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    Boyhood - Da Infância À Juventude
    Críticas AdoroCinema
    5,0
    Obra-prima
    Boyhood - Da Infância À Juventude

    A beleza do ordinário

    por Lucas Salgado

    12 anos. Foi o tempo que Richard Linklater passou rodando, em segredo, Boyhood - Da Infância à Juventude. Todo ano, ele reunia a equipe por alguns dias e filmava algumas cenas. O processo começou em 2002, com o filme ficando pronto em 2014. Só isso já seria o bastante para despertar a curiosidade do público, mas o longa é mais do que um projeto interessante, é algo único do ponto de vista cinematográfico.

    Responsável pela incrível trilogia Antes do Amanhecer e pelo divertidíssimo Escola de Rock, Linklater investe mais uma vez em um roteiro afinado, com cenas dramáticas e engraçadas, e com diálogos extraordinários. É incrível a coragem de investir em atores mirins sem a certeza de que 12 anos depois eles continuariam interessantes, mas o diretor foi recompensado, pois é justamente isso que acontece.

    O título original já diz tudo (e o nacional aproveita para ser redundante), trata-se de uma obra sobre a juventude de um garoto. Mason (Ellar Coltrane) é um filho de pais separados (Patricia Arquette e Ethan Hawke) que vive com a mãe e com a irmã (Lorelei Linklater, filha do diretor). Ele tem que lidar com a ausência do pai, com as idas e vindas das relações da mãe, com a mudança de cidades, ou seja, com a vida.

    Curiosamente, o longa encontra algumas semelhanças com Azul é a Cor Mais Quente. Se ali vemos uma adolescente se transformar em mulher (Adèle Exarchopoulos), aqui temos um garotinho que se transforma em jovem, com a diferença significativa de que este processo acontece não só narrativamente, mas também fisicamente.

    Se por um lado podemos culpar Linklater de ter guardado para si um promissor ator mirim, por outro temos que aproveitar o fato de estarmos diante de algo especial. Coltrane já cresceu, então aquele garotinho que vemos não será mais visto na tela dos cinemas. Apenas em Boyhood.

    Trata-se de um filme sobre a beleza do ordinário, nada é extraordinário (salvo o resultado final da obra). Temos um menino comum em situações comuns cercado por gente comum. É importante valorizar também a presença de Lorelei. Apesar de Mason ser o centro da história, a irmã Samantha também protagoniza cenas marcantes.

    Tudo é muito bem pensado, principalmente as passagens de tempo. São transições bem inseridas dentro de um roteiro inteligente e especial. A trama talvez peque um pouco ao criar situações repetitivas demais na vida amorosa da mãe, mas existe algo mais humano do que repetir erros na vida romântica?

    A direção de Linklater é primorosa. Ele opta por uma câmera quase que naturalista, sem tons quentes e admira seus personagens, em especial Mason. A trilha sonora também é um destaque a parte, com músicas que vão de "Yellow", do Coldplay, a "Band on the Run", de Paul McCartney, passando por Blink 182, Sheryl Crow, Daft Punk, Pharrell Williams, Foo Fighters, Wilco, Lady Gaga e muito mais. Você vai sair da sala procurando pela trilha sonora.

    Além das músicas, o longa conta com inúmeras referências à cultura pop na última década, como eleições, lançamentos de videogames e livros, como Harry Potter. Neste sentido, é curioso ver um filme nostálgico sobre o início dos anos 2000, ou seja, temos uma produção já inserida neste universo de internet e celulares, e que ainda assim se passa como saudosista.

    Naturalidade é a palavra chave no longa. E a beleza está justamente nas situações mais simples, como uma mãe orgulhosa do filho que está formando ou com uma família cantando em roda. Esta última cena, por sinal, consegue emocionar o espectador. Boyhood é mais que um filme. É uma experiência. Tem três horas de duração, mas se fossem seis não haveria o menor problema. Por sinal, fica a dica/pedido para o diretor: por favor, continue rodando a história de Mason pelos próximos 12, 24, 36 anos!

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    Comentários

    • Eduardo Mota
      Filme sensacional. Cinema como arte. Certamente monótono para quem tá acostumado com o mais do mesmo .
    • Eduardo Mota
      Parei no Agente. Putz, aí não colega.
    • Talita
      Assisti a primeira vez e achei muito cansativo e chato. E surgiu a oportunidade, digamos assim, de vê-lo novamente em outra perspectiva, pois tive que fazer uma analise psicológica dele para um trabalho da faculdade, e cara, como eu estava errada! Sabe quando alguém te fala Assistiu errado! assiste de novo? foi exatamente assim comigo. Consegui identificar tudo que estudei em psicologia do desenvolvimento, desde as fases de Piaget, aos desenvolvimentos psicossociais de Erick Erickson. As transformações tanto das crianças, quanto dos pais. As crises geradas em todas as fases da vida, junto com conflitos familiares. É um filme de uma sensibilidade enorme, com certeza.
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