Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Creed III

O passado retorna para assombrar Creed

por Bruno Botelho

Rocky é uma das franquias mais queridas e icônicas do cinema, marcando diversas gerações que acompanharam o personagem vivido por Sylvester Stallone nos ringues de boxe. Seguindo a tendência de Hollywood, tivemos sua expansão em filmes derivados focados em Adonis Creed (Michael B. Jordan), Creed: Nascido Para Lutar (2015) e Creed II (2018). Terceiro filme spin-off, Creed III marca a estreia de Michael B. Jordan na direção e também abre novos caminhos para o personagem nos cinemas.

Qual é a história de Creed III?

Em Creed III, após dominar o mundo do boxe, Adonis Creed (Michael B. Jordan) vem prosperando tanto na carreira quanto na vida familiar. Quando um amigo de infância e ex-prodígio do boxe, Damian Anderson (Jonathan Majors), ressurge depois de cumprir uma longa sentença na prisão, ele está ansioso para provar que merece sua chance no ringue.

Por isso mesmo, Damian pede a ajuda de Adonis para conseguir voltar para os campeonatos de luta. Apesar de tudo, dezoito anos na prisão mudam a pessoa e ele não está nada satisfeito que Creed "tomou seu lugar" como um lutador profissional de sucesso. Dois velhos amigos então vão lutar para enfrentar seus passados juntos. Para acertar as contas, Adonis deve colocar seu futuro em risco para lutar contra Damian – um lutador que não tem nada a perder.

Estreia de Michael B. Jordan, novos rumos pra franquia Creed

Os filmes Creed sempre abordaram temáticas sobre legado e passado em sua narrativa. No primeiro deles, conhecemos e acompanhamos Adonis tentando seguir seu próprio caminho e, com a ajuda de Rocky Balboa (Stallone), fugir da sombra de seu pai Apollo Creed (Carl Weathers). O segundo mostra o confronto entre o protagonista e Viktor Drago (Florian Munteanu), uma rivalidade estabelecida pelo fato dele ser o filho de Ivan Drago (Dolph Lundgren) – responsável pela morte traumática de Apollo nos eventos de Rocky 4 (1985). O terceiro filme não é diferente, e coloca ele enfrentando seu passado na figura de Damian do Jonathan Majors, mas ao mesmo tempo se destaca em focar somente no desenvolvimento da história do próprio personagem e não em retomar elementos (e rostos) que fizeram parte da franquia.

Prova disso é a ausência de Sylvester Stallone em Creed III, que pela primeira vez não está presente em um dos filmes da saga (ainda que esteja creditado como produtor). Se nos dois filmes lançados anteriormente as relações familiares eram parte da trama, neste terceiro capítulo essas dinâmicas recebem ainda mais importância como força motora do roteiro escrito por Zach Baylin e Keenan Coogler, colocando como o coração da sequência as presenças e interações entre Adonis, Bianca (Tessa Thompson) e sua filha Amara Creed (Mila Davis-Kent). Isso, acima de tudo, permite que Creed finalmente possa andar com suas próprias pernas e se sustentar sozinho, sem amarras de Rocky.

Uma das principais estrelas de Hollywood atualmente, Michael. B Jordan dá um novo passo em sua carreira, assumindo a direção de Creed III. No primeiro filme, Ryan Coogler, responsável por Fruitvale Station - A Última Parada e Pantera Negra, foi bastante elogiado no comando da produção, especialmente pelas sequências de luta, e na sequência Steven Caple Jr. entrou em seu lugar emulando bem o estilo de Coogler. Mesmo sendo sua estreia, Jordan mostra personalidade na direção, ressaltando bem a carga emocional das atuações, e principalmente inovando nas cenas de ação dentro dos ringues, que foram inspiradas em animes famosos como Naruto e Dragon Ball Z, e apresentam muitos close-ups e mudanças de movimento e velocidade da câmera no confronto.

Jonathan Majors é o cara do momento em Hollywood e rouba a cena em Creed III

É inegável que Jonathan Majors é um dos caras do momento em Hollywood. Depois de se destacar na elogiada série Lovecraft Country da HBO, o ator esteve em filmes como Destacamento BloodVingança & Castigo e Irmãos de Honra, mas chega em um momento especial na carreira ao ser apresentado como Kang, o Conquistador em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, após uma breve aparição na série Loki, se tornando o principal vilão do Universo Cinematográfico Marvel depois do Thanos.

Majors aparece como uma espécie de antagonista em Creed III. O mais interessante de seu personagem é a maneira como ele consegue desestabilizar a vida perfeita de Adonis, com uma carreira vitoriosa e consolidada e com sua família constituída. Por isso, Damian Anderson é uma figura que faz com que o protagonista precise confrontar seu próprio passado e lidar com questões emocionais pelo ressentimento com atitudes que ele tomou quando era mais novo – o que funciona bastante pelas motivações plausíveis de Damian, que sente-se traído e abandonado pelo seu antigo amigo. Repleto de nuances emocionais, Jonathan Majors rouba a cena do terceiro filme, muito pela ameaça física que ele representa ao personagem de Michael B. Jordan, resultado de uma preparação intensa de treinamentos que o ator realizou para esse papel.

Desta forma, o confronto entre Damian e Adonis no ringue de box é extremamente satisfatório para o público, pelas cenas de lutas realistas e bem dirigidas por Jordan, com a maior ameaça para o protagonista nesta trilogia, e também por toda a construção da relação entre os personagens e motivações para o conflito que aumentam o nosso envolvimento com os acontecimentos. Deixando de lado as conexões com os filmes da franquia Rocky Balboa, a narrativa de Creed III tem mais tempo para desenvolver os personagens coadjuvantes. Esse é o caso de Bianca, que tem mais camadas na história, produzindo novos talentos da música, enquanto Adonis se aposentou da carreira de lutador e virou sócio da academia com seu antigo treinador Duke (Wood Harris). Uma presença importante para a trama é a de Amara, onde podemos ver a relação dela com seu pai (que até mesmo ensina os primeiros passos para ela ao lutar boxe). Ela herdou o distúrbio auditivo de sua mãe e nasceu surda, então a produção tem uma representação importante, colocando os personagens para se comunicar com ela pela língua de sinais.

Ou seja, o filme ainda consegue preparar o terreno para o futuro da saga, levando em conta que uma quarta produção foi confirmada oficialmente pelo próprio Michael B. Jordan. Por mais que não seja inovador na fórmula tradicional de filmes de esporte, Creed III é uma experiência divertida, empolgante e emocionante que mantém o nível dos outros derivados lançados anteriormente, mas se destaca por fugir das amarras de estabelecidas pela franquia Rocky ao focar na história e relações do próprio Adonis, além de uma presença marcante e ameaçadora de Jonathan Majors para enfrentar o querido protagonista.