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    O filme A Farra do Circo revela o desbunde do Circo Voador na Mostra SP

    Produtor do sucesso Bruna Surfistinha e diretor de Herbert de Perto, Roberto Berliner está com dois títulos na Mostra SP: A Farra do Circo e Serra Pelada, A Lenda da Montanha de Ouro. A gente viu o primeiro e bateu um papo exclusivo com o cineasta logo em seguida.

    por Roberto Cunha, em São Paulo

    Quinta-feira foi dia de cair na farra, mas antes que os leitores fiquem assustados, estamos falando de A Farra do Circo, filme de Roberto Berliner e Pedro Bronz, exibido aqui na Mostra SP. Berliner estava por aqui e o AdoroCinema aproveitou a ocasião para entrevistá-lo. Veja abaixo um panorama da sessão e, em seguida, o resultado do papo com o cineasta.

    Bom :) A Farra do Circo - Um túnel do tempo. Essa poderia ser uma boa definição para o documentário da dupla Berliner e Bronz. Reunindo imagens de arquivo em vídeo, fotos e recortes da época, a obra leva o espectador (conhecedor do Circo ou não) para aquele tempo em que um grupo de artistas se reuniu para erguer uma espécie de templo do desbunde, onde tudo (ou quase tudo) era permitido. Criativos e contestadores, usaram o improviso como arma em uma verdadeira usina de ideias e de talentos, gente que até hoje colhe os frutos daquela semente. E Luiz Fernando Guimarães, Regina Casé e Evandro Mesquita ilustram bem parte dessa efervescência concentrada. Focado no período do nascimento do projeto, em 1982, até o fracasso de uma empreitada no México, em 1986, A Farra do Circo revela com muita pureza passagens históricas, com depoimentos de Chacrinha (sem a buzina!) e dos realizadores, como Perfeito Fortuna. Mas tem muito mais, como imagens de Lobão ainda na Blitz, e até jogadores da seleção, como Branco e Alemão, interagindo com a trupe. Embora a qualidade da imagem e do som não sejam a ideal (estamos falando de arquivos maltratados pelo tempo), o resultado final é positivo e totalmente dentro do espírito libertário do grupo. Vale a viagem! ;)

    Prêmios & Festivais

    Festival do Rio 2013 - Prêmio Especial do Júri - Documentário

    Onde e quando

    28/10 - 14:00 - Cinemateca - Sala BNDES

    * Não existe trailer disponível

    ENTREVISTA - ROBERTO BERLINER (DIRETOR)

    Por que A Farra do Circo agora, o que motivou você(s)?

    Esse é um projeto que começou em 1982. Esse filme está para ser feito desde essa época. Foi lá no Arpoador que eu começei a filmar, com uma câmera do Buza Ferraz (1950-2010), que ele não usava e aí não parei mais. O primeiro vídeo tinha uns 20 minutos, era sobre o Circo do Arpoador e parte dele taí no filme. Mas o tempo foi passando, ele ficou meio abandonado por diversos motivos, outros projetos aparecendo, e aí acabou 31 anos depois ele taí e, talvez, ele ganhe uma nova dimensão por causa disso.

    Então é como se fosse uma extensão mesmo daquele "energia" do Circo... tinha teatro, poesia, música e você ali já pensando em fazer um filme?

    Quando eu saí da TV Globo, peguei o dinheiro do FGTS, investi numa câmera, fui morar no escritório do circo, junto com o Perfeito.

    E sobre essa chegada dele agora, existia alguma intenção de aproveitar os 30 anos, algo assim?

    Não. As pessoas ficaram querendo criar os fatos, mas eu não me preocupei com a data não.

    Pensando nessa magia toda do Circo, você acha que existe espaço para isso acontecer novamente, você já vê algo parecido?

    Eu acho que a gente está no momento que as pessoas sabem o que elas não querem. "Não é isso, não é isso. Vamos destruir, destruir!" Eu espero que o filme ajude as pessoas a perceberem que é legal negar as coisas, mas afirmando outras. A gente também tava negando um monte de coisas, mas vamos parar de reclamar... Tem uma coisa que o Perfeito (Fortuna, ao lado) falava muito que era "quem reclama já perdeu". A ideia era vamos fazer, de qualquer jeito, precariamente, mal feito na maneira que a gente conseguisse a gente ia tocando para frente e os projetos iam se concretizando. Negar também é positivo, mas eu quero ver é uma coisa propositiva. Espaço tem. Eles deviam aproveitar essa energia para uma coisa nova.

    Tem um momento especial do doc em que vemos o poeta Chacal num desabafo radical, chocante até... Existe alguma razão especial para ele estar ali?

    A gente considera o Chacal a alma do Circo. E o filme cobre o período entre 1982 e 1986. Ali, aquele momento do desabafo é o que consideramos como se o nosso sonho tivesse acabado. O Brasil perde a Copa do Mundo e a gente volta para o país. Aquele desabafo é um desabafo nosso, meu especialmente, através de Chacal que falou com muita propriedade. É um momento que me toca muito e, talvez, um dos mais tocantes do filme. O Chacal é isso. É radical, ele se entrega de corpo e alma no que faz e é assim até hoje. Em cada sessão a gente vê que tem gente que ri, que chora, fica nervosa... cada um fica de um jeito, mas aquele desabafo é fundamental.

    O filme foi premiado no Festival do Rio, local onde o circo começou. Como foi a repercussão?

    Muito emocionante, uma energia... Porque a plateia era praticamente de gente que viveu aquilo, foi em duas salas simultâneas, e cada imagem tinha um significado mais específico, mais próprio para eles. Foi muita emoção e alta tensão.

    São quatro anos de história do Circo Voador, mas mostrado agora, 31 anos após o "nascimento da criança". Esse parto foi díficil?

    O fundamental foi a gente definir o que a gente queria falar. Tem esse recorte do período em que eu vivi dentro do circo, até esse momento que a gente retorna do México. É quando digo que o sonho acabou, aquela vontade de fazer um mundo diferente, sem pensar em dinheiro, de uma maneira radical, sexo, drogas rock'n roll... Nossa meta era fazer o impossível o tempo inteiro, fazer o que nunca tinha sido feito. E o primeiro recorte foi esse, de 82 a 86. A espinha dorsal do filme é essa. A gente começou com essa parte que é o show A Farra da Terra, de comemoração de um ano do circo, na Lapa, com Barão Vermelho, Brilho da Cidade, Caetano e o Asdrúbal Trouxe o Trombone. E essas músicas são entremeadas pela história do circo.

    Tem algo que vocês cortaram que você lembra ter dado pena de tirar?

    Muitas. Muita coisa a gente não deveria ou não poderia nem mostrar. (risos) Mas nada significativo, nada que não deixasse contar a história que a gente queria mostrar. O Pedro é de uma geração mais nova. A gente fez junto o filme do Herbert juntos. Ele viveu a história a partir dos anos 90 e foi bom fazer com ele por conta desse contraponto do ponto de vista mais distante.

    Falando nisso, por que Paralamas do Sucesso cantanto "Veraneio Vascaína" e não "Vital e sua Moto", hit dessa época, tocando na Rádio Fluminense FM, por exemplo?

    Eu acho que era mais lugar comum. É mais legal essa coisa do Herbert falar Renato Manfredini. Ele era um cara que falava muito do Legião Urbana para todo mundo, antes do Renato Russo aparecer. Achei legal ele cantando e falando o nome... Vital faz parte do Paralamas, talvez fosse mais óbvio, mas eu até usei eles tocando essa música no Herbert de Perto.

    Muitas bandas e nomes passaram pela lona, como Zé da Gaita e foi bom demais ver o Celso Blues Boy nos velhos tempos, um cara que era marca registrada do Circo... Eu lembro das maratonas de shows que vocês promoviam até de manhã...

    Muito bom mesmo! O Celso foi o cara que mais tocou no Circo Voador. E a gente ficava jogando, apostando em qual banda ia arrebentar. Tinha bandas muito boas que não aconteceram.

    Para saber mais sobre a Mostra, clique nos links abaixo ou veja críticas e panoramas dos filmes exibidos.

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