Pedro Pascal lidera o filme charmoso que o Quarteto Fantástico sempre mereceu - com heróis carismáticos e ar fresco na Marvel
por Katiúscia ViannaEu confesso que vi a duologia do Quarteto Fantástico dos anos 2000 diversas vezes. É camp proposital? Não, mas tem seu charme. Tudo bem que eu tinha 12 anos quando o primeiro saiu, então não possuía conhecimento suficiente para entender que era um guilty pleasure, mas ainda aprecio o sentimento que tinha por aqueles personagens. Até que veio o Quarteto Fantástico de 2015 - que praticamente tira toda a graça da história e virou uma colcha de retalhos bizarra.
Logo, foi com precaução que entrei no cinema para conferir Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, a estreia oficial do grupo de heróis no Universo Cinematográfico Marvel. E graças a magia do multiverso - que sejamos sinceros, não tem sido agradável com o estúdio - veio com uma diferente da Terra conhecida pelos Vingadores. Os trailers promocionais já deixavam claro que o visual retrô-futurista do filme seria algo para apreciar, mas conseguiria a história ser um bom início para a Fase 6 da Marvel?
A origem é basicamente a mesma: após uma falha durante missão especial, quatro heróis surgiram ao terem seu DNA exposto a energias cósmicas. Desde então, usam seus poderes para proteger a sua Terra. O líder Reed Richards (Pedro Pascal) pode esticar o seu corpo, sua esposa Sue Storm (Vanessa Kirby) fica invisível e cria campos de força, seu cunhado Johnny Storm (Joseph Quinn) controla o fogo, e seu melhor amigo Ben Grimm (Ebon Moss-Bachrach) teve sua aparência física modificada para uma espécie de rocha, ganhando super-força.
Quatro anos após o acidente, o Quarteto Fantástico é amado pela humanidade, sendo idolatrado como astros de Hollywood. Mesmo assim, eles ainda têm problemas humanos e a história do grupo vai mudar completamente após dois acontecimentos: Sue e Reed vão ter um filho; e a perigosa Surfista Prateada (Julia Garner) anuncia o fim daquele planeta com a iminente chegada de Galactus (Ralph Ineson), o devorador de mundos.
Quando eu penso em “um conflito de filme que será combatido pela força da família”, já me dá um gatilho como se o Vin Diesel estivesse saindo de um bueiro para falar da “família” de Velozes e Furiosos. Porém, mais clichê que pareça, a grande força do Quarteto Fantástico é realmente o relacionamento entre Reed, Sue, Johnny e Ben. Para começar, é um belíssimo trabalho da diretora de elenco Sarah Finn ao escolher esses atores. Todos carismáticos, bem entrosados e com seus momentos de brilhar.
O roteiro - escrito a oito mãos por Josh Friedman, Eric Pearson, Jeff Kaplan e Ian Springer - possui seus defeitos e clichês do gênero. Porém, ele faz uma escolha ousada: a base desta família não é somente o “poder do amor”, mas também a coragem diante do medo. Desde a revelação que Sue está grávida, Reed faz de tudo para manter, não somente sua casa protegida, como também o seu planeta Terra. Mas, obviamente, tudo vai fugir do controle, pois você não pode controlar como será o destino de seu filho, ainda mais se for um bebê com potenciais poderes, como o pequeno Franklin.
O pavor de ter um devorador de mundos gigante chegando é similar - em outra escala, é claro - ao medo da incerteza do futuro de um filho. Da incerteza de errar como pai. E das complicações de balancear suas responsabilidades como herói. Vistos como ídolos, eles cometem erros e carregam o peso da responsabilidade. Principalmente para alguém como Reed, que não sabe expressar seus sentimentos além de equações matemáticas e planos estratégicos. Se você é uma das fãs que ama Pedro Pascal incitando nossos “daddy issues”, esse será um prato cheio!
Brincadeiras à parte, é a vulnerabilidade das atuações de Pedro Pascal e Vanessa Kirby (cuja personagem também tem medos, mas não demonstra da mesma forma, pois tem muita segurança no poder da união) que deixa essa história tão honesta. É um dilema ético com dimensões literalmente espaciais, mas capaz de emocionar qualquer um. Se Pedro Pascal é daddy, Vanessa Kirby é MOTHER - como diz a internet. Sério, o MCU precisa aprender a valorizar suas personagens femininas mais vezes, pois Sue arrasa nesse filme.
E o dilema do casal também se relaciona com as decisões de Johnny e Ben, afinal eles realmente formam uma família. Seja carregando um bebê literal ou metaforicamente, o Tocha Humana quer provar o seu valor, enquanto O Coisa quer mostrar que é mais que… uma Coisa. Mesmo diante de um visual pesado, o astro de The Bear passa amor e humanidade através do personagem, enquanto a revelação de Stranger Things demonstra novamente que tem carisma de sobra. Porém, é preciso constatar que suas histórias não aprofundadas o suficiente.
Dentre uma aleatória participação que desperdiça os talentos de Natasha Lyonne até uns momentos cômicos de Paul Walter Hauser, quem tem mais chance de brilhar entre os coadjuvantes é Julia Garner. A vencedora do Emmy por Ozark cria uma figura perigosa, mas que esconde compaixão por aqueles condenados por Galactus. É uma jornada que já vimos em Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado de 2007? Sim, mas um pouco melhor. Enquanto Ralph Ineson é ameaçador, mas acaba caindo naquele clichê de “Olha esse monstrão gigante que vai destruir Nova York, corram, blá blá blá.”
Por fim, se alguns podem achar a história de família de heróis meio clichê (ou simplesmente preferem rever Os Incríveis, o que eu não julgaria), o visual retrô-futurista é um charme de ar fresco no MCU. O diretor, Matt Shakman, já tinha brincado com esse estilo no início de WandaVision (também conhecida como uma das melhores coisas já feitas pela Marvel), então é curioso ver o clima anos 60 misturado com uma vibe Os Jetsons - que permitem coisas iradas como o carro voador do Quarteto ou HERBIE, o qual deve ser protegido a todos custos. Que dróide fofo a lá Star Wars!
E por conta disso, é realmente um uso interessante do multiverso, mesmo com alguns efeitos especiais meio fracos. Adicione a isso uma trilha impactante de Michael Giacchino e só vejo vantagens em Quarteto Fantástico: Primeiros Passos. Liderando um filme carismático; Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn e Ebon Moss-Bachrach nos deliciam com uma história que pode parecer simples, porém debate questões sobre ética, amor e humanidade. Se você ainda tem espaço no seu coração para abraçar alguns clichês, esses personagens têm o potencial de se tornarem grandes ídolos do Universo Cinematográfico Marvel.