Gravidade: Perfeição Técnica Que Não Emociona
Gravidade é sem dúvidas um dos filmes mais badalados de 2013. Conquistou boa parte do público e da crítica. O filme de Alfonso Cuaron, mesmo antes de sua estreia, aparecia como favorito a conseguir um grande número de indicações ao Oscar e outras premiações de cinema. Aproveitando as vésperas do Oscar finalmente assisti a Gravidade. E acho que muitos exageraram e encheram demais a bola do filme.
No filme Sandra Bullock interpreta a Dra. Ryan Stone, uma brilhante engenheira médica em sua primeira missão espacial, ao lado do veterano Matt Kowalsky (George Clooney) no comando de seu último voo antes da aposentadoria. Em uma operação de rotina fora da nave, um desastre acontece. A nave é destruída, deixando Stone e Kowalsky à deriva no espaço, ligados um ao outro apenas por um cabo e sem qualquer contato com a Terra – e qualquer chance de resgate. O único meio de voltar pra casa talvez seja se jogar de vez na aterrorizante vastidão do espaço.
O filme é perfeito tecnicamente. Os efeitos especiais são fantásticos. Mas o que realmente chama a atenção, a exemplo de 2001: Uma Odiséia no Espaço, é o uso do som. Diferente das ficções científicas em que ouvimos as explosões e mais explosões, aqui temos apenas o silêncio do espaço. Em um dos momentos estamos dentro da nave com Sandra Bullock, e destroços vão acertar a nave, e enquanto dentro da nave temos o som normal, somo sjogados pra fora da nave e não ouvimos nada. A mixagem de som e edição de som são fantásticos, ao invés de explosões ouvimos a voz, respiração dos personagens e a excelente trilha sonora de Steven Price em momentos chaves do filme.
A edição do filme, com vários planos sequências, é realmente magnífica. Mas o famoso plano inicial prejudica o filme. São treze minutos de plano sequência, e isso nos tira do filme, porque quando esse plano acaba e temos um corte ficamos imaginando quando veremos outro plano sequência como esse. Com isso você sai completamente do filme. Mas Alfonso Cuaron foi tão competente e fez um trabalho tão bom na direção, que você consegue voltar ao filme rapidamente.
Mas um filme não é só técnica, tem muito mais que isso, e é aí que Gravidade perde e muito. Embora Sandra Bullock esteja bem, sua atuação não tem a força necessária que a personagem precisa. Tanto que em um momento em que há uma virada na história e em sua personagem, aquilo soa artificial, e difícil de acreditar que aquela personagem que a poucos minutos era tão frágil e fraca consegue fazer o que ela fez. Já George Clooney faz simplesmente ele mesmo, e a tranquilidade dele no filme chega a ser incômoda.
Mas nada me incomodou mais que o roteiro do filme, embora seja simples, existem alguns furos que incomodam. Mas dois momentos em especial me tiraram totalmente da projeção. O primeiro deles tem a ver com a falta de oxigênio da Dra. Ryan (Bullock). Em determinado ponto do filme ela tem apenas oxigênio do traje espacial, o do cilindro acabou, mas ela faz coisas que seriam necessários muito mais do que o oxigênio do que ela diz ter, um furo que me tirou do filme, mas não tanto como em outro momento.
Como disse Alfonso Cuaron fez um trabalho tão magnífico que por mais que você saia do filme, você consegue voltar. Eu estava totalmente envolvido no filme, com os acontecimentos, até que acontece um fato totalmente desnecessária que me tirou do filme e depois não consegui mais me envolver na trama. Em dado momento do filme a Dra. Ray descobre como fazer a nave andar, mas a forma que ela descobriu soou tão forçado, absurdo e digo mais medíocre, que me tirou totalmente da trama e não consegui voltar mais. Um filme tão espetacular tecnicamente, merecia um desfecho mais bem feito e bem bolado. Os últimos 30 minutos do filme me tiraram totalmente da trama e fez o filme cair no meu conceito.
A conclusão que cheguei a fim do filme é que Cuaron ficou tão preocupado com a parte técnica, o som, a fotografia, os efeitos especiais, a montagem e seus planos sequências, que são sem dúvida fantásticos, que esqueceu que um filme é muito mais que isso. Parece que ele se esqueceu de ter um pouco mais de carinho e de atenção ao roteiro. Sem dúvida o filme é um espetáculo visual, mas cinema não é só isso. O filme é tecnicamente perfeito, mas falta emoção, emoção essa que procuramos quando nos sentamos para assistir a um filme no cinema. Se não fosse a parte técnica perfeita do filme e a direção competente e segura de Alfonso Cuaron Gravidade, seria um filme que passaria despercebido e como muitas outras ficções seria esquecido com o passar do anos.