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    Barbie
    Críticas AdoroCinema
    5,0
    Obra-prima
    Barbie

    Onde eu pego o ônibus pra Barbielândia?

    por Katiúscia Vianna

    Críticas de cinema têm o objetivo de serem atemporais, então não sei exatamente quando você vai estar lendo isso, mas deixa eu te dar um clima geral de julho de 2023: as pessoas só falam de Barbie. É “Oi, Barbie!” pra lá, são vídeos engraçadinhos no Instagram e Tik Tok pra cá. Isso sem contar o pessoal usando a cor rosa para ir ao cinema, como se fosse uma quarta-feira em Meninas Malvadas.

    Não estou julgando ninguém, pois atualmente escrevo esse texto vestindo uma blusa rosa e curto todos os vídeos temáticos possíveis. Mas é um fenômeno. Então, as expectativas são altas nas costas de Margot Robbie (protagonista e produtora) e Greta Gerwig (que dirige e co-assina o roteiro). E tudo que consegui pensar ao sair do cinema foi a palavra “SIM”.

    Qual é a história de Barbie?

    Os trailers de Barbie fizeram bastante mistério sobre a trama, então não entrarei em muitos detalhes. O importante é saber que Barbie (Margot Robbie) vive na Barbielândia, um mundo perfeito onde diferentes Barbies assumem posições de poder, enquanto os Kens… simplesmente existem. Porém, as coisas começam a ficar estranhas para a nossa protagonista - que, orientada pela Barbie Estranha (Kate McKinnon), precisa fazer uma grande jornada ao mundo real para tentar ajeitar as coisas.

    Barbie faz tal viagem com a companhia do insistente namorado Ken (Ryan Gosling), só que ambos terão visões completamente diferentes sobre aquilo que o mundo real representa. Além disso, a história envolve os chefões da empresa Mattel (liderados por Will Ferrell) e sua secretária executiva, Gloria (America Ferrera) - que, por sua vez, tem uma rebelde filha adolescente, Sasha (Ariana Greenblatt).

    Barbie nos ensina a ir além

    Não é a primeira vez que vemos uma marca de brinquedo se transformar em cinema. Alguns são controversos, como a franquia Transformers - que fez bilhões de dólares, então o estúdio não deve ter reclamações. Outros são bem elogiados, como Uma Aventura LEGO e Super Mario Bros. Isso sem contar as infinitas adaptações de jogos que merecem ser esquecidas (ou não).

    O que surpreende em Barbie é seu roteiro inteligente e engraçado, isso abrilhantado pelo universo cor de rosa construído pela direção de Greta Gerwig. As piadas estão nos detalhes, escondidas em reações ou absurdos da Barbielândia. E sabe quando o filme entrega uma piadinha boba, só pra quebrar a tensão e você dá uma risada fraca? Esse não é o caso de Barbie. Aqui elas funcionam e ajudam a compor esses mundos.

    Mas não me entenda errado: o filme inclui uma jornada muito emocionante. Por trás de todas as cores, existe uma jornada de autodescoberta e uma crítica sobre a nossa sociedade. Por um lado, vemos Barbie refletindo sobre sua posição no mundo, descobrindo sentimentos e representando a jornada diária que temos na vida real: você pode ir além daquilo que “esperam de você”. Nem todo mundo que usa rosa é patricinha, e nem todo mundo que usa preto é gótico. As pessoas falam sobre a diferença entre o branco e o preto, com seus diferentes tons de cinza (juro que não foi uma referência, continua comigo, por favor)... Agora, imagine só todos os tons que existem entre rosa e preto.

    Ou até mesmo entre rosa e azul, tão vinculados a conceitos estereotipados de gêneros. Além de uma mensagem forte para mulheres de todo o mundo, o filme também traz espaço para os homens refletirem: masculinidade tóxica aqui demonstra como o patriarcado é, literalmente, uma doença espalhada pelo mundo. Vale lembrar que o roteiro é co-escrito por Greta Gerwig com seu parceiro, Noah Baumbach (História de um Casamento). Ou seja, nem essa desculpa vocês têm…

    Margot Robbie e Ryan Gosling estrelam Barbie

    Por mais que Barbie seja um filme de entretenimento, é inegável que Margot Robbie assumiu o papel mais difícil do projeto. Como ser inocente, mas não cair no estereótipo idiota da loira burra? Ela traz, em apenas duas horas, toda a dor que uma mulher sente na primeira vez que é afetada pelo machismo. Mas também mostra como dar a volta por cima, com gentileza e alegria. Sem lembrar nada da Arlequina, Margot Robbie prova mais uma vez seu talento.

    Do outro lado, temos Ryan Gosling abraçando o seu lado ridículo (no melhor dos sentidos) com seu Ken, roubando todas as cenas. Ele já provou que sabia ser engraçado no injustiçado Dois Caras Legais, mas aqui ele vai além. Ele atua no limite do exagero, mas ainda traz uma vulnerabilidade para o boneco. É divertido rir dele, mas você também quer dar um abraço nesse bobão (por boa parte do tempo).

    Também é importante ressaltar que America Ferrara tem um monólogo impressionante que me fez querer levantar da cadeira para bater palmas. No geral, o elenco todo é muito entrosado e divertido: Issa Rae (Insecure) é a Barbie Presidente, Alexandra Shipp (Tick, Tick… Boom!) é a Barbie Autora Vencedora do Prêmio Nobel, por exemplo. Vai desde Dua Lipa e John Cena, até nomes do momento, como Simu Liu (Shang-Chi) e os astros de Sex EducationEmma Mackey e Ncuti Gatwa.

    Obs: Barbie Esquisita e Allan (Michael Cera), vocês nunca serão esquecidos. Por favor, já encomendem seus spin-offs, obrigada.

    Vale a pena ver Barbie?

    Sim, Barbie é um filme feminista. QUE CHOQUE! Mas não é só isso: é engraçado, criativo, emocionante e cheio de visuais belíssimos. Não tente rotular numa caixa apenas. E, mesmo se fosse, já estamos cansadas de ouvir frases como “isso é mimimi”, ou “é lacração”. Por que as mulheres precisam pedir permissão ou se esgoelar para ter um minuto de atenção? Então, se os homens podem ter uma franquia inteira sobre carros velozes e furiosos, eu aceitaria uma franquia da Barbie.

    Greta Gerwig nos entrega um mundo visualmente perfeito e exagerado, ao mesmo tempo, desde a direção de arte até os figurinos, mas também na direção de fotografia. As referências vão desde Os Guarda-Chuvas do Amor até Grease, com um toque de O Show de Truman. Não é à toa que ela quase acabou com as tintas de cor rosa no mundo. Ela transforma o artificial em emoção. Não é qualquer um que faz isso com um filme de bonecas.

    Barbie é um filme inteligente, que sabe zoar sua própria marca, enquanto questiona o seu lugar no mundo. Afinal, são bonecas com ideais impossíveis em seus corpos, ao mesmo tempo que a Barbie realmente tem mais empregos que o pai do Chris. Ou seja, é complexo e confuso: assim como o ser humano. Ainda estamos dando passos pequenos em questões de representatividade e ainda há muito preconceito a ser superado. Barbie tem a modéstia de entender que não vai mudar o mundo: mas pode dar um empurrãozinho na direção certa.

    Ps: Só não ganha nota 6 pois não tem Kelly Key!

     

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