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    La Casa de Papel: Crítica da Parte 4

    Na temporada 4 da série da Netflix, o roubo fica em segundo plano.

    NOTA: 3,5 / 5,0

    ATENÇÃO! A crítica pode conter spoilers para quem não assistiu aos novos episódios da série.

    Até mais do que o plano do assalto em si, a verdadeira graça de La Casa de Papel, grande aposta da Netflix, sempre recaiu na forma como a série desenvolve seus personagens - especialmente com as idas e vindas no tempo. Se antes eles eram reconhecidos apenas pelos nomes de cidades, agora, já na temporada 4 de La Casa de Papel, o espectador certamente construiu bastante empatia pela grande maioria da equipe de assaltantes.

    No cenário da nova temporada, eles são liderados por um Professor (Álvaro Morte) que perde seu norte por algum tempo, e muito por isso o foco do plano de derreter todo o ouro fica em segundo plano, uma vez que a atenção se volta completamente ao núcleo de pessoas dentro e fora do Banco da Espanha.

    Não é como se o fato de a temporada abrir ainda mais espaço narrativo para tratar do drama entre personagens seja capaz de torná-la mais fraca, mas é evidente que o plano anda lentamente ao longo destes 8 episódios. Ou melhor, anda muito pouco.

    La Casa de Papel se aprofunda nas emoções dos personagens

    A temporada 4 aborda mais os desafios interpessoais dentro do Banco - incluindo novos personagens, um vilão diferente, reviravoltas surpreendentes e amadurecimento de alguns - do que a missão de derreter o ouro e provar à sociedade o quanto o sistema é falho ao expor rachaduras que não estão tão à vista. O emaranhado de desejos e idealizações sociais/pessoais que cerca o grupo se mostra como algo imprevisível: até mesmo com um plano teoricamente perfeito, tudo pode mudar em questão de segundos.

    A missão moral e social dos assaltantes não está tão em evidência nesta Parte 4, mas, ao mesmo tempo, a temporada é uma das mais emocionantes em termos de plot twists. Mais unidos do que nunca, personagens como Tóquio (Úrsula Corberó), Nairóbi (Alba Flores), Denver (Jaime Lorente), Bogotá (Hovik Keuchkerian), Helsinki (Darko Peric) e Estocolmo (Esther Acebo) demonstram bastante amadurecimento - com destaque para Tóquio, que evolui enquanto indivíduo ao se afastar da trama romântica com Rio (Miguel Herrán).

    Como já os conhecemos bem graças aos flashbacks de temporadas passadas, o desenvolvimento de todos os personagens citados já está bem delineado. E, se fosse necessário citar apenas uma personagem que move absolutamente toda a trama, sem dúvidas a personagem seria Nairobi (Alba Flores).

    Por outro lado, a série nos entrega mais informações sobre Palermo (Rodrigo de la Serna), e sua personalidade que contrasta bastante em alguns momentos (assim como acontecia com Berlim) garante reviravoltas importantes para o espectador duvidar e ao mesmo acreditar em sua lealdade.

    Ele é um dos personagens mais interessantes exatamente pela dualidade que evoca (ora calculista, ora emotivo), mas ao mesmo tempo isso não é algo completamente original - afinal, Berlim (Pedro Alonso) entregava a dose de imprevisibilidade na trama.

    Nossa crítica da temporada anterior foi finalizada com a seguinte frase: "Com uma season finale de ações e resultados chocantes, é certo dizer que os eventos da futura temporada não serão só mais um ato de resistência. Serão atos de defesa". De fato, o que vemos na 4ª temporada é a tentativa dos assaltantes em manter sua muralha intacta por fora, por mais que ela esteja ruindo por dentro.

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    A apresentação de um novo vilão que já estava dentro do banco ocasiona ações que não têm solução fácil, reiventando não só o plano em si como cada assaltante enquanto indivíduo. É por isso mesmo que vemos uma Tóquio mais centrada e uma Nairobi com protagonismo acentuado, por exemplo.

    Elenco mais entrosado na temporada 4 de La Casa de Papel

    A maior qualidade de La Casa de Papel é saber aproveitar cada um de seus personagens e atrair o espectador para o próximo episódio com ganchos fortes. Por mais absurdos que eles sejam e por mais que o plano pareça nunca mais ter fim, é divertido ver as (muitas) ramificações deste segundo plano idealizado pelo Professor.

    O foco se perde na maioria dos episódios, isso é verdade, mas é por um motivo plausível: a série decide seguir o caminho mais emocional - e ele só dá certo graças ao desenvolvimento prévio do grupo como um todo. Se isso não tivesse acontecido, o peso dos arcos dramáticos seria muito leve e não teria a capacidade de impactar da forma como acontece.

    Algumas escolhas da temporada não terão mais volta e são corajosas. É interessante notar que a ação está mais balanceada nesta temporada, ao passo que as sequências que demandam ação física estão ainda melhores em termos de coordenação, planos, cores e enquadramentos.

    Nos últimos três episódios (após o acontecimento mais marcante da temporada, ao final do episódio 6), vemos uma certa reestruturação da equipe, que muda após um grande choque e se prepara para a retaliação. Porém, o último episódio possui mais um desfecho aberto, que pode criar uma margem de certa exaustão por parte do público.

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    Os momentos que mais funcionam em La Casa de Papel são aqueles em que vemos o grupo de assaltantes tendo de lidar com pequenas ou grandes dificuldades. E o que segura todas essas pontas é o entrosamento do elenco, que parece estar cada vez mais à vontade ao longo das temporadas.

    É difícil, no entanto, certificar que isso dará certo para sempre. Afinal, a execução de um plano genial atrás de outro pode perder a magia se a história de base não fizer sentido. Alguns fãs já sentiram isso ao saberem que existia um segundo plano escondido no passado de Berlim, por exemplo.

    Por mais que a série ainda não tenha chegado a este ponto, isso pode acontecer num futuro próximo. Mas, enquanto isso, fiquemos com os twists narrativos, a ação sempre presente e aquela boa dose de suspense. Por agora, o entretenimento ainda está garantido.

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