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    22 de Julho
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    22 de Julho

    Fundamentalismo em foco

    por Lucas Salgado

    O britânico Paul Greengrass é um dos cineastas de maior personalidade no mercado nos últimos tempos. Conhecido pelos trabalhos em A Supremacia BourneVôo United 93 e, mais recentemente, Capitão Phillips, ele sempre se destacou por dois fatores principais: o realismo de suas obras; e o domínio na condução de cenas de tensão.

    Com relação ao realismo, e isso fica claro em Voo United 93, uma coisa que ajuda muito o diretor é a opção por atores pouco conhecidos do grande público. E é o que acontece no novo 22 de Julho. As duas obras, por sinal, têm tudo para ser vendidas lado a lado em um box de DVD no futuro, uma vez que conversam bastante tematicamente.

    O novo filme conta a história do atentado de 22 de julho de 2011, na Noruega. O fundamentalista Anders Behring Breivik planejou dois ataques, que resultou na morte de 75 pessoas, muitas delas crianças. 

    Diferentemente de Voo, o novo longa usa o dia do atentado apenas como ponto de partida. Boa parte da trama se passa após os ataques, mostrando a repercussão dos mesmos nas vidas dos sobreviventes e do país, além de abordar o julgamento do terrorista.

    Como destacado acima, o realismo é elemento importante da obra. E aí nasce o principal problema do filme: o fato de ser falado em inglês. É verdade que isso nunca foi um problema em Hollywood e que já tivemos a oportunidade de ver as pessoas falando inglês por todas as partes do mundo. Mas em 2018, e com um cineasta que preza pela autenticidade, a opção pelo áudio acaba soando fake.

    Adaptação do livro "One of Us", de Åsne Seierstad, 22 July (no original) conta com ótimos trabalhos de direção de fotografia e, principalmente, montagem. Vencedor do Oscar por Argo, o montador William Goldenberg entrega um trabalho de ritmo envolvente. O filme começa de forma impactante e chocante, e mesmo mudando o tom, segue sempre intrigante.

    As atuações conseguem passar autenticidade, mas também não se destacam. E, é claro, são prejudicadas gravemente pela opção de manter as falas em inglês. O discurso do filme, no entanto, não se perde, propagando ideias de tolerância e sempre refletindo sobre tendências fundamentalistas ou radicais. 

    Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2018.

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    Comentários

    • Roberto Szabunia
      Concordo com quase tudo. Só acho que a parte do julgamento deveria ter mais destaque do que o esforço de recuperação de Viljar. O áudio em inglês é imperdoável.
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