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    Shazam! aponta uma nova etapa do Universo Estendido da DC (Análise)

    A julgar pelo trailer da aventura de David F. Sandberg, divulgado na última Comic-Con, as coisas serão bem diferentes daqui pra frente.

    As ligações com o Universo Estendido da DC e com os principais personagens de Liga da Justiça, como o diretor David F. Sandberg fez questão de provar, estão presentes no trailer; contudo, estes easter-eggs são ligações muito frágeis. Ao descontar estes pueris fios, não parece haver um pingo de Zack Snyder no material visto até agora da aventura do jovem Billy Batson (Asher Angel); o trailer, aliás, é completamente diferente do de Aquamantambém divulgado na Comic-Con -, personagem cujo intérprete, Jason Momoa, foi escolhido por Snyder; e cuja história, épica e repleta de batalhas enormes, parece seguir os passos das narrativas do diretor de Liga da Justiça.

    Narrativamente falando, Shazam! guarda muitas semelhanças com o hit Homem-Aranha: De Volta ao Lar. Um protagonista jovem recebe um dom especial e sobre-humano e precisa aprender a lidar com suas habilidades recém-adquiridas: a máxima "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades" faz parte do universo do Cabeça de Teia, mas poderia ser igualmente aplicada à jornada de Shazam. E, é claro, há a aposta no humor: no longa, Sandberg parece explorar bastante as saídas e os alívios cômicos - principalmente através de Jack Dylan Grazer e do herói titular, interpretado por um carismático e atrapalhado Zachary Levi. Assim, enquanto Momoa busca retomar o reino de Atlântida na base da porrada, Shazam simplesmente tenta aprender a voar: cada um com suas prioridades.

    Comparando ambos os trailers, fica evidente que os efeitos especiais de Shazam! são muito mais críveis do que os de Aquaman; por mais que o visual do longa de James Wan seja interessante, muita computação gráfica pode afastar o público, e Sandberg parece estar ciente disso. Baseado em inúmeras locações reais - ou seja, sem a presença massiva de chromakeys, as telas verdes/azuis usadas no CGI - e potencializado por um maior número de sequências diurnas, Shazam! também se distancia de Snyder pela via estética; neste ponto, o filme estrelado por Levi novamente se aproxima de De Volta ao Lar, e de um certo realismo que já vem sendo praticado pela Marvel em seu Universo Cinematográfico há 10 anos.

    Enquanto a pergunta que move Shazam! - o que um jovem de apenas 14 anos faria se pudesse se transformar no mais forte dos super-heróis? - se assemelha às questões fundamentais de outros personagens similares, é a resposta ao dilema que diferencia, de fato, a vindoura produção de tudo que vimos da DC nas telonas até o momento. Apesar da aparência adulta e de ganhar a "sabedoria de Salomão, a força de Hércules, a resistência de Atlas, os poderes de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio", Shazam continua sendo e agindo como quem ele realmente é: um adolescente.

    Jovial, divertido e até mesmo bobo, no bom sentido da palavra, Shazam! explora facetas que Snyder acabou escondendo no Universo Estendido da DC e, portanto, parece apontar novas direções para o DCEU. Todavia, vale ressaltar novamente que esta é apenas uma análise precoce: trailers são recortes muito específicos de suas obras. A aposta por um material de divulgação mais bem-humorado, aliás, pode ter sido simplesmente uma forma de atrair o público da Marvel. Ainda que pareça improvável, Shazam! pode replicar os erros passados de Snyder e não ser uma solução viável para os problemas do DCEU. De qualquer forma, o que é certo, neste momento, é que o longa indica, sim, uma nova estrada para a Warner/DC, e uma que é bastante diferente da trilhada até agora.

    Mas que futuro será este? Agora, a DC atravessa uma fase à deriva: diferentemente da Marvel, ou até mesmo da Lucasfilm, a subsidiária da Warner não tem um produtor-estrategista como Kevin Feige ou Kathleen Kennedy, uma figura que centralize os aplausos recebidos, críticas sofridas e decisões tomadas; e também não tem mais um  cineasta que unifique e/ou supervisione as visões criativas de suas produções, como fazia Snyder e como fizeram os Irmãos JoeAnthony RussoJames Gunnaté sua demissão por causa de seus tuítes ofensivos - no UCM. E em projetos tão grandes quanto Universos Compartilhados, ter um artista e um produtor que providencie um norte sólido é necessário para um compêndio tão complexo de filmes interligados.

    Em teoria, Patty Jenkins, extremamente em alta por causa do sucesso arrasador de Mulher-Maravilha, seria a substituta natural de Snyder, mas em se tratando de um estúdio que comandará dois universos narrativos paralelos com os mesmos personagens, nada é certo ou simples. De fato, o surgimento do DC Dark, apesar das expectativas, só complicou as coisas. Neste universo paralelo, que será iniciado com Joker, filme de origem do Coringa estrelado por Joaquin Phoenix, a Warner apostará em produções mais sombrias e violentas, provavelmente para surfar a recente onda das adaptações para maiores de super-heróis... enquanto dá continuidade ao Universo Estendido da DC.

    Assim, dois Coringas diferentes estarão ativos ao mesmo tempo: o de Phoenix e o de Jared Leto - que, como nós, está confuso com o atual estado das coisas -, já confirmado para retornar em Esquadrão Suicida 2 e no spin-off dedicado ao Palhaço do Crime e à Arlequina de Margot Robbie. Aliás, a personagem da indicada ao Oscar também brilhará com sua própria produção derivada, Aves de Rapina, e ainda pode pintar em Gotham City Sirens. E falando na cidade do Homem-Morcego, há também The Batman pelo caminho, que pode finalmente sair do ponto morto com Jack Huston no lugar de Ben Affleck.

    Nos últimos anos, a DC anunciou a produção de duas dezenas de títulos, cancelando alguns deles no processo, colocando outros no limbo e desenvolvendo outros tantos, como Mulher-Maravilha 1984 e Flashpoint, que será dirigido pelos roteiristas de De Volta ao Lar. E ainda há Lobo, Adão Negro, Liga da Justiça Sombria, O Homem de Aço 2, Batgirl... a lista continua.

    Para encerrar, uma consideração final em meio à loucura: caso Shazam! realmente coloque os dois pés no humor e abrace sua condição de comédia de ação, brota outra questão. Abandonar o drama seria o caminho certo para o Universo Estendido da DC? É óbvio que a solução de Snyder como resposta ao Universo Cinematográfico Marvel deu errado, mas replicar a estratégia da subsidiária da casa de Mickey Mouse pode também não ser a melhor resposta. Afinal de contas, por que é necessário apostar apenas na comédia para criar um hit de bilheterias? Seria este o único caminho para os filmes de super-heróis?

    Bem, a resposta vai ficar para os próximos capítulos. Shazam! estreia no dia 4 de abril de 2019.

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