantas tramas. O trabalho de figurino, designer de produção e fotografia são primorosos.

    O Mundo Sombrio de Sabrina tem inspirações em O Chamado de Cthulhu e outras obras de Lovecraft

    Inspirada no trabalho de H.P. Lovecraft (com claras referências ao autor de terror), a quarta temporada mostra Sabrina e seus aliados tentando lutar contra oito terrores sobrenaturais, um por episódio. Tal escolha narrativa consegue fazer cada capítulo quase independente um do outro, e traz algumas das melhores sequências da série.

    Um dos destaques da temporada é o episódio três, "A Criatura", que traz claras referências à entidade cósmica Cthulhu, criada por Lovecraft, e todo o culto em torno dele. O capítulo é imerso em elementos aquáticos, criando uma atmosfera artística aterrorizante, e ao mesmo tempo necessária para a trama.

    O Mundo Sombrio de Sabrina na Netflix: Tudo que você precisa saber para assistir a última temporada

    Série teve homenagem a Sabrina, Aprendiz de Feiticeira

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    A temporada também explorou universos paralelos do mundo de Sabrina e companhia. Um deles, foi o capítulo quatro, "O demônio da perversidade", que mostrou uma Greendale alternativa que teria Blackwood como imperador. Enquanto a vontade do vilão não teve uma explicação verossímil, foi interessante ver os atores vivendo outras versões de seus personagens, como aconteceu no segundo ano da série.

    O mesmo ocorreu no sétimo episódio, "Sem fim", que mostrou literalmente um "universo espelho" de O Mundo Sombrio de Sabrina, que seria a gravação da sitcom dos anos 90, Sabrina, Aprendiz de Feiticeira, inclusive com as participações de Beth Broderick e Caroline Rhea, que interpretaram Zelda e Hilda na versão original. Uma bela homenagem à série que inspirou os quadrinhos e a produção da Netflix, e uma metalinguagem repleto de críticas irônicas à própria série — como o fato de Roz (Jaz Sinclair) ter que ficar cega mas "pelo menos receber um arco narrativo"; os atores masculinos são objetificados ao ficarem sem camisa o tempo todo, e o fato de Harvey e Sabrina não serem mais um casal (como nas HQs e na série original).

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    Produção original Netflix tenta abordar muitos assuntos ao mesmo tempo

    De fato, O Mundo Sombrio de Sabrina aposta em diversas críticas sociais, como feminismo, homofobia e defesa dos fracos e oprimidos, especialmente quando Sabrina concorre a co-presidente em Baxter High. É até curioso que Zelda (Miranda Otto) aponta que a sobrinha deveria se concentrar em derrotar os terrores sobrenaturais, ao invés de cuidar de assuntos mortais. Isso é justamente o que acontece com a série, querendo "compartimentalizar" os enredos, da mesma forma que Ambrose (Chance Perdomo) revela que Sabrina faz. Destaque para as atuações de Otto e Lucy Davis como Hilda.

    A série critica justamente suas falhas e aceita seus pontos fracos. Porém, foca em enredos desnecessariamente longos, como a birra de Prudence (Tati Gabrielle) contra seu pai; a trama de Lilith e seu filho; e a obsessão de Blackwood pelos terrores sobrenaturais. Ao mesmo tempo, ganha força ao focar no desenvolvimento de Rosalind e seu "tino". Mas os outros amigos de Sabrina ficam jogados a escanteio, Harvey (Ross Lynch) e Theo (Lachlan Watson) são reduzidos a tramas românticas, e o trio de Irmãs Estranhas é praticamente esquecido.

    Arco de Nick e Sabrina poderia sido melhor explorado

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    Alguns enredos, por exemplo, pareceram corridos demais, com os eventos acontecendo fora do tempo necessário (vide a última temporada de Game of Thrones). Nick (Gavin Leatherwood) tinha terminado seu relacionamento com Sabrina na temporada anterior para se encontrar, porém, o personagem não tem nenhuma cena que justifique isso na Parte 4. Inclusive, sua relação com Prudence é injustificável. Seu retorno ao encontro de Sabrina até começou com bastante potencial, com o rapaz se matriculando em Baxter High para conhecer o mundo mortal. No entanto, este evento durou pouco tempo e foi mal explorado. Ainda assim, a cena de Nick e Sabrina cantando a música de A Noviça Rebelde acalentou o coração.

    O Mundo Sombrio de Sabrina pode até não ter tido uma quinta temporada, mas conseguiu entregar um final sem muitas brechas. Os atores entregaram seu melhor, e parecem ter se divertido fazendo isso. Ainda que algumas pontas tenham ficados soltas, a jornada de Sabrina chegou ao fim. Se a série pretendia chocar, conseguiu. Para quem não notou, na primeira temporada, a jovem bruxa fez 16 anos, na última, 17, completando um ciclo lunar para a personagem e deixando um gostinho de quero mais. E o desejo para que os personagens consigam voltar em um crossover ou nos quadrinhos de Roberto Aguirre-Sacasa.

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