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    "Camponesa de inteligência limitada": Assim o criador de The Crown se referia à rainha Elizabeth antes de mudar de opinião
    Lucas Leone
    Lucas Leone
    -Redator | Crítico
    Lucas só continua nesta dimensão porque Hogwarts ainda não aceita alunos brasileiros. Ele até tentou ir para Westeros ou o Condado, mas perdeu a hora do Expresso do Oriente. Hoje, pode ser visto escrevendo no Central Perk mais próximo.

    Em 2017, Peter Morgan chamou a família real britânica de "vírus mutante", mas voltou atrás ao reconhecer o sucesso da monarca e seu efeito "de tirar o fôlego".

    Na origem de toda a controvérsia gerada por The Crown está um londrino de 59 anos: Peter Morgan. O criador da série da Netflix mudou de tom na 5ª temporada, dando o que falar antes mesmo de seu lançamento. A mudança parece surpreender grande parte do público, já que as primeiras levas de episódios, pelo contrário, lançaram um novo olhar sobre a monarquia britânica e retrataram Elizabeth II (agora interpretada por Imelda Staunton) sob uma luz diferente. Muito mais íntima e, portanto, muito mais cativante.

    Esse recálculo de rota não deveria, porém, causar tanto espanto. Afinal, em 2017 Morgan deu uma entrevista na qual basicamente destruiu a nobreza do Reino Unido. O roteirista afirmou à revista de cultura do The Sunday Times que a rainha tinha "inteligência limitada" e classificou a família real como "organismos de sobrevivência", "vírus mutante" e "instituição perturbada".

    Ao mesmo tempo, Morgan admitiu que a aprovação de "antimonarquistas" e "republicanos raivosos" foi "importante" para ele. "Talvez esteja ligado ao fato de eu ser um outsider, filho de refugiados", explicou.

    David M. Benett/Getty Images
    Peter Morgan com seu Emmy de Melhor Roteiro de Série de Drama, em 2021.

    "Se você tivesse me dito que eu faria esta série, eu teria dito que era uma ideia completamente maluca. Nunca pensei que haveria mais a dizer sobre essa camponesa de inteligência limitada que prefere cuidar de seus cachorros e criar cavalos a ser uma rainha."

    "Mas agora estou aqui. A vida é estranha. Acho que há espaço para a imaginação criativa, com base nas informações que temos sobre ela", refletiu Morgan.

    É essa "imaginação criativa" que ele coloca a serviço de sua escrita. De fato, o showrunner critica prontamente o trabalho de biógrafos reais autorizados, definindo-os como "restritos, respeitosos, lisonjeiros e pouco aventureiros" ou "completamente caluniosos e insolentes".

    PETER MORGAN MUDOU DE OPINIÃO SOBRE A FAMÍLIA REAL BRITÂNICA?

    Netflix
    Elizabeth (Imelda Staunton) e Philip (Jonathan Pryce) em cena de The Crown.

    Peter Morgan é uma figura intrigante. Embora pareça ter uma visão do copo meio vazio, ele é muito grato pelo reconhecimento que The Crown lhe proporcionou. Mas não necessariamente em relação à monarca britânica. "Se você tivesse que escolher um personagem, não escolheria uma mulher de meia-idade, tímida, reservada e de inteligência limitada", disse ele novamente em 2017, dessa vez ao Radio Times.

    "Não estou falando de inteligência, só quero dizer que ela não é uma intelectual. E, no entanto, eu a acho... Bem, eu cheguei aqui antimonarquista e mudei completamente de opinião. Sou um monarquista agora."

    Morgan então esclareceu sua conversão radical: "Há algo na alma de um país que está de alguma forma ligado ao chefe de Estado. As pessoas acreditam na rainha atualmente, em um momento em que é tão difícil encontrar pessoas em que você realmente acredite. Acho que o sucesso dela é inegável, especialmente quando você pensa sobre o efeito que a exposição e a visibilidade têm nas pessoas. É realmente de tirar o fôlego."

    Apesar de se declarar monarquista, Morgan não serve aos interesses da coroa nem hesita em inventar ou alterar situações para fins narrativos. Foi o que aconteceu durante a pré-produção da 5ª temporada: a roteirista e produtora Jemima Khan abandonou a série por discordar da forma como a princesa Diana (vivida por Elizabeth Debicki) estava sendo representada.

    Netflix
    Princesa Diana (Elizabeth Debicki) em cena de The Crown.

    Escolhida para o cargo pelo próprio Morgan, Khan manteve uma amizade de longa data com Lady Di e aceitou o convite justamente para se assegurar de que os fatos fossem encenados com a maior fidelidade possível. “Foi muito importante para mim que os anos finais da vida da minha amiga fossem retratados com respeito, precisão e compaixão, como nem sempre aconteceu no passado e não foi diferente com The Crown", afirmou Khan ao The Sunday Times em dezembro de 2021.

    Ela contou que Morgan a abordou inicialmente em 2019, pedindo consultoria para o desenvolvimento da 5ª temporada. Os dois se tornaram um casal pouco depois e, segundo a produtora, trabalharam "juntos nos primeiros rascunhos e nos roteiros entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021." Khan e Morgan se separaram no início deste ano.

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    “Quando nosso acordo de parceria não foi honrado e quando percebi que aquele enredo específico não seria necessariamente contado com o respeito que eu esperava, solicitei que todas as minhas contribuições fossem removidas da série e recusei o crédito", completou Khan.

    Assim, para a pergunta "Peter Morgan é antimonarquista?", a resposta não parece estar em suas declarações, mas em sua série. Em todo caso, The Crown continua sendo uma joia no catálogo da Netflix.

    E se você gosta do assunto "família real britânica" e quer saber mais sobre os bastidores da 5ª temporada, não deixe de conferir nossa entrevista com Elizabeth Debicki, Dominic West (intérprete de Charles) e Olivia Williams (intérprete de Camilla Parker-Bowles). É só clicar aqui ou dar play abaixo!

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