Após sucesso de Longlegs, Oz Perkins surpreende com comédia de terror caótica adaptada de Stephen King
por Bruno Botelho dos Santos“Todo mundo morre. É a vida”. Essa é uma frase dita pela personagem interpretada pela Tatiana Maslany em O Macaco (2025), que se torna praticamente um mantra ao longo do filme de Osgood Perkins, mesmo diretor de Longlegs - Vínculo Mortal (2024). Mas, em vez de fazer uma meditação sobre a morte e sobre como o luto afeta as pessoas, Perkins está mais interessado em explorar o lado cômico e absurdo na tragédia inevitável, a partir de uma adaptação de Stephen King.
Em O Macaco, acompanhamos os gêmeos Bill e Hal (Theo James), que descobrem um antigo macaco de brinquedo no sótão de seu pai. A partir desse momento, uma série de mortes terríveis começa a acontecer com pessoas da sua família. Tentando se livrar do brinquedo e seguir em frente, os irmãos decidem descartá-lo e, com o tempo, distanciam-se desse passado sombrio. No entanto, o terror parece não os abandonar.
Se você é fã de terror, provavelmente já se deparou com alguma história de Stephen King. Clássicos como Carrie, a Estranha (1976), O Iluminado (1980), Cemitério Maldito (1989) e Um Sonho de Liberdade (1994) saíram de obras do autor. O Macaco é inspirado no conto presente na coletânea Tripulação de Esqueletos, de onde saiu também O Nevoeiro (2007), uma das melhores adaptações do King para as telonas.
O Macaco é o primeiro filme de Osgood Perkins após o enorme sucesso de Longlegs - Vínculo Mortal, um dos filmes de terror mais elogiados de 2024. O diretor é conhecido pelos seus filmes de terror atmosféricos, como A Enviada do Mal (2015), I Am The Pretty Thing That Lives In The House (2016), Maria e João: O Conto das Bruxas (2020) e o próprio Longlegs, mas espere por um lado completamente diferente dele neste seu novo trabalho. O sombrio dá espaço para uma surpreendente comédia de terror, propositalmente chocante e engraçada ao mesmo tempo.
O quão insana é uma história sobre um macaco de brinquedo que, quando toca seus tambores, escolhe alguma pessoa para matar aleatoriamente? Oz Perkins tem plena consciência disso e deixa de lado o tom mais sério presente no conto de Stephen King para aproveitar do humor no absurdo.
Desde que Bill e Hal encontram o macaco de brinquedo que pertencia ao seu pai, sua família começa a ser devastada pela tragédia. O roteiro do filme foca em como todos seus personagens não sabem lidar com a morte, mesmo ela sendo inevitável, partindo então para uma comédia escrachada de terror com uma sequência de cenas sangrentas e aleatórias.
O conto de Stephen King serve apenas como fio condutor para que o diretor possa apresentar as situações mais absurdas e inusitadas em O Macaco. O filme leva em conta toda a aleatoriedade e inevitabilidade da morte, então elas seguem pelo mesmo caminho na narrativa.
O Macaco aposta em cenas violentas e sangrentas, trabalhadas com excelentes efeitos práticos e digitais, que acontecem da forma mais mirabolante e insana possível. Em diversos momentos, lembram as sequências espalhafatosas e gráficas da franquia Premonição. O maior acerto está justamente na escolha do filme não ter nenhum compromisso com o realismo, aproveitando de momentos ridículos – e às vezes surrealistas.
Em tempos que os filmes de terror sobre trauma estão na moda, O Macaco chega como um contraponto muito bem-vindo para o gênero, sem nenhuma intenção de se levar a sério, muito pelo contrário. Oz Perkins mostra sua habilidade com a comédia mais ácida, que funciona principalmente como uma grande piada sobre a morte, assim como o terror trash dos filmes B.
A tradição de brinquedos assassinos no terror é longa, incluindo Chucky, Annabelle e, mais recentemente, M3GAN. O macaco que dá nome ao título do filme chega com personalidade para se tornar uma figura querida pelos fãs do gênero, com um visual que caminha entre o simpático e assustador – especialmente quando abre seu sorriso sinistro. O mais interessante é como ele representa, na trama, uma ameaça que não tem como ser contida: a morte.
Mesmo levando sua história para um lado mais brincalhão, O Macaco discute e reflete sobre a relação do ser humano com a mortalidade e o trauma, o que fica bem nítido na personalidade dos protagonistas Bill e Hal, que tiveram suas vidas definidas pela tragédia, enquanto outros personagens do filme lidam com isso de uma maneira um tanto inusitada e niilista, só que mais natural – o que acontece com sua mãe Lois (Tatiana Maslany).
“Todo mundo morre. É a vida”
O ator Theo James, conhecido pelo papel de Tobias Eaton na franquia Divergente e sua participação na 2ª temporada de The White Lotus, entrega o timing cômico necessário para carregar o texto de Oz Perkins, especialmente com situações socialmente desconfortáveis. Alguns dos momentos mais engraçados do filme estão na dinâmica entre Hal e seu filho Petey (Colin O'Brien), considerando que ele se tornou um pai ausente para protegê-lo do macaco.
A jornada dos protagonistas está justamente na aceitação de que a morte faz parte da vida e não existe uma saída. No caminho, o filme tem um ritmo irregular, caindo um pouco quando foca demais no melodrama dos personagens, funcionando melhor quando está totalmente envolvido no caos de sequências mortais equilibrando a comédia escrachada e o terror gráfico.
Se você gosta de comédias de terror, O Macaco é uma opção imperdível, explorando o humor ácido com uma variedade de cenas de mortes absurdas, gráficas e, acima de tudo, divertidas.
Osgood Perkins despontou como um dos nomes mais renomados do terror atual, especialmente pelo sucesso de Longlegs - Vínculo Mortal, então é realmente interessante vê-lo explorar um caminho diferente do terror na sua filmografia. O importante é não ir esperando por sequências realistas e lógicas, a graça de O Macaco está justamente neste caos sangrento e irônico que reflete a inevitabilidade da morte em nossa vida. Às vezes, o melhor jeito de lidar com a tragédia é rindo.