Desde que o primeiro trailer de House of the Dragon foi revelado, um personagem negro acendeu a ira de muitos puristas (e racistas) da saga literária de George R.R. Martin. Eles imediatamente pensaram que o spin-off de Game of Thrones ambientado 172 anos antes do nascimento de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) cometeu um erro ao escalar um ator afrodescendente.
Os ataques vieram sobretudo porque o livro “Fogo & Sangue” (2018), no qual a nova série é baseada, aposta no tema das relações incestuosas para preservar a árvore genealógica dos Targaryen. Claro, a devassidão praticada por alguns membros dessa casa, como a de Daemon (Matt Smith) com outras mulheres fora de seu casamento, trouxe desonra ao seu sangue.
No entanto, as críticas caem por terra quando se lembra que o personagem encarnado por Steve Toussaint não é um Targaryen, e sim um Velaryon. Trata-se do Lorde Corlys Velaryon, também conhecido como Serpente do Mar. Descendente de uma linhagem valiriana tão antiga quanto a dos Targaryen, ele é considerado o melhor marinheiro que os Sete Reinos já viram, tão brilhante quanto inquieto, tão aventureiro quanto ambicioso.
House of the Dragon: De qual dragão é o crânio que vemos no final do 1º episódio?Finalmente, ele entra para o clã Targaryen ao desposar a princesa Rhaenys (Eve Best), a quem se costuma chamar de “A Rainha que Nunca Foi”. Logo no início do primeiro episódio de House of the Dragon, ele aparece durante a nomeação de Viserys (Paddy Considine) como herdeiro do Trono de Ferro e depois segue como parte do Pequeno Conselho.
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A escolha de representá-lo como negro se deu porque a obra de Martin nunca descreve a cor de sua pele. Além disso, quando o jovem autor começou a definir quem era quem em Westeros, supostamente enxergava os Velaryon como negros de cabelos prateados.
Foi o que revelou um dos showrunners de House of the Dragon, Ryan Condal, em entrevista à Entertainment Weekly. Ele explicou que conversou com Martin sobre a questão da representatividade e que decidiu retomar a ideia original de mostrar os Velaryon como aventureiros negros que saíram da Antiga Valíria (em Essos) para conquistar Westeros.
House of the Dragon: Já pensou em falar a língua dos Targaryen? Busca por idioma cresce mais de 150%“Era muito importante para mim e Miguel Sapochnik criarmos algo que não fosse mais um bando de brancos na tela”, admitiu Condal. “Queríamos encontrar uma forma de colocar diversidade no programa, mas não queríamos fazê-lo de maneira que parecesse uma reflexão tardia ou, pior, tokenismo.”
Assim, os insultos proferidos contra Corlys Velaryon e seu intérprete são mais preconceituosos do que propriamente preciosistas – o que não é nenhuma surpresa, infelizmente.
O que se pode afirmar, com base nos romances, é que a Casa Velaryon passou mais de um século navegando pelo mundo. Usando o bom senso, deduz-se que sua evolução se deu a partir da exploração de outros povos. Eles conheceram tantas pessoas ao redor do mundo que, talvez, sua linhagem tenha se tornado uma das primeiras multirraciais de Westeros. Nesse sentido, trazer um Serpente do Mar negro é uma interpretação bastante interessante dos buracos e pistas deixadas por Martin.
