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    Perlimps
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Perlimps

    A união faz a força... e a arte

    por Katiúscia Vianna

    Muito se fala sobre como “Animação não é só coisa de criança”. E isso é verdade. Grandes animações falam sobre questões importantes e delicadas; até mesmo existem aquelas que realmente não são recomendadas para os pequenos. Mas a animação também pode ser para criança. Ou melhor, animação boa é animação para todo mundo. Depois do sucesso internacional de O Menino e o Mundo (que levou até indicação para o Oscar), o diretor Alê Abreu retorna com seu novo projeto: Perlimps.

    Qual é a história de Perlimps?

    A animação acompanha Claé (voz de Lorenzo Tarantelli) e Bruô (Giulia Benite), dois bichinhos que são agentes secretos de seus respectivos lares. O primeiro é uma raposa (ou, como ele diz, um lobo) do Reino do Sol. Já Bruô é uma mistura de diversos animais, sendo um urso com rabo de leão, do Reino da Lua. À primeira vista, eles são inimigos, mas terão que se unir numa mesma missão.

    Os verdadeiros inimigos são “os gigantes” que estão destruindo o Bosque Encantado com suas máquinas monstruosas. A única esperança são os Perlimps, criaturas misteriosas que contém a força necessária para lutar contra os vilões e trazer paz para a floresta. Surge então uma improvável amizade entre Claé e Bruô, que precisam descobrir se são realmente tão diferentes assim

    Além de Alê Abreu na direção, Perlimps conta com nomes poderosos em sua produção: Laís Bodanzky (produtora cheia de títulos e projetos, como o recente Como Nossos Pais) e Luiz Bolognesi (Uma História de Amor e Fúria, outra animação que mais pessoas deveriam ver), além de Ernesto Soto Canny completando o grupo. No elenco, também contamos com a participação especial de Stênio Garcia, que empresta sua voz para o divertido pássaro João de Barro

    Perlimps é um festival de cores

    Sempre digo que é mais difícil fazer a segunda temporada, ao invés da primeira temporada de uma série. Porque uma continuação exige a mesma ousadia e qualidade do início com pressões e dimensões ainda maiores. Muitos entendem que significa apenas “ser maior”, mas se o conteúdo vier vazio, o desastre é completo. Penso que o mesmo pode ser relacionado com o mundo do cinema. Tanto que são poucas as sequências melhores que longas originais. Mas isso também vale quando um artista faz um novo trabalho após um grande sucesso.

    O Menino e O Mundo se tornou um fenômeno mundial, sendo elogiado por Tim Burton, indicado ao Oscar e, até hoje, é citado como uma das maiores animações brasileiras. Logo, surge a pergunta: o que vem a seguir? Para Alê Abreu, esse novo passo é Perlimps - que tinha o título inicial de Viajantes do Bosque Encantado. E, apesar de ambos os filmes terem um mesmo sentimento por trás, são diferentes demais em suas execuções.

    Visualmente, temos lugar para uma explosão de cores e texturas, com diferentes formatos e seres formando uma floresta. É um projeto 2D, com toques de 3D, misturando ferramentas para compor a pluralidade do Bosque Encantado. Com o apoio de uma trilha sonora singular, essa dimensão de cores vai dando espaço para tons mais opacos e agressivos quando embarcamos no mundo dos “gigantes”, onde o minimalismo também volta em suas paisagens. É algo lindo de conferir, do tipo que merece rever várias vezes para absorver novos detalhes a cada vez.

    Perlimps traz mensagens importantes

    Algo importante é ressaltar que esse show de cores em formatos simplistas podem atrair os olhares dos espectadores pequenos. Afinal, até as vozes de Claé e Bruô são de jovens (por um motivo importante ao longo da história), então é fácil ver Perlimps se tornando queridinho das crianças. Mas isso não significa que a trama seja mais básica. Sua estrutura até pode ser um pouco, mas a mensagem não.

    Debaixo da simples rivalidade infantil entre os protagonistas está o perigoso conflito entre nações, onde brigas por diferenças de origens, ideologias e religiões fazem vítimas reais todos os dias. No momento em que esse filme está sendo lançado, a Europa se encontra em guerra, com a invasão da Ucrânia, por exemplo. Na trama de Perlimps, aparece um muro dividindo populações — seja para referenciar o Muro de Berlim ou até mesmo o muro infame que Donald Trump queria ao redor do México. Vemos notícias sobre como brigas bobas atingiram consequências trágicas rápido demais. Pessoas brigando por política, sem respeitar opiniões e causando uma sociedade cada vez mais dividida. Quando isso vai parar?

    Ao mesmo tempo que Perlimps usa a floresta como uma metáfora, também tem espaço para fazer uma crítica ambiental, sobre como “os gigantes” (sejamos sinceros, a essa altura do campeonato você já percebeu que estamos falando dos humanos, somos problemáticos) abusam da natureza, destruindo o planeta em que vivemos. Basta lembrar como um dos maiores desafios do Brasil é o reflorestamento da Amazônia, enquanto muitos ainda desmatam milhões de árvores.

    Vale a pena ver Perlimps nos cinemas?

    Animações são para todos e Perlimps surge para provar essa teoria. Seu visual colorido e chamativo, cheio de luzes, pode ser o que atrai a atenção dos pequenos. Mas é sua história comovente que vai despertar a paixão de todo o público. Algumas grandes reviravoltas surgem, literalmente, seguindo a frase “tem que desenhar pra explicar melhor”, só que ainda conseguem traduzir seu sentimento. Talvez não tenha o mesmo impacto surpreendente que O Menino e O Mundo, mas tem história de sobra para contar.

    Sinceramente, espero que quando alguém ler essa crítica, décadas depois do lançamento de Perlimps, estará num futuro onde as críticas sociais apresentadas nesse filme não passam de erros do passado. Onde deu tempo de salvar o planeta de um desastre ecológico, enquanto conflitos entre nações são desfeitos por empatia e comunicação. Não sou a pessoa mais otimista do mundo, mas esperança é a última que morre.

    Pelo menos, Perlimps pensa assim. No final das contas, é uma mensagem sobre como podemos criar uma nova geração que, infelizmente, herdará vários problemas, porém pode construir um mundo melhor mesmo assim. Mas a surpresa é que a situação também não está perdida para os mais velhos, pois, dentro de cada um, existe algo puro. Isso se chama humanidade.

    *O AdoroCinema assistiu ao filme no Festival do Rio 2022.

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