Minha conta
    A História dos Blockbusters - Parte 5: Sobre vampiros, avatares e distopias

    E alguns muitos outros bilhões a mais.

    2012... E O MUNDO NÃO ACABOU

    Conhecido como o ano em que o mundo acabaria segundo rumores da internet, 2012 foi bem diferente do esperado. Na sétima arte, aliás, inúmeras produções conheceram dias bastante felize$$$. Assim como no ano precedente, o Top 10 das bilheterias de 2012 não incluiu uma produção original sequer; por isso, franquias antigas tiveram espaço de sobra para dominar: A Era do Gelo (o quarto filme arrecadou US$ 877 milhões), MadagascarHomens de Preto (cujos terceiros longas obtiveram US$ 746 milhões e US$ 624 milhões). Mas nada foi tão impressionante no ano em que quatro filmes ultrapassaram a barreira do bilhão ao mesmo tempo do que a ressurreição triunfal de James Bond. Com Sam Mendes (Beleza Americana) na direção e um Daniel Craig mais seguro do que nunca no papel, a saga 007 conheceu seu ápice com Operação Skyfall. Profundamente dramático, apresentando um vilão memorável (o Silva de Javier Bardem) e embalado por uma inesquecível canção-tema de Adele, 007 - Operação Skyfall arrecadou US$ 1,1 bilhão, ficando atrás apenas de Os Vingadores, mas superando o aguardado (e frustrante) encerramento da trilogia do Batman de Christopher NolanO Cavaleiro das Trevas Ressurge (US$ 1,08 bilhão).

    As adaptações literárias também se destacaram. Após nove anos afastado da Terra Média - e do fracasso de Um Olhar do Paraíso (US$ 93 milhões arrecadados contra US$ 148 milhões gastos, entre orçamento e publicidade) -, Peter Jackson retornou à obra de Tolkien para lançar O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (US$ 1,02 bilhão); mas apesar dos rendimentos bilionários, a trilogia protagonizada por Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) ficou muito aquém da saga O Senhor dos Anéis. Até porque o estilo de fantasia de Tolkien já tinha seu campeão no período: a série Game of Thrones, iniciada em 2011. Dragões e feitiços, principalmente após o término das aventuras de Harry Potter nas telonas e nas livrarias, saíram de moda - mas não o escapismo. Por isso, Hollywood decidiu beber de outra fonte, mais especificamente adaptando uma obra que já havia ocupado o vácuo deixado pelo jovem mago de J.K. Rowling e que apostara em um público-alvo que havia sido preterido até então.

    ROMANCES DISTÓPICOS

    Narrando o conturbado romance do triângulo amoroso formado pela humana Bella (Kristen Stewart), o vampiro Edward (Robert Pattinson) e o lobisomem Jacob (Taylor Lautner), Stephanie Meyer virou sensação entre mulheres de todas as idades ao redor do mundo com sua influente e vampiresca saga Crepúsculo. Reimaginando os "sugadores de sangue" popularizados por Anne Rice e trazendo um açucarado toque de romance trágico, a melodramática série literária abriu espaço para todo um subgênero de sombrias histórias de amor fantásticas e/ou distópicas e, a despeito das críticas negativas e de ter arregimentado uma legião de haters, ocupou o Top 10 das bilheterias desde que chegou às telonas, em 2008. Os cinco longas (Crepúsculo, Lua Nova, EclipseAmanhecer - Parte 1 e Amanhecer - Parte 2) arrecadaram mais de US$ 3 bilhões no total. Madrinha de um novo ciclo de produções, a série, finalizada nas telas em 2012, logo foi substituída por uma companheira à altura: a trilogia (ou tetralogia, nos cinemas) Jogos Vorazes.

    Fora do terreno dos super-heróis, Jennifer Lawrence venceu o Oscar por O Lado Bom da Vida e tornou-se uma das grandes estrelas do período, liderando a revolução contra um governo totalitário como Katniss Everdeen, uma relutante heroína dividida entre o amor dos personagens de Josh Hutcherson e Liam Hemsworth. E, de fato, Jogos Vorazes foi tão impactante nas telonas que quebrou recordes de vendas de ingressos de seus parentes mais velhos da Saga Crepúsculo e acabou retornando ao circuito exibidor devido à altíssima demanda do público. Extremamente relevante por trazer uma das primeiras heroínas da idade contemporânea dos blockbusters, Jogos Vorazes arrecadou US$ 694 milhões e deu o pontapé inicial em uma franquia que terminaria valendo quase US$ 3 bilhões. Com Crepúsculo abrindo caminho e Jogos Vorazes alargando as possibilidades, Hollywood se viu obrigada a pensar em um público e retratar personagens em posições de destaque que, anos antes, não teriam as mesmas chances. E é exatamente uma produção protagonizada por mulheres - ainda que não relacionada diretamente aos romances para jovens adultos - que viria a dominar as bilheterias do ano seguinte: Frozen - Uma Aventura Congelante.

    FRACASSOS UNIVERSAIS

    Mas antes de falar do gigante sucesso da Disney, olhemos para os equívocos. De fato, os flops do período demonstram que tudo que a indústria precisa fazer para lucrar é estar disposta a ouvir os anseios de seu público consumidor. É óbvio que, mais do que eventualmente, Hollywood tentará apresentar produções de qualidade questionável e custo infinito, e à época, contrariando a tendência das heroínas, as majors - especialmente a Disney - distribuíram fracassos memoráveis. Estamos falando dos casos de películas como John Carter - Entre Dois Mundos (2012) e O Cavaleiro Solitário (2013), uma fantasia e um faroeste, respectivamente, que certamente teriam mais chances uma década antes, quando a febre Piratas do Caribe ainda estava em alta. No entanto, a péssima leitura de mercado da Disney, o investimento quase bilionário em ambas as aventuras, a pífia recepção da crítica e as narrativas antiquadas que afastaram o público dos cinemas fizeram com que John Carter e O Cavaleiro Solitário, por mais que baseados em obras anteriormente conhecidas pelos espectadores, abrissem um rombo histórico nos cofre do estúdio.

    Para se ter uma ideia, analistas previam que John Carter precisaria de pelo menos US$ 600 milhões para cobrir os gastos de produção e marketing do longa de Andrew Stanton (Wall-E) estrelado por Taylor Kitsch - cuja carreira como estrela encontrou um fim prematuro após o fiasco retumbante desta equivocada obra. Mas John Carter só obteve US$ 284 milhões, pouco mais do que seu orçamento de aproximadamente US$ 263 milhões - sem contar com a verba de publicidade. O Cavaleiro Solitário, por sua vez, foi um golpe ainda mais sofrido, uma vez que reunia a dupla responsável pela bilionária saga Piratas do Caribe, o cineasta Gore Verbinski e o controverso astro Johnny Depp, acusado de embranquecimento. Muito aquém das expectativas dos executivos e do altíssimo gasto de aproximadamente US$ 375 milhões para produzir e promover a produção, O Cavaleiro Solitário precisaria arrecadar por volta de US$ 650 milhões ao redor do mundo para equilibrar as contas; no entanto, o filme acabou obtendo apenas US$ 260 milhões. O Wall Street Journal, inclusive, chegou a comparar o rendimento da aventura de Verbinski com outro lançamento da mesma época, em 2013, Meu Malvado Favorito 2 (US$ 970 milhões): O Cavaleiro Solitário custou três vezes o orçamento da animação e retornou 33% do montante acumulado pelo favorito animado do público.

    VOCÊ QUER BRINCAR NA NEVE?

    Retornando ao lado mais feliz da equação, Frozen surpreendeu nas bilheterias também por ser um filme original. Além de ser um dos primeiros exemplares de blockbuster a promover o empoderamento feminino - desconstruindo a ideia do "príncipe encantado" sem perder o feeling clássico das animações da Disney -, e ser embalado por uma canção-tema inesquecível, outro ponto importante da animação de Chris BuckJennifer Lee é o fato de que esta é uma produção autêntica, apenas livremente inspirada por um conto do fabulista Hans Christian Andersen. Em uma era onde Meu Malvado Favorito, Madagascar e A Era do Gelo já eram franquias consolidadas, Frozen andou na contramão e quebrou inúmeros recordes. Seu sucesso comercial remete inclusive aos grandes patronos da indústria dos produtos licenciados, como Tubarão e Guerra nas Estrelas. É possível encontrar toda sorte de objetos derivados das aventuras de Elsa (Idina Menzel) e Anna (Kristen Bell), algo que não era esperado pela dupla de cineastas. Buck, inclusive, chegou a declarar que o objetivo era repetir o sucesso de Enrolados - no fim das contas, Frozen - Uma Aventura Congelante acabou por arrecadar mais de 1,2 bilhão em todo o planeta.

    Ainda no âmbito da autenticidade, destaque para Gravidade, o Avatar de Alfonso Cuarón, que obteve US$ 723 milhões, derrotando duas produções de super-heróis - Homem de Aço (US$ 668 milhões), pontapé inicial do Universo Estendido da DC; e o esquecível Thor: O Mundo Sombrio (US$ 644 milhões). Mas enquanto “cavaleiro solitário” de seu bando, o sci-fi do cineasta mexicano, também aprovado pela Academia do Oscar e pela crítica internacional, Gravidade é mais um raro exemplo de produção original que encontra sucesso com as bilheterias. É claro que ter estrelas como Sandra BullockGeorge Clooney não fez mal; entretanto, Hollywood provou em 2013 que seguiria com disposição para apostar nos competidores errados. Assim, ainda que o triunfo de Velozes & Furiosos 6 (US$ 788 milhões) seja marcante, 2013 de fato se dividiu entre Frozen e os fiascos. Também estão na lista de falhas produções como Ender’s Game - O Jogo do Exterminador (US$ 125 milhões arrecadados contra um orçamento de US$ 110 milhões), um “mau surfista” da onda de Jogos Vorazes; a equivocada fantasia Jack, o Caçador de Gigantes, que abriu um rombo de aproximadamente US$ 130 milhões nos cofres da Lionsgate; RIPD - Agentes do Além (US$ 78 milhões obtidos vs US$ 130 milhões gastos); e Depois da Terra, ponto mais baixo da carreira de M. Night Shyamalan, que custou muitos empregos na Sony, entre outros.

    Após as tétricas incursões de 2012 e 2013 fora do âmbito do Universo Cinematográfico Marvel ou das obras da Pixar, a Disney decidiu dar um passo atrás para refletir o momento em que se encontrava. E ao mesmo tempo em que franquias literárias como O Hobbit e Jogos Vorazes se aproximariam do fim de suas vidas cinematográficas em 2014 e 2015 e outras sagas começavam a encontrar certa resistência e fadiga, a casa de Mickey Mouse encontrou a solução perfeita para seu dilema - e também para ditar ainda mais as regras da indústria: explorar seu próprio passado.

    facebook Tweet
    Links relacionados
    • A História dos Blockbusters - Parte 1: Sobre épicos, cineastas autorais e tubarões
    • A História dos Blockbusters - Parte 2: Em uma galáxia muito, muito distante...
    • A História dos Blockbusters - Parte 3: Os reis do mundo
    • A História dos Blockbusters - Parte 4: A jornada dos heróis
    Comentários
    Back to Top