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    Sergio
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Sergio

    O homem e o diplomata

    por Barbara Demerov

    Sergio Vieira de Mello foi uma figura extremamente importante para a ONU (Organização das Nações Unidas). Ao longo de 34 anos dedicados à organização, Mello esteve em missões em diversos países, foi o responsável por implementar uma nova Constituição em Timor Leste após décadas de invasão indonésia e, posteriormente, pouco antes de sua morte, esteve no Iraque para promover assistência aos civis durante a chamada Guerra ao Terror, provocada pelos EUA após o atentado às Torres Gêmeas.

    Sua história certamente entra no mesmo patamar de outras pessoas que marcaram época no sentido social e político da palavra. Assim como Paul Rusesabagina, por exemplo, que teve sua história contada no filme Hotel Ruanda, Mello defendia o trabalho em campo e atuava, sempre que possível, na linha de frente. Tal característica de sua personalidade está muito bem demarcada no personagem interpretado por Wagner Moura em Sergio. Dirigido por Greg Barker (que, por sua vez, já havia produzido um documentário sobre o diplomata em 2009), o longa mantém o foco no protagonista o tempo todo, mesclando tons de romance para encontrar um fio condutor que ande pelos pontos mais marcantes de sua trajetória profissional.

    Salvo algumas passagens distintas que procuram humanizar ainda mais a figura de Mello, como quando ele conversa com uma civil em Timor Leste que apenas deseja "ser ouvida", o longa demarca bem a determinação de seu protagonista e o constrói dando ênfase em suas qualidades e defeitos na mesma medida. Algumas cenas, como a da conversa com a civil e outros diálogos um tanto expositivos que reforçam sua posição contrária a dos EUA no caso de Bagdá, possuem um tom documental que condiz com a linguagem do diretor (especialmente pelo fato de Mello já ter sido um personagem em si no documentário de 2009). O estilo da direção no geral também se assemelha com o estilo de documentário - a oscilação da câmera na mão, os planos mais próximos ao rosto do protagonista, etc.

    O já citado fio condutor de Sergio é o relacionamento amoroso de Mello com Carolina Larriera (Ana de Armas) e, além disso, a ferramenta de idas e vindas no tempo gerada pela montagem. O intuito claro desta escolha é tornar a história do diplomata ainda mais marcada por seus ideais e sua vontade de mudar o mundo, o que o faz deixar sua própria vida pessoal para trás. Porém, esse instrumento narrativo não funciona a todo o momento, pois há muitas voltas no tempo e isso pode provocar até certa confusão ao espectador. Contando a história de trás para frente - iniciando-a com os momentos finais de sua vida - o filme perde sua força dramática ao tentar inserir um quebra-cabeças quando, na verdade, isso não era essencial. Inclusive, o foco principal, que de início parece ser o da presença de Mello no Iraque, se perde após o primeiro terço da narrativa.

    Fora a inclinação por contar a história de coragem deste homem que esteve diante de divergências políticas no mundo através de recursos triviais, Sergio executa com sucesso a missão de contar quem era aquela figura um tanto solitária, mas muito focada em suas incumbências (algumas que ele próprio se obrigava a fazer). A dramatização do personagem é bem feita a partir do romance com Carolina - e ambos os atores, Moura e de Armas, trazem momentos poderosos ao dividirem a tela, especialmente quando discutem a dificuldade de se dizer "não" às próprias vontades.

    Promessas e sonhos permeiam a relação e resultam em cenas que dão ênfase no peso das escolhas sem exagerar no melodrama. O vai e volta do tempo também transparece o que há de mais sensível na trajetória de Mello, deixando explícito o que ele mais queria enquanto pai e homem, não como diplomata. Contudo, uma narrativa mais simplificada e direta ainda assim seria capaz de contar essa história da forma que ela verdadeiramente é: marcante e poderosa.

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    Comentários

    • Luis Augusto Bonilha
      Cliche global. O filme mira na prática do personagem Sergio, mas pouco explora os ideias que o movem, ficando como saldo, a dúvida sobre o homem e o diplomata Sérgio. No episódio do Iraque, a pergunta que não quer calar é saber o porquê Sergio relaxou na segurança se sabia trabalhar em terreno bastante adverso, uma vez que a ONU opusera-se a invasão, e Sérgio fora como enviado dos EUA. A decisão, que expôs toda sua equipe ao perigo, revela uma faceta psicológica que precisa ser mencionada, como se o personagem que aparentava determinação, fosse conduzido por um impulso autodestrutivo. Outra coisa, não sei se a Netflix tem participação da Globo, mas parece que nas suas produções sempre que possível, fica a propaganda do Conheça o Rio, e no caso, descreve um Arpoador caribenho fake. Essa coisa de divulgar o Rio entedia um pouco, e parece ser o que mais preocupa nessas produções. De positivo, a atuação do Wagner Moura e de sua simpática companheira.
    • Fábio S
      Pessimo!
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