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    A Pele de Vênus
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    A Pele de Vênus

    Jogo de cena

    por Lucas Salgado

    Numa Paris chuvosa, o espectador adentra um teatro vazio para se deparar com uma figura solitária, que parece terminar de se arrumar para deixar o lugar. Eis que chega uma mulher atrasada para um teste, que insiste para o profissional deixá-la encenar o texto preparado. Este é o ponto de partida de A Pele de Vênus.

    Após flertar com um cinema mais teatral com Deus da CarnificinaRoman Polanski decide abraçar os palcos de vez nesta nova obra. O longa é uma espécie de teatro comentado. Uma ode ao ator e sua força em cena. E uma valorização importante da figura da mulher, muitas vezes retratada de forma pejorativa pelos olhos de escritores homens.

    Esposa de Polanski, Emmanuelle Seigner entrega a melhor atuação de sua carreira. Ela vive Vanda, uma atriz louca para conseguir um papel na nova adaptação para os palcos do escritor Thomas (Mathieu Amalric), que também faz sua estreia na direção. Inicialmente, Thomas não está nada disposto a deixar Vanda fazer seu teste, mas acaba convencido. Na sequência, acaba jogado para dentro da história e passa encenar a trama ao seu lado.

    Ela é inconveniente, instável e sedutora. Ele é clássico e inseguro em vários sentidos. Ambos adentram em um jogo de cena em que características de ator e personagem irão se misturar.

    Polanski demonstra um completo domínio de cena ao colocar os atores interpretando o texto no palco e construindo momentos subsequentes em que saem de forma abrupta da peça para realizar comentários sobre o texto, o cenário e até suas vidas pessoas. Tudo muito envolvente e inteligente. 

    O elenco reduzido torna o jogo de cena ainda mais impactante. O espectador acaba fazendo parte de tudo aquilo. E isso está claro diante da opção do diretor em colocar uma câmera em primeira pessoa entrando no teatro no início do filme e saindo do mesmo ao final.

    Baseado em peça de David Ives, que por sua vez é inspirada em romance de Leopold von Sacher-Masoch, o longa é um extraordinário exercício narrativo. A montagem de Hervé de Luze e Margot Meynier é eficiente, enquanto que o design de produção é básico como deveria ser, afinal estamos falando de um palco de um velho teatro de Paris. Quem merece destaque é Alexandre Desplat, que desenvolveu uma belíssima trilha sonora instrumental.

    É cinema de primeira. Mas também é teatro. Resumindo, estamos diante de uma obra de arte.

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