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    X: A Marca da Morte
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    X: A Marca da Morte

    Profano X Sagrado

    por Rafael Felizardo

    Em fevereiro de 2016, o mundo cinematográfico conhecia A Bruxa, um terror psicológico com toque de drama que ajudou a recontar a história do gênero horror. Desde então, os milhares de olhos apaixonados pela sétima arte voltaram-se para a A24, produtora responsável pelo filme e nascida em 2012 com a proposta de assegurar – com sucesso – liberdade criativa para seus cineastas.

    Alguns anos depois, a santa trindade, HereditárioMidsommar e Saint Maud, chegaria ao catálogo do estúdio com os pés na porta, adicionando ainda mais capítulos de sucesso à sua narrativa e tornando possível uma obra que, para alguns, pode ser um dos mais sólidos títulos da companhia: X: A Marca da Morte.

    A subversão do gênero slasher

    Situado em 1979, X apresenta a história de um grupo de produtores de filmes pornográficos partindo para gravar sua mais nova obra. Decididos a rodar o maior pornô já feito, Maxine (Mia Goth), Wayne (Martin Henderson) e alguns amigos rumam para a zona rural do Texas, alugando a casa de Howard (Stephen Ure) e Pearl (Mia Goth de novo), um frágil casal de idosos que não tem conhecimento do que o grupo pretende filmar. Com as gravações iniciadas sem o conhecimento dos proprietários, passa a ser questão de tempo até Pearl e seu marido descobrirem a depravação que acontece em suas terras, recorrendo a atitudes drásticas para tentar conter esse mal.

    Um dos pontos altos da trama reside na naturalidade com que o filme subverte habituais conceitos do terror slasher. Se em clássicos do gênero temos o conhecido antagonista indestrutível – vide Michael Myers e Leatherface – no longa em questão, os vilões rompem com essa estrutura, entregando dois frágeis personagens – tanto em termos físicos quanto psicológicos – que buscam superar seus limites para assim alcançar seus propósitos. Através de uma contradição que define a raça humana, Howard e Pearl são iguais, mas diferentes: eles partem de um mesmo background repressivo, mas desenvolvem-se de maneiras opostas, buscando fins distintos de uma mesma forma.

    Dentro dessa perspectiva, podemos dizer que o longa apresenta um desfecho extremamente original para um slasher, surpreendendo pela forma com que a conclusão de seus antagonistas é apresentada: crua; sem rodeios. Em um gênero extremamente saturado, X consegue introduzir – e concluir – com louvor, o enredo, mostrando que mesmo em um período de “mais do mesmo”, ainda é possível apresentar uma variação sobre o mesmo tema.

    A dualidade em X

    Uma das principais bases para o slasher se dá na relação entre sexo e morte, há anos recorrente nos principais nomes do terror. Se assassinatos no chuveiro, figuras seminuas, jovens com os hormônios à flor da pele e tensão sexual ajudam a estruturar os títulos mais conhecidos, em X, não poderia ser diferente, com o mérito de ser apresentado de forma que o torna único.

    Reforçando a todo o tempo dicotomia Bem X Mal, a atriz Mia Goth empresta todo o seu talento para dar vida a dois dos ápices da trama: Maxine e Pear; protagonista e antagonista, em um embate que procura mostrar que rótulos, por vezes, se confundem, estando sujeitos a pontos de vista mutáveis. Some isso a outros personagens que se entregam à religião de maneiras particulares, somos apresentados a um roteiro que explora a tensão entre o profano e um suposto divino de forma característica, flertando com os inúmeros clichês existentes mas, ainda assim, com uma abordagem própria.

    O filme apresenta aspectos técnicos sólidos

    Para quem não o conhece, Ti West, diretor do longa, já assinou outros conhecidos nomes do terror, apresentando um currículo que mistura elementos de inovação ao apreço pelos clássicos. Em X, nomes famosos como Mia Goth, Jenna OrtegaBrittany Snow e Martin Henderson – esse, em uma atuação que lembra Matthew McConaughey – estruturam o elenco principal, entregando atuações que beiram, propositadamente, a conhecida canastrice de alguns filmes mais antigos. Na construção desse núcleo, a escolha pelo desenvolvimento de alguns poucos personagens contribui para que a obra não se alongue muito, mantendo o andamento ajustado das melhores produções do slasher e impedindo-a de se tornar cansativa.

    De maneira mais honrosa do que crítica, West faz de X um grande tributo aos estereótipos que rondam os títulos do tipo, apostando em inúmeras referências aos grandes clássicos – Massacre da Serra Elétrica (1974), Halloween (1978) e outros – e com uma pitada de acidez e voyeurismo que ajuda a dar o tom característico do filme.

    Com uma bela ambientação, a estética setentista ainda recria a atmosfera dos títulos desta mesma década, composto por um filtro vintage e um figurino que provavelmente não passará despercebido. Além disso, X é extremamente feliz em relação às mudanças no formato de tela, transitando primorosamente entre o fullscreen, widescreen e até o anamórfico. Ou seja, uma fotografia que compõe o já conhecido padrão de qualidade da A24.

    Não espere pela reinvenção da roda

    Assistindo ao filme, torna-se claro que, de maneira alguma, West procurou reinventar o slasher quando conceituou a proposta de seu longa-metragem. Pelo contrário. Como já abordado, o cineasta se inspirou em grandes clássicos de um dos subgêneros mais aclamados do cinema para entregar um conjunto extremamente bem amarrado e com uma latente identidade que não se acha em todo lugar.

    Com nomes bem conceituados do terror no currículo, se V/H/SThe Sacrament e Terra Violenta foram bem recebidos pela crítica, inegavelmente, é em X: A Marca da Morte que o cineasta encontra seu ponto mais alto na carreira, apresentando toda a brutalidade de um estilo de narrativa que sempre conversou bem com uma grande parcela dos espectadores.

    E para aqueles que se entusiasmaram mais com X, ainda vale colocar que, em breve, vem por aí outra produção deste mesmo universo, agora, uma prequela: Pearl.

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