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    O Dublê
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    O Dublê

    Longe de ser apenas um Ken, Ryan Gosling (e seus dublês) estrelam ação que deixaria John Wick orgulhoso

    por Aline Pereira

    Se ainda restava alguma dúvida de que Ryan Gosling nunca foi “apenas Ken”, O Dublê vem para reforçar mais uma vez – pouquíssimo tempo após o furacão Barbie –, as múltiplas habilidades de superestrela do ator. Do tino cômico afinado à dedicação física e uma presença carismática difícil de resistir, Gosling se une a um bom elenco em história que é pastelão na comédia, mas tem padrão de superprodução na ação.

    Com uma homenagem verdadeiramente dedicada ao trabalho nem sempre reconhecido dos dublês de produções cinematográficas, vale começarmos a falar sobre o filme listando alguns dos créditos anteriores do diretor porque eles indicam muito do que foi feito aqui. Estamos falando de David Leitch, que também é coordenador de dublês e comandou títulos como Trem-Bala, Deadpool 2, Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw, além de estar creditado como co-diretor do primeiro filme de John Wick. Deu para sentir o que quero dizer? O cineasta certamente trouxe muito de suas experiências anteriores para O Dublê e aqui a matemática é simples: quem gostou das outras produções dele, também deve gostar do filme de Ryan Gosling.

    Baseado na série Duro na Queda, lançada em 1981, o filme de 2024 acompanha a história de Colt Seavers (Gosling), que trabalha como dublê de um grande astro do cinema, Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson). A história começa quando Colt sofre um acidente grave durante uma filmagem e decide se aposentar da carreira, cortando completamente o contato com todos que conhecia – incluindo, em especial, a operadora de câmera Jody (Emily Blunt), com quem havia vivido um romance e por quem continuou sendo profundamente apaixonado.

    Quando finalmente decide retornar ao trabalho para reencontrar Jody, que realizou o antigo sonho de se tornar diretora de cinema, o protagonista acaba se envolvendo em uma grande conspiração que envolve o desaparecimento repentino de Tom Ryder, uma tragédia misteriosa e um mundo implacável de aparências e da grana alta movimentada pela indústria cinematográfica. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

    Universal Studios

    Bastidores de Hollywood são um parque de diversão para o público

    Ao mergulhar no trabalho “invisível” dos dublês, o filme nos leva a um passeio divertidíssimo pelos bastidores de Hollywood. Enquanto a personagem de Emily Blunt se desdobra para comandar um blockbuster de ação espacial, O Dublê deixa clara sua mensagem de que a verdadeira magia acontece atrás das câmeras. São ótimas as cenas em que o filme nos mostra os equipamentos, figurinos, drones, trailers, câmeras usadas para gravar as cenas – para quem não está muito familiarizado com esse lado da produção, os trechos de “como se faz” certamente são pontos de curiosidade interessantes.

    Com Ryan Gosling na liderança, é fácil se interessar pelo universo dos dublês, especialmente quando o longa nos mostra a relação entre eles e os “atores principais” para quem trabalham. O momento em que Tom Ryder, uma grande estrela de ação, diz que fica enjoado ao dirigir é só uma das boas ironias que o longa faz com a própria indústria do cinema – acidez esta que fica ainda mais divertida graças à escolha dos personagens centrais. Além da dinâmica entre o ator e seu dublê, o filme explora um outro lado do trabalho da direção e da produção.

    Não só Ryan Gosling: Elenco com atriz de Ted Lasso também tem destaque O Dublê

    A saudade de Ted Lasso pode ter falado alto aqui, tudo bem, mas se Ryan Gosling brilha como protagonista, Hannah Waddingham, a maravilhosa Rebecca da série, é a coadjuvante ideal para impulsioná-lo. No papel de uma produtora determinada a garantir o sucesso de seu astro, a atriz torna cativante a personalidade difícil, para dizer o mínimo, da figura que, assim como os artistas no set, tem um papel bastante específico na execução do filme.

    Universal Studios

    Também marcando seu lugar como uma estrela de comédia para continuarmos acompanhando, Stephanie Hsu aparece como a assistente pessoal de Tom Ryder. Um ano depois do surpreendentemente divertido Loucas em Apuros, a estrela de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo acompanha Hannah Waddingham e Aaron Taylor-Johnson no humor sarcástico e menos certinho.

    Com personalidades tão marcantes em cena - ainda vale o destaque ao excelente Winston Duke -, é Emily Blunt quem sai "perdendo", se é que podemos colocar assim. Não é bem que a atriz de O Diabo Veste Prada e Oppenheimer não tenha seu próprio destaque, mas a sensação é de que a personagem tinha mais potencial para marcar seu papel como uma nova cineasta aflita e jogada aos leões (o estúdio, leia-se) que está lidando com a iminência de um fracasso que pode ser colossal e decisivo em sua carreira.

    Emily Blunt faz um bom trabalho como co-protagonista, mas é fácil imaginar muitas outras atrizes com perfis parecidos (como a própria Margot Robbie, só para trazer uma memória mais próxima) representando a personagem exatamente da mesma forma. É diferente de Ryan Gosling, cuja identidade particular deixa clara a sensação de um papel que poderia ter sido feito daquele jeito por ele – e que, com isso, cria uma dose extra de simpatia por parte do público. É um ponto subjetivo, mas que faz diferença na força de uma história que se propõe a ser tão “cool” e despachada.

    Universal Studios

    Vale a pena assistir: Filme mata a cobra e mostra o dublê

    Não faltam exemplos de filmes que falam sobre o próprio cinema, mas se o gênero “carta-de-amor-ao-cinema” (com todo o perdão pela expressão batida e piegas, eu sei) é uma presença certa e constante em forma de dramas densos e quase sempre melancólicos, a abordagem desta mesma paixão pelo ofício em uma comédia de ação torna O Dublê uma atração mais do que sólida, autêntica e bem-sucedida no tipo de entretenimento que oferece.

    Vale destacar que, para não ficar só na teoria do quanto é importante o papel dos dublês, o filme dedica tempo para mostrar e desfilar, na prática, o talento impressionante dos profissionais de seu próprio time. Faz todo sentido, é claro.

    As muitas (são muitas mesmo!) cenas de ação ancoradas em coreografias aparentemente complexas e bem elaboradas nos detalhes colocam os dublês de Ryan Gosling (e o próprio ator) para trabalhar intensamente e exibir um vasto arsenal de habilidades: dos combates corpo a corpo propriamente ditos, às quedas livres, perseguições em veículos, manuseio de arma e todo tipo de quebra-quebra para alimentar fãs de filmes do gênero. John Wick ficaria orgulhoso da pancadaria e Deadpool, das gracinhas.

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