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    Descendentes
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Descendentes

    Ser ou não ser...

    por Francisco Russo

    Ao longo de décadas a Disney construiu uma imagem fortemente ligada ao mundo da fantasia, graças principalmente às suas animações de sucesso. Por mais que, com o tempo, o estúdio tenha diversificado suas produções, de Piratas do Caribe aos filmes da Marvel e agora da saga Star Wars, pode-se dizer que sua essência no imaginário coletivo ainda seja aquele mundo encantado repleto de seres mágicos e princesas. Diante de tal retrospecto, chega a ser natural que esta vertente seja explorada das mais variadas formas. É o que acontece com Descendentes, filme produzido pelo braço televisivo da empresa centrado nos filhos dos vilões clássicos.

    Por ser uma produção para a TV, é claro que não há o mesmo requinte técnico de um Malévola ou do novo Cinderela. O orçamento menor fica nítido especialmente na roupa usada por Malévola (Kristin Chenoweth, caprichando nas risadas malvadas), se comparada com a vestimenta de Angelina Jolie. Ainda assim, é construído um universo convincente que se baseia em algumas ideias muito bem definidas: se os habitantes de Auradon – leia-se os mocinhos – vestem sempre roupas comportadas e neutras, cabe aos filhotes da Ilha dos Perdidos – os malvados – “ousadias” como cabelos coloridos, jaquetas modernosas, cores fortes e homem com cabelo comprido. Da mesma forma, os auradonenses (esta palavra existe?) são educados e disciplinados, enquanto que os visitantes são bem mais descolados. Trata-se de um mundo preto e branco, onde o cinza inexiste.

    Esta inevitável mescla é justamente um dos motes do longa-metragem, trazendo uma oportuna mensagem de tolerância. Ainda na seara das boas intenções, chama a atenção o gesto íntegro do príncipe Ben (Mitchell Hope, protótipo de Zac Efron) ao abrir as portas do colégio de Auradon aos filhos dos inimigos do reino. “Eles não são culpados pelos atos de seus pais”, defende. Por mais que haja uma boa dose de ingenuidade – este é um filme Disney, não se esqueça -, ainda assim é louvável ver uma mensagem deste tipo em uma era onde a generalização depreciativa é empregada de forma tão feroz.

    Deixando o lado conceitual a parte, Descendentes investe forte em duas temáticas: a nostalgia das animações clássicas da Disney e a influência do teatro musical. Não é a toa que a direção coube a Kenny Ortega, responsável pela trilogia High School Musical: são vários os números musicais presentes no filme, alguns remetendo ao estilo Broadway de ser e outros buscando uma linguagem mais pop, de olho no público jovem. Mesmo sem ter qualquer canção marcante, as sequências de dança divertem pelo ritmo e pela coreografia bem executada, ajudando também na narrativa.

    Já as referências aos filmes estão por toda parte. Se por um lado há uma certa habilidade no roteiro ao colocar os filhos dos vilões com características relacionadas ao pais, como a vaidade da filha da Rainha Má, por outro existe uma insistente apresentação dos jovens personagens de forma a relacioná-los com os parentes. Desta forma, excetuando-se os protagonistas, é mais fácil saber que determinado personagem é o filho de alguém do que seu nome de fato. Assim acontece com praticamente todos que surgem em cena, de forma a associá-los a histórias conhecidas mesmo que isto prejudique a espontaneidade do momento.

    Honesto e bem desenvolvido em sua proposta, Descendentes é um filme que entretém. Do elenco jovem o principal destaque é Dove Cameron, intérprete de Mal, que é a personagem que passa pelos maiores questionamentos entre se manter fiel aos ideais pregados pela mãe malvada ou se render aquele estilo de vida onde o amor é possível e todos, de alguma forma, são amigos. Por mais que a resposta seja óbvia – este é um filme Disney, não se esqueça -, o desenrolar até o desfecho é bem conduzido. Destaque negativo para o mal aproveitamento do personagem Carlos (Cameron Boyce) na trama (ele poderia até mesmo ser excluído do filme, tamanha sua pouca importância), bem como a forma capenga com a qual Cruela DeVil (Wendy Raquel Robinson) e Jafar (Maz Jobrani) são retratados. Ambos mereciam mais, pelo tanto que representam no universo Disney.

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