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    Avatar - O Último Mestre do Ar: Imperfeita e cativante, série da Netflix luta para manter a chama da animação viva (Crítica)
    Diego Souza Carlos
    Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

    Com oito episódios na 1ª temporada, live-action apresenta uma das melhores histórias da cultura pop a grande público.

    Quem acompanha as movimentações da Netflix já deve ter percebido que o serviço de streaming descobriu a sua galinha dos ovos de ouro: adaptações live-action de animes e de animações que tenham alguma semelhança com as produções asiáticas. Avatar: O Último Mestre do Ar se encaixa no último grupo.

    Estrelada porGordon Cormier, Ian Ousley, Kiawentiio, Daniel Dae Kim, Dallas Liu e Paul Sun-Hyung Lee, a produção de oito episódios apresenta as primeiras aventuras de Aang, Katara e Sokka na missão de restabelecer o equilíbrio do mundo após um longo período de guerras.

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    A trama tem início quando, após um período de harmonia entre as quatro nações da Terra, do Fogo, da Água e do Ar, chega ao fim. Tudo mudou quando a Nação do Fogo resolveu conquistar o mundo, atacando e dizimando os Nômades do Ar. Como a nova encarnação de Avatar ainda está para surgir, o mundo já perdeu as esperanças. Até que Aang (Cormier), um jovem Nômade do Ar e o último representante de seu povo, surge para tomar seu lugar de direito como o próximo Avatar.

    Junto com os novos amigos Sokka (Ousley) e Katara (Kiawentiio), irmãos e membros da Tribo da Água do Sul, Aang embarca em uma missão fantástica para salvar o mundo e reagir à matança cruel do Senhor do Fogo Ozai (Daniel Dae Kim). Mas essa não será uma tarefa fácil, pois o príncipe Zuko (Liu) está determinado a capturá-los, e eles vão precisar de muitos aliados nesta jornada.

    Avatar: O Último Mestre do Ar
    Avatar: O Último Mestre do Ar
    Data de lançamento 2024-02-22 | min
    Séries : Avatar: O Último Mestre do Ar
    Com Gordon Cormier, Kiawentiio, Ian Ousley
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    4,2
    Assista agora em Paramount+

    Mais do que 4 elementos

    Netflix

    Com mais de duas décadas, um dos elementos mais promissores de Avatar: A Lenda de Aang é a forma como os criadores Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko conseguiram apresentar grandes narrativas em episódios curtos de 20 minutos. O roteiro da animação é recheado de sutilezas, do texto que sabe balancear humor e drama com primoroso equilíbrio - lembrando que a atração foi desenvolvida para o público infanto-juvenil -, e as sequências de ação que não perdem para nenhuma produção atual.

    A releitura da Netflix opta por privilegiar as batalhas em muitas situações, ainda que o drama seja resguardado em momentos-chave da temporada. Trazendo uma história de fantasia para um projeto com pessoas "de carne e osso" em tela, a plataforma parece não ter poupado gastos com o uso misto de técnicas de CGI e efeitos práticos.

    Netflix

    Caso não se tenha uma equipe de Star Wars que consegue fazer uma das mixagens mais interessantes da indústria, com ambos os tipos de efeitos, a junção do digital com técnicas físicas de direção não conseguem atingir a magia de Avatar, principalmente com estranhas transições quando tem relação com personagens humanos.

    Os voos de Aang e as dobras de fogo, inclusive, são as que mais sofrem um downgrade. Embora tenham usado o The Volume, uma tela gigantesca utilizada em produções como The Mandalorian para criar cenários de modelagem 3D em filmes e séries de TV, há também um estamento quanto à profundidade e paisagens.

    Ainda assim, o claro esforço em tentar emular essa fantasia está lá. Nesse sentido, "há de se tirar o chapéu" para a construção das criaturas, praticamente idênticas à animação, mas com uma nova vibração - destaque para Appa, Momo, Koh e os espíritos da floresta e da sabedoria.

    Uma aventura truncada, porém cativante

    Netflix

    A maturidade de Avatar: A Lenda de Aang sempre foi um dos principais elogios recebidos pela animação. Guiado por uma história política, o desenho sempre teve no horizonte pilares como a humanidade, o respeito a diferentes culturas, a complexidade de relações familiares, a diversidade e os efeitos devastadores da guerra. Unidos ao crescimento de Aang, um garoto de 12 anos que precisa descobrir como salvar o mundo enquanto cresce, estes temas fizeram da animação uma das produções mais sofisticadas das últimas décadas.

    Para levar isso às telas do serviço de streaming, antes de qualquer recurso estético, é preciso estabelecer um roteiro firme. Durante os 8 episódios de Avatar: O Último Mestre do Ar, é possível ver muitos desses elementos em tela, principalmente uma exploração ao sofrimento dos sobreviventes da guerra e o modo como a opressão opera sobre as pessoas subjugadas. É interessante que isso não é exclusivo à jornada dos protagonistas, mas também surge entre coadjuvantes e personagens utilizados no enredo apenas para ilustrar as consequências do genocídio e do autoritarismo.

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    O drama do trio principal também ganha recortes interessantes, abordando traumas de Sokka e Katara, enquanto põe em xeque a missão de Aang ao assumir a responsabilidade de ser o Avatar acima de qualquer coisa, inclusive de si mesmo. Todavia, a dramaticidade aplicada a estes trechos é superficial devido às atuações dos atores. Não que sejam ruins, mas parece haver certo descompasso entre ator e personagem, algo que até melhora no último bloco da temporada, mas fica nítido em qualquer sequência que exija dramaticidade, de fato.

    Humanizar Zuko e seu tio Iroh também é um mérito vindo direto dos frames animados. Quebrados por suas histórias marcadas tanto por problemas familiares quanto por escolhas do passado - e mais uma vez sob o contexto da guerra -, os dois ganham simpatia do público ao longo destes dois episódios. Fruto da criação de Bryan Konietzko e Michael Dante DiMartino, que criaram personagens tão cativantes, interessantes e humanos.

    Netflix

    Ao fim, Avatar: O Último Mestre do Ar não deixa de ser uma série divertida. Ainda fica a dúvida sobre quem poderia fazer a adaptação perfeita do desenho animado - já que trata-se de um projeto cheio de imperfeições. Muito disso a decisões criativas que provavelmente tiraram o time de criadores do projeto: da retirada do crescimento de Sokka, que tem várias falas sexistas no material original e cresce junto com a animação, ao modo como tira as nuances de diversos personagens por privilegiar o espetáculo ao íntimo. Quando tudo necessita de excessivas explicações, é um indício de que o roteiro não consegue se expressar sozinho.

    Caso ganhe uma segunda temporada, algo muito provável se levarmos em consideração o sucesso de One Piece e até mesmo Yu Yu Hakusho, há uma nova oportunidade de apresentar, sim, as aventuras mais mirabolantes de Aang e seus amigos, mas se aprofundar na simplicidade e sofisticação que fez da animação da Nickelodeon um clássico instantâneo.

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