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    Caminhos da Memória
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Caminhos da Memória

    Ambições incompletas

    por Kalel Adolfo

    Em Caminhos da Memória, a promissora Lisa Joy — roteirista de Westworld — constrói um universo noir futurista, repleto de referências indiretas a clássicos como Blade Runner e Chinatown. Mas apesar de suas inspirações serem grandiosas, o projeto nunca decola verdadeiramente. Todos os elementos para criar um blockbuster de qualidade estão ali: elenco de magnitude estelar, sets engenhosos e uma ideia provocativa. Contudo, a produção sempre se mantém como uma história de investigação regular.

    A trama distópica retrata uma Miami devastada pelo aquecimento global. Por conta das mudanças climáticas, o nível do oceano ultrapassou todos os limites e acabou deixando a cidade debaixo d'água. Com o caos político e social instaurado, os habitantes da região recorrem a um estabelecimento comandado por Nick Bannister (Hugh Jackman).

    Neste local, o investigador consegue enviar as pessoas para as suas memórias favoritas. Os objetivos são os mais variados, e vão desde encontrar a felicidade em antigas lembranças até solucionar crimes. Certa vez, Mae (Rebecca Ferguson) vai até a instalação para descobrir onde perdeu as chaves de casa.

    A visita — apesar de rápida e objetiva — é o suficiente para que ela se apaixone por Nick. Ambos carregam um relacionamento por meses, até o dia em que a moça desaparece misteriosamente. A partir daí, Bannister reúne todas as suas energias e habilidades para descobrir o que aconteceu com a sua amante.

    Reflexões provocativas perdem espaço para narrativas simplórias

    Assim que Mae desaparece, Nick cria um vínculo de dependência com o resgate de memórias. Todos os dias, ele revive as suas lembranças a fim de encontrar pistas do paradeiro da mulher. E apesar de compreensível, é justamente neste arco narrativo em que Caminhos da Memória começa a perder toda a sua autenticidade.

    O que se inicia como uma obra potencialmente profunda se transforma em uma trama de investigação simplória. Com tantos elementos na mesa, como a crise social, escândalos políticos de Miami e os prejuízos causados pelo excesso de nostalgia, é surpreendente que Lisa Joy não tenha desenvolvido nenhum destes temas com atenção.

    Ritmo arrastado faz a história dar infinitas voltas

    Durante o primeiro ato, é justificável que a cineasta tenha reservado um tempo para desenvolver não apenas os personagens, como também a atmosfera misteriosa do projeto. Toda essa ideia é executada com sucesso na introdução do filme. Além de simpatizarmos bastante com as performances vulneráveis de Hugh Jackman e Thandiwe Newton, a ambientação detalhista deste thriller distópico consegue cativar o espectador.

    Mas após o segundo ato, o clima de construção de narrativa permanece excessivamente. Há sempre a impressão de que a obra está caminhando para uma grande revelação ou mudança de ritmo, mas isso nunca acontece. O que temos é um looping de ideias que sempre giram em torno do mesmo assunto, sem oferecer novas perspectivas.

    Potencial escondido de Caminhos da Memória

    Há algumas sequências de combate que revelam o potencial escondido de Reminiscence. Porém, elas estão em pouca quantidade para dar o fôlego necessário para a trama. Não há problemas em optar por uma execução lenta. Porém, o segredo do slow burn é intensificar tanto a experiência, que quando estamos próximos a uma conclusão, já estamos completamente dominados pelo projeto. Aquela intensidade súbita e fatalmente imperceptível definitivamente fez falta no longa.

    De forma geral, Caminhos da Memória mira na distopia social, e acaba acertando em um suspense razoável com motivações rasas. Todo o desfecho se sustenta em atos heróicos irracionais, plot twists piegas e um arco de redenção previsível. E apesar de não ser um completo desastre, o resultado é decepcionante para os padrões de todos os envolvidos na obra. 

     

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