Tenho tantas coisas para falar acerca desse filme que confesso que não estou conseguindo concatenar as ideias, mas vamos lá. Primeiro, esse filme é blasfemo. Sim, ele blasfema da Pessoa de Deus e do cristianismo. Se você não é cristão, tudo bem, eu aceito o seu contra-argumento. Todavia, se você é cristão, há de concordar comigo que esse filme zomba do cristianismo e de Deus ao trazer a ideia de que os poderes das trevas são mais fortes do que os poderes de Deus, mostrando um Deus cristão passivo, fraco e incapaz, totalmente alheio às agruras de seus filhos. A família, a despeito de clamar pela misericórdia divina, acaba sucumbindo, inteiramente, ao poder das trevas. A mensagem é clara: Deus não tem poder para socorrer os seus em suas aflições. Você até pode elucubrar outras teses; entretanto, a primeira ideia que o filme passa é essa. Segundo, esse filme mostra uma família cristã caricaturizada, bem ao estilo do que a rede Globo apresenta personagens cristãos em suas programações. Sim, eu reconheço que o movimento puritano trazia consigo alguns exageros. Não obstante, no geral, o puritanismo foi um movimento santo, de pessoas piedosas, que agiam com misericórdia e graça, o que é diametralmente oposto ao pai e a mãe da família, pessoas rigorosas ao extremo e que faltam com a misericórdia para com os seus filhos. Nessa mesma esteira, pode-se afirmar que o temor dos personagens acerca da salvação de suas almas não é típico do movimento puritano [os personagens vivem com o tormento de que o seu filho tenha ido para o inferno e não conseguem ter certeza de que estão salvos, o que os atormentam durante toda a trama]. O puritanismo, em regra, é um movimento calvinista, e - como consequência - traz em seus ensinos a segurança da salvação, a qual, em linhas gerais, traz conforto aos cristãos, ensinando-os que, uma vez que foram alcançados pela graça de Deus, não podem mais perder a salvação. Por fim, agora falando das qualidades do filme, é proveitoso ver a hipocrisia do pai, o qual cobrava de sua família um cristianismo que nem mesmo ele vivia. Isso nos relembra o que Cristo nos disse: antes de tirarmos o cisco do olho do nosso próximo, devemos arrancar a trave que está no nosso. Outro ponto positivo é que esse filme foge ao lugar comum dos tradicionais finais de filmes de terror, uma vez que se esperava que a filha (pelo menos eu espera isso), no final, enfrentasse a bruxa e a derrotasse. Não fosse o aspecto blasfemo do filme, eu daria 4 estrelas. Entretanto, não dá para coadunar com essa visão blasfêmica que o diretor trouxe. Ele poderia ter explorado tudo que explorou - inclusive criticar o aspecto hipócrita do pai cristão - sem blasfemar da Pessoa de Deus e do cristianismo.