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    Superpai
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Superpai

    Faltou colhão

    por Renato Hermsdorff

    O título pode enganar. Mas a tagline (instrumento que os produtores usam para resumir o argumento de “venda” de um filme), não: “uma comédia nem um pouco família”. E é explorando um filão, se não inédito, pouco investigado pelo cinema nacional, que a equipe de Superpai procura cavar seu espaço no disputado mercado das comédias nacionais: o do controverso universo do “politicamente incorreto”. Mas a “ousadia” só vai até a “página dois” (do roteiro).

    Não é que a trama não convença – pelo contrário. Baseado no roteiro dos norte-americanos Benji Crosgrove e Corey Palmer (que não chegou a ser filmado por ser considerado “pesado demais”), o texto do diretor Pedro Amorim (Mato Sem Cachorro), em coautoria com Ricardo Tiezzi, conta a história de um grupo de amigos que participa de uma festa de reencontro, 20 anos depois da formatura da escola.

    Pois justo na data, Diogo (Danton Mello), o líder da trupe, sofre um contratempo (a sogra quebra o braço e a esposa do rapaz tem que acompanhá-la no hospital) e ele terá que ficar em casa para cuidar do filho pequeno. Terá mesmo? Diogo descobre uma creche noturna onde deixa o filho e, pior, troca a criança por um menino coreano na hora de buscá-lo de volta. Para desfazer a asneira, o superpai se envolve uma noite de altas confusões ao lado dos amigos.

    Assim, a produção evoca o filme americano de “grupo” em situações "trapalhadas" (American Pie - A 1ª Vez é Inesquecível, Superbad - É Hoje e Se Beber, Não Case!, só para citar exemplos mais recentes) e é bem sucedida ao retratar um tipo cada vez mais comum nas metrópoles urbanas, o do adolescente tardio. Há um certo exagero ao colorir o protagonista, é verdade, mas o grupo central de atores funciona com entrosamento (a Danton, sem o histrionismo de umLeandro Hassum, se juntam Dani Calabresa, Antonio Tabet, do Porta dos Fundos, e Thogun Teixeira), sem que haja algum destaque específico entre eles.

    E há alguns reposicionamentos interessantes: associada ao humor, Monica Iozzi sustenta bem o papel mais dramático da produção, como a esposa de Diogo; e não deixa de ser uma quebra de paradigma a escalação de Thogun para viver um "coxinha". Mas quem rouba mesmo a cena é Martha Nowill (A Noite da Virada) que, numa pequena participação especial como a atendente da creche, faz graça exatamente por não forçar o riso.

    Para quem foi adolescente nos anos 1980, a reconstrução do clima da época promete falar diretamente. A despeito de uma boa qualidade técnica (de direção e fotografia), é na direção de arte caprichada e na nostálgica trilha sonora que os jovens daquela época se sentirão representados.

    Por outro lado, o filme esbarra no humor físico e escatológico e abusa de piadas preconceituosas (o tal “politicamente incorreto”), do tipo que já criou problemas para integrantes do CQC (egressos do programa de TV, Rafinha Bastos já respondeu judicialmente por fazer troça do filho da cantora Wanessa Camargo; eDanilo Gentili já se deu mal brincando com o holocausto). Não à toa, ambos fazem participações no filme – e Bastos ajudou no primeiro tratamento do roteiro.

    É engraçado chamar uma criança descendente de coreanos de Jaspion, fazer piada sobre sexo anal ou usar expressões como “espancar o macaco” para se referir à masturbação? Este que vos escreve não acha, mas reconhece que existe um público que curte (o adolescente tardio?) a “ousadia” da troça.

    Mas o roteiro se desenrola em uma história que, apesar de criativa e bem amarrada, é fofa. “E qual o problema de ser fofa?”, pode se perguntar o leitor mais disposto. Nenhum. Porém, a necessidade da mensagem edificante no final reaproxima Superpai de outras comédias que seguem a mesma cartilha, como Até que a Sorte nos Separe ou De Pernas pro Ar. E a tagline (“uma comédia nem um pouco família”) deixa de fazer sentido.

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