O diretor Yorgus Lanthimos foi certeiro na criação desta obra prima. Poucas vezes o cinema blockbuster foi tão inteligente e surpreendente como em Pobres Criaturas. Difícil de encaixá-lo nos diversos gêneros que atinge, pois poderia ser ficção científica, terror, comédia, drama, surrealismo. Através dos comentários, observa-se que o público está dividido entre os que amaram e os que odiaram, sem meio termo. Mas é muito fácil de explicar o porquê um filme que abraça tantos gêneros pode ser de extremos. Basta ler os comentários de quem odiou para concluir que eles simplesmente não entenderam, pois possivelmente é uma crítica feroz aos padrões exercidos por eles próprios. Quando criticam o filme pelas cenas de sexo, ou o abuso da personagem ainda mentalmente infantil, ignoram totalmente a razão destas cenas, se comportam exatamente como as Pobres Criaturas personagens. Quando ignoram o enredo da curva de aprendizado de Bella, não entendem as metáforas surreais e não identificam as convenções do mundo vitoriano ainda fortemente presentes nos dias atuais, apenas demonstram a superficialidade de suas capacidades interpretativas.
Emma Stone está arrasadora, não sobrou premiação para mais ninguém. Ruffalo é competente como o advogado safadão, e enlouquecido com a liberdade de sua amada, a quem pensava que controlaria.
A direção de arte, vencedora do Oscar, é um marco do cinema steampunk (gênero de filmes de época, nos quais as invenções tecnológicas de hoje estão presentes, mas com tecnologias antigas, por exemplo, um avião a vapor). Os figurinos, também merecedores de outro Oscar, complementam o roteiro, tão bem elaborados e encaixados com a transgressão de Bella.