Talvez o maior defeito de A Bruxa seja vendê-lo como um filme de terror - ou pelo menos colocá-lo ao lado de A Invocação do Mal e Atividade Paranormal, por exemplo. A Bruxa é um filme que segue a linha de filmes de arte como O Anticristo, de Lars Von Trier, ou as obras do austríaco Michael Haneke.
O tema sombrio torna-se o cenário para uma série de alegorias que giram em torno de Thomasin, uma adolescente isolada do mundo, vivendo em uma floresta com sua família sob uma rígida moral protestante. Quando esta menina torna-se mulher, sua sexualidade é convertida em bruxaria, seguindo a própria tradição histórica. Sabe-se que, historicamente, as bruxas nada mais eram do que mulheres que celebravam o feminino, a sexualidade, a fertilidade e a natureza, demonizadas por isso aos olhos da Igreja.
Os sinais estão todos lá. O coelho e o bode, símbolos da fertilidade. O sangue que corre sobre a palha do celeiro, simbolizando a menstruação. O desejo pela adolescente vindo do próprio irmão, que encara seu decote e acaba atraído por um coelho. A mãe que culpa a menina por esta ter perdido um bebê. Mas até onde essa perda não é simbólica? O ritual celta no final, com mulheres dançando ao redor de uma fogueira, escancara todas estas alegorias, levando a menina a um ápice. Nua, flutuando, em um orgasmo simbólico de quem finalmente encontrou sua sexualidade.
Definitivamente, A Bruxa não deve ser visto como um filme de terror. Se existisse o gênero "arte-feminista-sombria", talvez fosse algo mais adequado. Vale para os fãs de cinema. Para quem deseja apenas um pouco de sustos e tensão, melhor passar longe.