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    Watchmen 1x09: O fim de todas as coisas

    Nossa análise do final de temporada.

    Nota da temporada: 5,0 / 5,0

    Atenção! Contém SPOILERS do episódio 9 da 1ª temporada de Watchmen, “See How They Fly”

    Aquele em que nada acaba de verdade.  

    A que propósitos deve seguir o episódio final de uma série que seguiu tantas vertentes e se ramificou tanto quanto Watchmen? Obviamente, o instinto natural nos faz acreditar que o episódio final serve para responder perguntas e para não deixar dúvidas pairando no ar. Esta é, sim, uma das possibilidades, mas talvez seja mais prudente não se agarrar a essa alternativa com muita força quando estamos falando de Damon Lindelof.

    No entanto, ao contrário do que muitos poderiam esperar neste sentido, “See How They Fly” não é um episódio exatamente metafórico ou enigmático, e segue uma estrutura quase protocolar, no sentido de fornecer as explicações que vinham há um tempo sendo ensaiadas: Lady Trieu (Hong Chau) é filha de Adrian Veidt (Jeremy Irons), gerada por uma inseminação artificial feita às escondidas sem que ele — que alega nunca ter ido para a cama com alguma mulher — sequer soubesse. Em 2008, Trieu sai em busca de Veidt para contar a ele a verdade sobre si e pedir uma singela ajuda financeira para completar o seu plano de roubar os poderes do Doutor Manhattan (Yahya Abdul-Mateen II) — que ela já havia descoberto a esta altura estar escondido em Europa, e não em Marte. Entende-se, neste momento, que ela vinha preparando todo o terreno para que pudesse absorver a consciência de Jon Osterman; ela e a Sétima Kavalaria, no fim das contas, tinham os mesmos planos.

    Esse caráter extremamente explanatório do episódio final desta temporada (e tudo indica que não haverá outra) é quase um contraponto levando em consideração o que aprendemos a esperar de Lindelof com Lost e, posteriormente, The Leftovers. Esta é a beleza da coisa toda: Watchmen vibra em outra frequência, é certamente um quebra-cabeças muitíssimo bem montado, no sentido de fazer com que cada episódio entregue uma peça a mais ao mesmo tempo em que se apresente como um ser completo. Não é como se estivéssemos assistindo a complementações a cada episódio, mas sim a um belo quadro revelando aos poucos qual é a figura central, seu objeto de estudo e de desejo.

    Neste sentido, o episódio final de Watchmen faz absolutamente tudo o que prometeu fazer, e um pouco mais: explicou como Ozymandias deixou Europa e voltou para a Terra, colocou Laurie (Jean Smart) frente a frente com seu ex-namorado, presenteou os fãs com um encontro dos Vigilantes com direito a Veidt chamando a Espectral  pelo seu sobrenome original (Juspeczyk) e a confirmação de que o mesmo ardiloso personagem de Jeremy Irons guardou o verdadeiro Archie, a nave de Dan Dreiberg, o Coruja. Looking Glass (Tim Blake Nelson) sobreviveu e muito bem, e ainda ajudou Adrian e Laurie a salvarem o mundo. Que missão!

    Enquanto Joe Keene Jr. (James Wolk) e Trieu passam boa parte do episódio tentando roubar os poderes do Doutor Manhattan — no meio do caminho, dando todas as explicações para o que gostariam de fazer com isso — o espectador é confrontado com a ideia da divindade, com os conceitos no entorno da religião e o que fazer com poderes tão extensos e inexplicáveis quanto os poderes de Jon Osterman. Quem pode dizer com absoluta certeza se Trieu ou Keene realmente fariam o que gostariam de fazer caso fossem o Doutor Manhattan? A própria percepção daquele filho de um relojoeiro mudou tanto depois do acidente que talvez seja impossível dizer com precisão se ele é a mesma pessoa ou não. Talvez ele pudesse ter feito mais coisas pela humanidade, como Will (Louis Gossett Jr.) argumenta com Angela (Regina King). Mas talvez não. Só porque ele é capaz de enxergar todas as cordas neste teatro de bonecos, não significa necessariamente que ele pode as controlar. 

    No fim das contas, esta iteração de Watchmen sai de cena como o investimento mais audacioso feito pela HBO em 2019. Estes nove episódios existiram em escala e proporções muito maiores que The Leftovers, com o público na ponta do sofá a cada domingo tentando entender não apenas que diabos estava acontecendo com Adrian Veidt, mas também por que exatamente aquele emaranhado confuso de informações dos três primeiros episódios era tão intrigante. Para o bem ou para o mal, as pontas estão quase todas fechadas, as informações estão entregues e, conhecendo Lindelof, ele não seria capaz de dar uma resposta para aquele final. Talvez nem ele saiba se Angela transformou-se em Manhattan ou se ela apenas se irritou e ficou bastante molhada. Lembra do Gato de Schrödinger? 

    A maior verdade é que a Watchmen criada por Damon Lindelof para 2019 conseguiu o que raríssimas adaptações, sequências ou reboots conseguem fazer efetivamente: tornar a história relevante. Ao transformar o Doutor Manhattan, o homem mais poderoso do universo, e o Justiça Encapuzada, o primeiro Vigilante, em homens negros no interior do estado do Oklahoma, a série está dizendo o que poucos realmente querem enxergar: a História é sempre contada pelo lado opressor, ainda que o oprimido tenha mais a dizer. Ao mesmo tempo, as conexões com a versão de Alan Moore e Dave Gibbons permanecem lá, cada vez mais claras. A participação de Veidt com suas lulas falsas neste capítulo final novamente de certo não é acidental. 

    Por isso, pela forma como todos os arcos se fecham perfeitamente e pela forma como as perguntas sem resposta devem ficar assim — o que vai acontecer com Adrian Veidt? E com Angela Abar? —, o final de Watchmen soa como uma espécie de elevação, e não como um gancho para uma temporada seguinte. Tanto em perspectiva de personagens quanto em desenvolvimento dos temas, a história está completa. Já foi contada, e desta forma sai de cena como uma séria candidata ao cargo de melhor adaptação de HQs já vista na televisão. É o que ganhamos com liberdade criativa.

    Confira as análises dos episódios anteriores:

    1x01: It's Summer and We're Running out of Ice

    1x02: Martial Feats and Comanche Horsemanship

    1x03: She Was Killed by Space Junk

    1x04: If You Don't Like My Story, Write Your Own

    1x05: Little Fear of Lightning

    1x06: This Extraordinary Being

    1x07: An Almost Religious Awe

    1x08: A God Walks Into a Bar

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