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    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Elementos

    A Química do Amor (mas não é a do Luan Santana)

    por Katiúscia Vianna

    Quando compra ingresso para um filme da Pixar, você já espera algumas coisas: uma animação visualmente linda e algum grande ensinamento moral que pode te fazer chorar no final da sessão. Mas a recente onda de lançamentos do estúdio surge com o tema da aceitação - e sinceramente, precisamos disso. Luca era sobre um ser aquático com medo dos humanos o rejeitarem pelo o que ele é; Red - Crescer é uma Fera fala sobre trauma geracional; e enfim temos Elementos; uma obra que mistura um pouquinho desses dois, adicionando um elemento (desculpe o trocadilho) especial: romance.

    Qual é a história de Elementos?

    Elemental (no original) é ambientada na Cidade Elemento, onde vivem diferentes tipos de seres, formados por água, terra, ar e fogo. Porém, esse último grupo ainda não está totalmente integrado à sociedade local. Nesse contexto, temos Faísca, uma temperamental e inteligente filha de imigrantes orgulhosos de sua loja na área frequentada pelos seres de fogo. O pai da jovem sempre sonhou que a protagonista siga com o trabalho da família - que não tenta se aventurar pelo centro da cidade.

    Tudo muda quando um acidente coloca Faísca diante de Gota, um ser formado por água, que acaba colocando o futuro da loja de seu pai em perigo. Como ele é um moço cheio de empatia e sentimentos, Gota decide ajudá-la numa missão de salvar esse negócio e, consequentemente, evitar algo que destrua as vidas dos moradores de fogo. A partir daí, surge uma clássica situação onde opostos se atraem e preconceitos devem ser derrubados.

    O filme é dirigido por Peter Sohn, conhecido por dirigir O Bom Dinossauro, além de atuar no departamento de arte de grandes longas do estúdio, como Up: Altas Aventuras, Toy Story 3, RatatouilleOs Incríveis e Procurando Nemo.

    A separação (e união) de fogo, água, terra e ar

    A história de Elementos é livremente inspirada na infância do cineasta Peter Sohn, filho de imigrantes coreanos que viveram nos Estados Unidos. Desde os minutos iniciais da animação, já é possível perceber como o longa é uma parábola sobre imigração - e sobre o preconceito que as pessoas sofrem todos os dias por ter uma aparência (ou ser de um lugar) diferente dos outros. Nesse quesito, as metáforas são bem claras e algumas acertam em cheio, apesar de estarem cercadas por diversos trocadilhos para atrair a atenção das crianças. Afinal, animação não é só para os pequenos, mas eles também contam ingresso.

    Colaborando nesse sentido, a Cidade Elemento é um show visual onde mostra que a Pixar segue com tudo no setor. Se LucaRed tinham seres mais cartunescos, aqui os personagens ainda carregam isso, porém tem elaborados visuais que caracterizam cada um dos elementos. Por exemplo, o cuidado com Faísca é parecer que seu corpo é feito de fogo, não que pareça um corpo pegando fogo. O estilo de animação de cada comunidade também se destaca, então fazer os bonequinhos de Faísca, Gota e companhia na vida real não deve ter sido fácil (Se eu quero ambos? Com certeza).

    O mundo criado por Elementos também lembra a cidade de Zootopia, que também carregava uma mensagem sobre aceitação e preconceito. Mas o filme da Disney ganha vantagem por aproveitar seu universo de uma forma bem mais ampla que o recente longa da Pixar. Elementos acaba sendo muito focado em fogo e água, usando terra e ar apenas para algumas piadinhas, mas sempre coadjuvantes do romance impossível de Faísca e Gota. Temos um breve vislumbre de como terra e ar se misturam, ou água e terra, mas é inegável que o foco está no descaso com a comunidade do fogo. Afinal, não deve ser fácil morar numa cidade que não foi criada para acomodar suas necessidades. Insira outra crítica social bem aqui.

    Elementos é uma comédia romântica

    Porém, o charme real de Elementos é descobrir que, além de ser um drama animado, é também uma comédia romântica. Que atire a primeira pedra quem nunca curtiu um “enemies to lovers” ou opostos se atraem! Faísca e Gota são literalmente de elementos contrários, mas não conseguem negar a conexão que existe entre eles - por mais que Faísca tente se afastar. Nesse sentido, surge uma outra fórmula apaixonante das comédias românticas: o mocinho bondoso que precisa conquistar a menina cética. Ah, um clássico!

    Então, estava eu, quietinha na minha cadeira do cinema, comendo meu pão de queijo (me julgue, eu não gosto muito de pipoca), quando me deparei com uma realidade chocante: seria Gota um forte candidato a galã romântico de 2023? Ele não tem o físico de Michael B. Jordan, nem mesmo é um humano - o que prova quanto minha racionalidade é falha. Mas se ele fosse interpretado por um Chris Evans num filme com a Ana de Armas, existiriam milhares de fancams com esse homem no tik tok.

    Brincadeiras à parte, é muito fofo ver as interações entre Faísca e Gota, que fazem jûs aos clichês de qualquer comédia romântica de qualidade. Tem até música tema do Lauv (que também foi o cantor responsável pela principal canção da franquia Para Todos os Garotos que Já Amei). Durante todo o tempo, você fica torcendo pelo casal, só que, ao mesmo tempo, surge a apreensão que um toque entre eles seja fatal. Obviamente, questões reais de química não são prioridades numa narrativa voltada para o público jovem, mas ainda é um risco.

    Vale a pena ver Elementos?

    Elementos se esforça para ser uma história universal: existem referências a vários tipos de culturas e traz uma realidade difícil sobre aceitação. Também é impossível não se relacionar com a pressão que Faísca sente em ser a filha perfeita, afinal como podemos honrar os sacrifícios daqueles que cuidaram de nós? A resposta que tanto esquecemos é uma só: seguir vivendo. Carregar aqueles que amamos conosco, enquanto também seguimos o nosso próprio caminho.

    Ao mesmo tempo, Elementos se trata de uma história bem apaixonante, fazendo referência ao amor interracial, destruindo a ideia de masculinidade tóxica e desmistificando preconceitos entre diferentes comunidades. Talvez o filme dê um passo maior que a perna ao abranger tantas coisas, mas o resultado final é agradável - tanto para ver, como para sentir. E te faz questionar: Quando vou encontrar um Gota na minha vida?

     

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