Não sou um grande seguidor da série de filmes do Planeta dos Macacos. Vi o primeiro filme com o Charlton Heston há muitos anos atrás, não vi os filmes dos anos 70, não gostei da versão do Tim Burton, mas o agora penúltimo filme da série, A Origem, com o James Franco, é extremamente bom. Este último segue uma linha parecida com seu antecessor. Muitos efeitos especiais para a representação dos macacos, que com o auxílio de atores consegue com esmero reproduzir os movimentos dos símios, dando uma carga dramática notável aos seus semblantes. Andy Serkis repete seu papel como o líder dos macacos, Cesar, de maneira caprichosa. Na verdade, o filme é notável não só pelos efeitos excepcionais, onde as criaturas ganham contornos humanos, sem perder as características dos primatas. O elenco também é muito bom, contando com rostos conhecidos como Gary Oldman, Keri Russell e Kirk Acevedo, mas o que realmente é a melhor parte do filme é sua densidade narrativa e a profundidade dos dilemas apresentados, notórios de reflexão comportamental.
Se no filme anterior Cesar “aterrorizava”, e causava espanto com poucas palavras pronunciadas, aqui nesse filme ele não só fala diálogos inteiros e complexos em inglês, como se comunica no “macaquês” com seus camaradas, enquanto outros símios também arranham alguma coisinha do inglês.
Mas o espanto maior do filme não é na maneira como esses primatas se comunicam, e sim como se comportam. A tentativa de criar uma sociedade pacífica é desmantelada pela ameaça humana, apesar de seguir os moldes que nós utilizamos com nossa gente. A idealização de família e comunidade segue os mesmos parâmetros dos humanos, e a atrocidade vivida no passado por eles causa medo e revolta. Os símios têm inúmeras razões para temerem os humanos e acabam portando-se como homens. Já os homens temem os macacos pelo simples fatos de eles terem a capacidade de portarem-se como humanos. Os homens temem na verdade o reflexo de si mesmos. Não vou ficar aqui filosofando sobre as inúmeras interpretações do comportamento de rivalidade, raiva e guerra entre humanos e macacos. O filme e muito mais amplo que isso. Há cenas dignas de marcos cinematográficos
, vide as cenas onde um macaco finge-se de bobo para então cumprir seus objetivos traiçoeiros e primordialmente humanos ou a de um tanque de batalha sendo dominada por macacos
. É um filme de ação que faz pensar, mesmo aqueles que só procuram diversão. Um mergulho na mesquinhez, busca pelo poder e controle, egoismo e crueldade. Tudo isso com toques de blockbuster. Um filme que cumpre seu objetivo e traz um quê a mais. Mais uma prova de que um filme não deve se valer apenas de seus efeitos especiais para ser bom. É preciso uma boa estória. Mesmo tirando os absurdos de realidade (como os macacos falantes, para citar um exemplo simples), consegue na sua narrativa tratar de algo bem próximo e de fácil identificação, tornando algo incrível em crível pelo simples fato de ser muito bem feito. E que venha outros confrontos de realidade tão interessantes como esse.