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    Exclusivo: Leandra Leal, Milhem Cortaz e Fernando Coimbra falam sobre o sombrio O Lobo Atrás da Porta

    A equipe comenta esta trama trágica, baseada em uma história real.

    Entrou em cartaz nos cinemas brasileiros esta semana o suspense O Lobo Atrás da Porta, dirigido por Fernando Coimbra. A história, inspirada pelo sombrio caso da Fera da Penha, traz o desaparecimento de uma criança, e três adultos envolvidos no caso. O filme tem causado uma ótima impressão em todos os festivais por que passou, e tem conquistado críticas excelentes da imprensa, inclusive da redação do AdoroCinema

    Além do ambiente tenso, as atuações de Leandra Leal, Milhem Cortaz e Fabiula Nascimento são excelentes. Nós conversamos em exclusividade com o diretor, Leal e Cortaz sobre o projeto. Confira o resultado deste bate-papo:

    Origem do projeto

    O diretor explica que a relação entre o roteiro e o caso real da Fera da Penha: "Foi uma notícia que eu li. Persegui um pouco desta história que me intrigava por causa da imprensa, que tratava de uma forma tão sensacionalista, e me parecia algo tão humano, tão próximo do comportamento humano. Poderia acontecer com qualquer um". Mas logo o cineasta decidiu criar uma ficção, em um roteiro que conta diversas versões da mesma história.

    Os atores entraram no projeto por caminhos diferentes. Leandra Leal foi convidada pelo cineasta: "O Fernando me mandou o roteiro, a gente se encontrou e quando eu li o roteiro, já fiquei enlouquecida. Achei o roteiro genial, muito bem amarrado, muito maduro. Os personagens são complexos, sem estereótipos".

    Já Milhem Cortaz se antecipou e pediu para participar, antes mesmo de conhecer a trama: "Fiquei sabendo do projeto e liguei para a Gullane. Já conhecia o Fernando há um tempo, quando o projeto ainda estava no começo. Mas eu já sabia que o Fernando ia fazer o filme. Eu conheço o Fernando desde a época do teatro... Só sabia que era um triângulo amoroso, era um filme que falava de amor. Independente de ser um filme trágico, eu entrei no projeto porque falava de amor".

    Uma história real

    O diretor explica que pretendeu tomar liberdades em relação aos fatos dos jornais, até porque este não foi um caso isolado: "Aconteceu algo muito parecido em Duque de Caxias. É o tipo de coisa que acontece com certa frequência. São várias histórias de crimes passionais. É simplesmente um ponto de partida, uma inspiração".

    Leandra Leal relembra o contexto da época: "A história da Fera da Penha é muito famosa no Rio, por causa da força da imprensa. Mas a gente não ficou preso nisso. O Fernando tinha se desvencilhado disso, ele criou uma história nova. A imprensa julgou muito na época, mas ele queria contar a história de três pessoas, que formam um triângulo e têm um final trágico. Essa história foi preenchida por outras coisas".

    Por ser uma obra de ficção, Milhem Cortaz preferiu se ater apenas ao roteiro: "Eu não fui atrás da história real. O roteiro geralmente é uma síntese da vida das pessoas, e já está bem construído. Eu, como ator, tenho que trazer o que não está escrito, o que está nas entrelinhas"

    Sem julgamento

    Para a equipe, era muito importante que o filme não tivesse mocinhos sem vilões. Segundo Fernando Coimbra, "Não está estabelecido para quem você vai torcer. Isso potencializou o lado thriller do filme, porque você nunca sabe como os personagens vão agir e reagir. A motivação era essa: trabalhar as camadas para que eles não fossem algo preto no branco".

    Os atores também sugerem que a falta de julgamento é o melhor caminho: "Não dá para julgar. São pessoas normais, que falham. Este é um grande charme: é um filme sem julgamento. Você pode ter uma opinião, mas ela não vai bater com a do outro. Não existe bem ou mal", diz Milhem Cortaz, com o apoio de Leandra Leal: "Isso foi a glória [não julgar os personagens]. Assim você pode colocar humanidade, mesmo nos atos mais inaceitáveis. Como atriz, isso é muito raro de acontecer, porque existe a tendência a estereotipar".

    Criando intimidade entre os atores

    Fernando Coimbra explica que não pensava em nenhum ator em especial para os personagens, mas justifica a suas escolhas: "Para a Rosa, eu precisava de uma atriz que fosse atraente, mas ao mesmo tempo talentosa e madura. Era preciso olhar para ela e dizer que existia muita coisa acontecendo por dentro. A Leandra era assim. O Milhem pode ser dedicado, por ser engraçado, e não é o típico galã. Ele tem mais atração sexual do que beleza, o que era fundamental. A Fabiula Nascimento eu escolhi porque queria uma mulher bonita, mas que fosse comum, e que tivesse tanto capacidade cômica quanto dramática".

    Já Leandra e Milhem ressaltam a boa dinâmica de trabalho entre os dois, que dividem uma porção de cenas brutais: "Tudo veio do roteiro, e dos ensaios, mesmo, criando complexidade e intimidade entre nós. A gente precisava construir", diz Milhem. Leandra elogia muito o companheiro de cena: "O Milhem é um ator que gosta muito do que faz. Ele é muito leve, gentil, descontraído".

    Suspense com toques de humor

    É interessante notar que, embora seja tenso e cruel, O Lobo Atrás da Porta tem uma porção de cenas de humor, principalmente envolvendo Juliano Cazarré e Thalita Carauta. A equipe comentou a mistura de gêneros: "A vida real é engraçada, é triste, é cruel... Por contar uma história tão pesada, eu queria que tivesse esse tom cômico. É uma história que se passa no subúrbio do Rio de Janeiro, onde as pessoas são brincalhonas, têm humor. Eu não tinha a preocupação de trazer um alívio cômico, isso veio naturalmente", afirma Coimbra. 

    Os atores acreditam que o sucesso do projeto depende dessa combinação: "A vida é perigosa, e a melhor maneira de mostrar isso é com humor. A vida tem uma leveza também. Ela é tão complexa que precisa ter humor, senão ninguém aguenta viver", diz Cortaz.

    Suspenses no cinema brasileiros

    A respeito do número baixo de suspenses entre as produções nacionais, Coimbra se mostra otimista quanto a uma mudança: "Existe uma tendência [no cinema brasileiro atual] a buscar filmes que flertam com outros gêneros, como thriller e terror. É algo com que a gente não estava tão acostumado. É uma geração que cresceu vendo filmes dessa forma, e agora o público tem que se acostumar com filmes que não são só comédias ou biografias. O cinema está crescendo, mudando, amadurecendo, e outras coisas estão surgindo. O público gosta de suspense americano, espero que passe a gostar de suspenses brasileiros".

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